Terrorismo

Hollande prepara contra-ataque após atentados do Estado Islâmico

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 16/11/2015 às 20:52
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Hollande defendeu medidas de exceção "contra o terrorismo de guerra" após os sangrentos atentados / Foto: AFP

Hollande defendeu medidas de exceção "contra o terrorismo de guerra" após os sangrentos atentados Foto: AFP

O presidente François Hollande defendeu nesta segunda-feira (16) medidas de exceção "contra o terrorismo de guerra" após os sangrentos atentados jihadistas em Paris, e anunciou a intensificação dos ataques aéreos contra o grupo Estado Islâmico na Síria.

Em discurso para legisladores reunidos excepcionalmente no Congresso em Versalhes, oeste de Paris, Hollande pediu uma prorrogação por 30 dias do estado de emergência vigente desde sábado (14) e uma reforma constitucional que permita à França enfrentar as novas ameaças internas.

Além do estado de emergência, que permite batidas policiais a qualquer hora, Hollande pediu medidas adicionais para retirar a nacionalidade francesa de pessoas com dupla cidadania  condenadas por "atos de terrorismo", mesmo que tenham nascido na França.

O presidente também defendeu medidas de expulsão sumária de estrangeiros que representem ameaça e para impedir que pessoas com dupla nacionalidade suspeitas de terrorismo regressem à França.

O porta-aviões "Charles de Gaulle" zarpará nesta quinta-feira para o Mediterrâneo oriental, o que triplicará a capacidade bélica da França na região. "Não haverá trégua", advertiu Hollande.

Dois dias após os atentados, aviões franceses lançaram no domingo 20 bombas contra Raqa, no norte da Síria e capital do "Califado" do Estado Islâmico (EI), grupo que reivindicou os atentados. O ataque destruiu um campo de treinamento e depósitos de armas, segundo as autoridades francesas.

O Pentágono anunciou que a coalizão que combate o EI, liderada por Estados Unidos e da qual participa a França, destruiu 116 caminhões-tanques do EI, também conhecido por Daesh.

Na frente diplomática, Hollande disse que convocará uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para adotar uma resolução que manifeste a "vontade comum de lutar contra o terrorismo".

O líder francês acrescentou que nos próximos dias se encontrará com os presidentes de Estados Unidos e Rússia, Barack Obama e Vladimir Putin, para planejar uma estratégia e formar uma "grande e única coalizão" contra o Estado Islâmico.

O secretário americano de Estado, John Kerry, chegou na noite desta segunda-feira a Paris, onde na terça será recebido por Hollande para "reafirmar o compromisso dos Estados Unidos com sua forte relação com a França".

"Na Síria, buscamos incansavelmente uma solução política (...) mas nosso inimigo é o Daesh", organização que "já não se trata de conter, e sim de destruir", disse Hollande, que foi  aplaudido de pé pelos legisladores, que cantaram a Marselhesa.

Batidas na França e na Bélgica

Segundo Hollande, os atentados - que deixaram 129 mortos e 350 feridos - "foram decididos e planejados na Síria, preparados e organizados na Bélgica e perpetrados em nosso solo com cúmplices franceses".

A maioria dos autores tinha nacionalidade francesa e prepararam sua ação letal a partir da Bélgica.

Ao meio-dia, a França fez um minuto de silêncio para lembrar as vítimas dos ataques, a maioria jovens que assistiam a um show de rock no Le Bataclan. Numerosas cidades acompanharam a iniciativa.

A França segue reforçando seu dispositivo de segurança, com a mobilização de mais 3 mil militares, em todo território nacional, somando 10 mil soldados.

"Sabemos que há planos, que se preparam não apenas contra a França, mas também contra outros países europeus", advertiu nesta segunda-feira o primeiro-ministro, Manuel Valls, que pediu "prudência e vigilância" à população.

As forças da ordem detiveram 23 pessoas, colocaram outras 104 sob prisão domiciliar e apreenderam 31 armas de fogo, sendo quatro "de guerra", anunciou o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve.

Simultaneamente, a polícia belga lançou uma operação no bairro popular de Molenbeeck, em Bruxelas, considerado bastião do jihadismo e onde supostamente foram planejados os atentados.

A operação, que procurava especialmente Salah Abdeslam, irmão de Brahim Abdeslam, um dos suicidas dos ataques a Paris, foi concluída sem detenções.

Volta à normalidade

A promotoria francesa anunciou nesta segunda-feira que as autoridades já identificaram cinco dos sete suicidas que participaram dos ataques em Paris.

Um dos suicidas, Bilal Hadfi, era francês, e outro tinha um passaporte sírio cuja autenticidade está sendo verificada. O que se sabe é que ele entrou na União Europeia em outubro pela Grécia, junto com milhares de refugiados sírios.

O passaporte foi encontrado junto a seu corpo, nas imediações do Stade de France, onde detonou um cinturão de explosivos quando era disputado um amistoso entre França e Alemanha, para 80 mil espectadores. O documento está em nome de Ahmad Al Mohammad, nascido em 1990 na localidade síria de Idlib.

Omar Ismail Mostefai e Samy Amimour, que se explodiram no Bataclan, ao que parece estiveram na Síria.

Os atentados reabriram o debate sobre a recente chegada de milhares de refugiados à Europa procedentes de países em guerra, como a Síria.

Na França, a líder de extrema direita Marine Le Pen pediu o "fim imediato de toda acolhida a  imigrantes".

Nesta segunda-feira, os parisienses tentavam recobrar a normalidade, apesar do trauma dos atentados.

Os colégios retomaram as aulas e a Torre Eiffel, museus, teatros e outros estabelecimentos culturais reabriram suas portas nesta segunda-feira, após permanecerem fechados no final de semana.

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