Nisman pediu à Justiça a abertura de inquérito para ouvir depoimentos da presidenta, do chanceler e de alguns aliados políticos do governo Foto: ABr
Nisman apresentou relatório de 300 páginas, com informações obtidas por meio de escutas telefônicas. Ele pediu à Justiça a abertura de inquérito para ouvir depoimentos da presidenta, do chanceler e de alguns aliados políticos do governo. “É uma decisão disparatada, absurda, ilógica, irracional e ridícula, que viola os artigos 75 e 99 da Constituição, sobre as atribuições do Poder Legislativo e do Poder Executivo”, reagiu nesta quinta-feira (15) o chefe de gabinete da presidenta, Jorge Capitanich.
O atentado ocoreu em 1994, quando um carro-bomba explodiu na porta da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), destruindo o prédio, no centro de Buenos Aires, e matando 85 pessoas. Dois anos antes, um atentado contra a Embaixada de Israel deixou saldo de 29 mortos e centenas de feridos. Até hoje, nenhum dos dois ataques terroristas foi esclarecido. A Argentina é o país que reúne a maior comunidade judaica da América Latina.
O ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) foi quem decidiu retomar as investigações do atentado à Amia, criando uma procuradoria especial e colocando Nisman à frente do caso. Segundo o promotor, as pistas encontradas indicam que o ataque teria sido planejado pelo governo iraniano da época e executado pelo grupo xiita Hezbollah, com ajuda local.
Mas as investigações não puderam prosseguir, porque a Justiça argentina não podia interrogar os suspeitos. A pedido de Nisman, a Interpol pediu a captura de seis cidadãos iranianos, entre eles altos funcionários do país, e um libanês.
Todos os anos, a presidenta Cristina Kirchner, viúva e sucessora de Nestor Kirchner, ao participar da Assembleia Geral das Nações Unidas, lembrava o atentado terrorista e criticavs a falta de colaboração do governo iraniano nas investigações. Em 2012, a situação mudou, com a abertura de diálogo com o Irã.
O resultado das negociações foi um memorando de entendimento entre os dois países para criar uma comissão da verdade e investigar o caso. O acordo também permite que representantes da Justiça argentina viajem ao Irã para ouvir o depoimento dos suspeitos, sempre e quando eles aceitem falar.
Aprovado pelo Congresso argentino e ainda não ratificado pelo Parlamento iraniano, na Argentina, o acordo foi duramente criticado por associações judaicas e parentes das vítimas do atentado. O governo defendeu o memorando, afirmando que era a única oportunidade para destravar as investigações.
Nisman acusa a presidenta Cristina Kirchner de estar negociando com o Irã uma fórmula para inocentar os culpados e encontrar um bode expiatório. O motivo, segundo ele, seria comercial. A Argentina quer trocar seus grãos por petróleo iraniano.
Como prova, o promotor diz ter escutas telefônicas de conversas de agentes da Side (a agência de inteligência argentina). Já Jorge Capitanich acusou o promotor de fazer parte de uma consipiração de grupos do Poder Judicial, da mídia e de agentes da Side removidos do cargo para “desestabilizar o governo”.