Erradicação

África Ocidental deixa para trás pior epidemia de ebola da história

Ingrid
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Publicado em 14/01/2016 às 17:06
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A epidemia foi declarada em dezembro de 2013 no sul da Guiné e depois se propagou rapidamente para a Libéria e Serra Leoa, os três países mais afetados, depois de atingir em menor escala a Nigéria e o Mali. / Foto: AFP

A epidemia foi declarada em dezembro de 2013 no sul da Guiné e depois se propagou rapidamente para a Libéria e Serra Leoa, os três países mais afetados, depois de atingir em menor escala a Nigéria e o Mali. Foto: AFP

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou oficialmente nesta quinta-feira (14) o fim da epidemia de ebola na África Ocidental, ao declarar a Libéria, o último país afetado, livre da doença, que matou mais de 11.000 pessoas em dois anos.

A epidemia foi declarada em dezembro de 2013 no sul da Guiné e depois se propagou rapidamente para a Libéria e Serra Leoa, os três países mais afetados, depois de atingir em menor escala a Nigéria e o Mali.

Em dois anos afetou 10 países, incluindo Espanha e Estados Unidos, e, oficialmente, provocou a morte de 11.315 dos 28.637 contagiados. Este balanço de vítimas é superior ao de todas as epidemias de ebola acumuladas desde a identificação do vírus no centro da África em 1976. 

Após Serra Leoa em 7 de novembro e Guiné, em 29 de dezembro, a Libéria foi declarada nesta quinta-feira livre do vírus, ao passar 42 dias desde que os últimos casos de ebola deram negativo no país. "Hoje, a Organização Mundial da Saúde declara o fim da epidemia de Ebola na Libéria e afirma que todas as cadeias conhecidas de transmissão na África Ocidental cessaram", anunciou a OMS.

Mas o risco de contágio persiste em alguns fluidos corporais dos sobreviventes, como o esperma, onde o vírus pode permanecer por até nove meses. A Libéria já havia sido declarada livre do ebola em maio de 2015 e em setembro, antes de registrar novos casos isolados. 

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, avisou nesta quarta-feira de que se preveem novos focos da doença "nos próximos anos", embora seu alcance e a frequência "deve diminuir com o tempo".  "Devemos seguir comprometidos", disse em Genebra Peter Graaff, responsável pelo combate ao ebola na OMS.  

"Esta doença não pode voltar a nos destruir como fez", garantiu o responsável da célula liberiana de crise anti-ebola, Francis Karteh. "Nossos médicos e cuidadores não conheciam [a doença], por isso tivemos muitos mortos entre eles" (192 dos 378 contaminados). 

"Estamos felizes, mas continuamos vigilantes e continuamos tomando as medidas preventivas necessárias", declarou o secretário-executivo do ministério da Saúde liberiano, Tolbert Nyensuah.

 

'QUEIMEM TODOS' - Nos piores momentos da epidemia, os países mais afetados temeram o colapso. "Alguns dias recolhíamos mais de 40 ou 50 corpos", lembra na Libéria Naomi Tegbeh, sobrevivente que se encarregava dos cadáveres mais contagiosos. 

O centro anti-ebola da ONG Médicos Sem Fronteiras em Monróvia teve que duplicar sua capacidade de acolhida, mas no ápice da epidemia se viu obrigado a recusar pacientes por falta de lugar.  

A doença transformou o modo de vida dos países afetados, cujos habitantes foram obrigados a evitar qualquer contato físico entre eles e com os mortos. A proibição foi muito resistida por parte da população, apegada aos ritos funerários que implicam em lavar o corpo dos mortos.

"Já não temos medo do ebola como da primeira vez", lembra um comerciante de Monróvia, Aminata Kanneh, de 32 anos. "O anúncio de hoje é uma alegria, mas não justifica nenhuma celebração porque ainda podemos sofrer outras crises", explicou. 

Em outubro de 2014, o governo da Libéria teve que emitir a drástica ordem de incinerar todos os cadáveres, independentemente da causa da morte: "Queimem todos". 

Os serviços de saúde, sobrecarregados pela catástrofe, multiplicaram as medidas de exceção - como decretar a quarentena em regiões inteiras. Em alguns lugares a população se rebelou violentamente contra medidas de prevenção mal explicadas e decisões percebidas como autoritárias.

As manifestações mais violentas foram registradas na Guiné, país onde existe uma grande desconfiança entre o poder e a população, e culminaram com a morte em setembro de 2014 de uma equipe de sensibilização em Womey, no sul, epicentro original da epidemia.

A ONG Médicos Sem Fronteiras pediu que lições sejam tiradas da crise sanitária. A mobilização "não somente se viu limitada pela falta de meios internacionais, mas também pela falta de vontade política para enviar ajuda rapidamente", destacou a presidente do MSF, Joanne Liu, em comunicado. 

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