Separação política

Presidentes da China e de Taiwan celebram encontro histórico

Isabelle Figueirôa
Isabelle Figueirôa
Publicado em 07/11/2015 às 10:43
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Os dois governantes sorriram diante dos jornalistas em um hotel de Cingapura, antes da reunião a portas fechadas / Imagem dos presidentes da China, Xi Jinping, e de Taiwan, Ma Ying-jeou. Foto: Rosalan Rahman/ AFP

Os dois governantes sorriram diante dos jornalistas em um hotel de Cingapura, antes da reunião a portas fechadas Imagem dos presidentes da China, Xi Jinping, e de Taiwan, Ma Ying-jeou. Foto: Rosalan Rahman/ AFP

Os presidentes da China, Xi Jinping, e de Taiwan, Ma Ying-jeou, apertaram as mãos neste sábado, no início de uma reunião histórica em Cingapura, a primeira entre as duas partes desde a separação política há 66 anos.

Os dois governantes sorriram diante dos jornalistas em um hotel de Cingapura, antes da reunião a portas fechadas.

"Nenhuma força pode nos separar", afirmou Xi Jinping a Ma Ying-jeou.

"Somos uma família", completou.

"O povo chinês dos dois lados do estreito tem a capacidade e a sabedoria de resolver os próprios problemas", completou Xi.

Por sua vez, o taiwanês pediu respeito mútuo depois de décadas de hostilidades e rivalidade.

"Apesar de ser um primeiro encontro, nos sentimos como se fôssemos velhos amigos. Agora temos diante dos nossos olhos os frutos da reconciliação, ao invés da confrontação", destacou Ma.

O encontro, em local neutro, é o primeiro entre governantes dos regimes rivais desde o fim da guerra civil e a fundação da República Popular da China, comunista, em 1949, quando os nacionalistas do partido Kuomintang (KMT) se refugiaram em Taiwan.

A ilha teve um papel importante durante Guerra Fria como um posto avançado do dispositivo ocidental, especialmente dos Estados Unidos, país que continua disposto a defender Taiwan de qualquer agressão chinesa.

Após décadas de desconfiança, as duas margens do estreito de Taiwan permanecem fortemente militarizadas, mas desde a chegada de Ma ao poder, o clima político registrou uma melhora.

A reunião é "um avanço histórico que pode criar novos espaços para as relações" entre o continente e Taiwan, afirmou neste sábado em um editorial o jornal chinês Global Times, ligado ao governo de Pequim.

Mas a reunião acontece em um ambiente de desconfiança. Protestos foram registrados no aeroporto de Taipé antes da viagem do presidente Ma Ying-jeou. Os manifestantes queimaram fotos dos dois governantes, ao mesmo tempo que chamaram Xi Jinping de "ditador chinês" e Ma de "traidor".

Na sexta-feira à noite, manifestantes que exibiam cartazes com o lema "Independência de Taiwan" tentaram invadir o Parlamento de Taipé.

Xi e Ma devem manter a prudência durante o encontro, por conta das divergências políticas.

A China considera Taiwan parte de seu território que deve ser reunificado, inclusive pela força se necessário.

Taiwan estabeleceu uma identidade própria desde a proclamação da República Popular da China.

 "SENHOR" E NÃO "PRESIDENTE" - Para evitar problemas de protocolo, os dois chefes de Estado não utilizarão a palavra "presidente" para dirigir-se ao outro, optando apenas por "senhor".

Ma antecipou durante a semana que nenhum acordo seria assinado e também descartou uma declaração conjunta. O presidente taiwanês tenta reduzir a tensão na dividida sociedade de seu país a respeito da atitude a adotar ante a crescente influência de Pequim.

De acordo com analistas, Taiwan pode tentar aproveitar o encontro para ganhar influência no cenário internacional.

A ilha perdeu sua cadeira na ONU em 1971 em benefício da China e apenas 22 pequenos países a reconhecem formalmente, em boa parte latino-americanos e do Caribe, o que provoca um importante ressentimento entre os taiwaneses.

A oposição taiwanesa acusa o presidente de querer aproveitar a reunião para favorecer o seu partido, KMT, que está mal nas pesquisas para as eleições presidenciais de janeiro.

De acordo com os analistas, a China teria aceitado o encontro, depois de recusar a proposta por algum tempo, para ajudar o Kuomintang ante a oposição, que tem um discurso mais independentista.

O encontro também é interpretado como uma tentativa de Pequim de parecer conciliador e desviar a atenção do clima de tensão provocado por seu expansionismo no Mar da China Meridional, onde disputa com vários vizinhos a soberania de várias ilhas.

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