Estados Unidos

Cúpula contra 'jihadistas' termina sem ações concretas

Júlio Cirne
Júlio Cirne
Publicado em 20/02/2015 às 7:50
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'Estamos aqui hoje, porque estamos unidos contra o aumento do extremismo violento e contra o terrorismo', disse Obama na cúpula Foto: Reprodução

Em três dias de discussões de alto nível, em Washington, encerradas nesta quinta-feira (19), os Estados Unidos angariaram o apoio e o compromisso de vários países no combate ao "terrorismo" jihadista, mas sem adotar passos concretos sobre o tema. O presidente Barack Obama e seu secretário de Estado, John Kerry, encerraram essa cúpula mundial "contra o extremismo violento" na presença de representantes de 60 países, entre eles o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e os ministros do Interior francês e britânico, Bernard Cazeneuve e Theresa May, respectivamente.

A reunião vinha sendo preparada há meses, mas ganhou especial relevância após os recentes atentados em Paris e em Copenhague e em meio à campanha internacional contra o grupo Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria. "Estamos aqui hoje, porque estamos unidos contra o aumento do extremismo violento e contra o terrorismo", disse Obama na cúpula. Os países devem se manter "firmes em sua luta contra as organizações terroristas", frisou Obama, prometendo trabalhar com países instáveis, como Iêmen e Somália, para ajudá-los a "evitar que haja espaços ingovernáveis, onde os terroristas possam encontrar refúgios seguros".

O presidente apresentou algumas prioridades para neutralizar as "ideologias distorcidas" de grupos como o EI. Entre elas, Obama afirmou que os governos devem aprofundar a cooperação contra combatentes estrangeiros, procurar acabar com tensões e conflitos sectários, e acabar com o financiamento a grupos fomentadores do ódio. Problemas econômicos e políticos também devem ser atacados, completou, para permitir o crescimento e o desenvolvimento.

Em uma declaração divulgada ao final do encontro, os participantes prometeram "traçar o caminho para o progresso". A intenção é apresentar propostas para serem discutidas nas reuniões que acontecem em paralelo à Assembleia-Geral da ONU, em setembro. Condenando a recente onda de ataques, a declaração "ressaltou" o compromisso de lutar contra grupos extremistas e destacou a necessidade de apoiar líderes religiosos e comunitários locais.

"Vamos deixar [o encontro] com um compromisso renovado de construir um mundo livre de terrorismo e de ideologias de violência", conclamou a conselheira de Segurança Nacional dos EUA, Susan Rice, no encerramento da cúpula. "Conter o extremismo violento é um desafio difícil, mas não é intransponível", insistiu. O presidente Obama advertiu que essa luta "não é uma questão de ser judeu, cristão, ou muçulmano: todos estamos no mesmo barco e devemos nos ajudar uns aos outros para sair dessa crise".

No encontro, Obama defendeu ainda que "a noção de que o Ocidente está em guerra contra o Islã é uma mentira horrível, e todos nós, sem importar nossa fé, temos a responsabilidade de repudiá-la". O presidente americano e outros membros de seu governo se cercaram de cuidados para falar de "radicalismo islâmico". Essa precaução no vocabulário foi reprovada por seus opositores do Partido Republicano.

O senador republicano John McCain, considerado um "falcão" em política externa, postou um tuíte logo depois das palavras de Obama: "a noção de que o Islã radical não está em guerra com o Ocidente é uma mentira feia". O presidente da Comissão de Segurança Interna da Câmara de Representantes, o republicano Michael McCaul, tachou o evento de "cúpula sem substância".

"Em vez de um plano concreto para repelir e derrotar grupos terroristas islâmicos, tivemos uma retórica vazia do presidente e o anúncio de 'novas' iniciativas que são, na verdade, uma reformulação de antigos programas", alfinetou McCaul.

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