Rússia

Namorada de opositor russo assassinado é liberada e deixa Moscou

Júlio Cirne
Júlio Cirne
Publicado em 02/03/2015 às 21:16
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Nemstov foi assassinado na madrugada de sábado na capital russa, Moscou / Foto: Pravda/??????.??

Nemstov foi assassinado na madrugada de sábado na capital russa, Moscou Foto: Pravda/??????.??

A modelo ucraniana Ganna Duritska, namorada de Boris Nemtsov e que testemunhou o assassinato deste opositor russo, foi liberada para deixar a Rússia e voltar para casa, em Kiev, anunciou um porta-voz do ministério ucraniano das Relações Exteriores na noite desta segunda-feira (2).

"Ganna Douritska acaba de partir rumo a Kiev. Diplomatas ucranianos em Moscou deram toda a assistência necessária para que ela pudesse voltar para casa", relatou, em sua conta no Twitter, o porta-voz Yevhen Perebyinis.

Testemunha do crime, ocorrido na noite de sexta-feira quando ela e Nemtsov, 55, caminhavam em uma ponte perto do Kremlin, na capital russa, a modelo de 23 anos denunciou mais cedo que estava retida na Rússia.

"Os investigadores me interrogam e não me dizem quando serei liberada nem por que estou retida. Dizem que é por razões de segurança", declarou Ganna Duritska à emissora opositora russa Dojd.

Ganna namorava Nemtsov há dois anos e meio.

"Não sei quem fez isso (...), não sei como o assassino se aproximou, ele estava atrás de mim", declarou a jovem à emissora, dizendo-se muito abalada e querendo voltar para casa, na Ucrânia.

"Tenho o direito de sair da Rússia, não sou suspeita e já dei todas as informações que podia", insistiu.

A mãe de Ganna, Inna Duritska, chegou a dizer que temia pela segurança da filha, apelando às autoridades ucranianas.

"Estou com medo de que a acusem de assassinato simplesmente porque eles precisam de uma pista ucraniana", explicou à AFP.

Poucas informações vazaram até este momento sobre os trabalhos do comitê de investigação sobre o crime, que alegou "não ter vocação para revelar em tempo real todos os avanços", segundo seu porta-voz, Vladimir Markine.

O funeral de Boris Nemtsov está marcado para terça-feira e deve contar com a presença de embaixadores dos países europeus e líderes estrangeiros, entre eles o chefe da diplomacia lituana, Linas Linkevicius, e o prefeito de Riga, a capital da Letônia, Nils Usakovs.

Mas nesta segunda-feira, a eurodeputada da Letônia Sandra Kalniete declarou ter sido impedida de desembarcar no aeroporto internacional de Moscou para assistir ao funeral de Nemtsov.

"Depois de duas horas de espera, fui informada que o direito de entrada na Rússia foi negado com base no artigo 27 de seu código penal. Ninguém quis me explicar o que diz esse artigo".

O presidente do Senado polonês, Bogdan Borusewicz, declarou por sua vez que as autoridades russas não autorizaram sua presença no funeral, em resposta às sanções europeias a Moscou, segundo a diplomacia polonesa.

Uma cerimônia de adeus está prevista para 07H00 GMT (4H00 de Brasília) desta terça-feira, no Centro Sakharov em Moscou, seguida de uma missa ortodoxa, indicou Konstantin Merzlikine, colaborador de Boris Nemtsov.

 
Imagens de câmeras de segurança - Os investigadores russos declararam não descartar nenhuma pista: crime político ou até mesmo a tese islâmica, em razão de seu apoio ao jornal satírico francês Charlie Hebdo, ou ainda de um assassinato ligado ao conflito ucraniano e cometido por "elementos radicais".

A investigação está a cargo do general Igor Krasnov, conhecido por ter trabalhado nos meios nacionalistas e radicais, em particular no contexto das investigações sobre a tentativa de assassinato, em 2005, de Anatoly Chubais, líder de um grupo público e ex-colega de Boris Nemtsov no governo russo na década de 1990, e do assassinato do advogado Stanislav Markelov e da jornalista Anastasia Baburova, em 2009.

Os companheiros de luta política de Boris Nemtsov foram surpreendidos que este crime, "cuidadosamente planejado", de acordo com os investigadores, muito próximo ao Kremlin.

"É quase impossível que Boris Nemtsov não estivesse sendo vigiado" pelos serviços de segurança, dada a aproximação da manifestação da oposição marcada para domingo, considerou o principal opositor ao Kremlin, Alexei Navalny.

Condenado no final de fevereiro a 15 dias de prisão por distribuir panfletos "ilegais" no metrô de Moscou, o opositor não foi autorizado pelo tribunal russo a assistir ao funeral de Nemtsov na terça.

Os analistas também destacam a existência de muitas câmeras de segurança na área em o opositor foi morto, por onde também circulam muitos agentes à paisana.

Imagens de má qualidade transmitidas sábado à noite no canal russo TVC e gravadas por uma câmera de longo alcance com vista para a ponte onde o opositor foi baleado mostravam o que foi apresentado como o desdobramento do assassinato.

No momento do crime, Nemtsov e sua companheira estão escondidos do ângulo da câmera por uma máquina de remoção de neve. É possível ver uma pessoa, o suposto assassino, correndo em direção à rua para entrar em um carro de cor clara.

A manifestação da oposição prevista para domingo acabou se transformando em uma marcha em memória a Boris Nemtsov, na qual se reuniram em Moscou dezenas de milhares de pessoas.

A passeata terminou na ponte onde Boris foi morto, com a calçada coberta de flores, velas e mensagens.

Cinquenta pessoas foram presas depois da marcha por violação da ordem pública.

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