Terrorismo

Começa o processo por atentados na Maratona de Boston

Renata Dorta
Renata Dorta
Publicado em 05/01/2015 às 17:32
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Suspeito se apresentou na Corte Estadual John Joseph Moakley, em Boston.  / Foto: Brigitte Dusseu / AFP

Suspeito se apresentou na Corte Estadual John Joseph Moakley, em Boston. Foto: Brigitte Dusseu / AFP



O julgamento contra o único suspeito do atentado em Boston começou nesta segunda-feira (5) com a seleção dos membros do júri, 20 meses depois do ataque com duas bombas que transformou a maratona anual da cidade em um trágico cenário.

Vestindo camisa, pulôver escuro e calças claras, Djokhar Tsarnaev, um muçulmano de origem chechena, agora com 21 anos, se apresentou ao tribunal federal de Boston (Massachusetts, nordeste dos Estados Unidos), diante do primeiro grupo de 100 a 250 jurados em potencial. O juiz George O'Toole explicou, entre outras coisas, que se forem selecionados, deverão decidir se Tsarnaev deve ser condenado à prisão perpétua ou à pena de morte pelo mais grave atentado em território americano após os de 11 de setembro de 2001.

O'Toole também disse ao primeiro grupo de convocados que "o que precisam é estar comprometidos com justiça" e "um júri autêntico, honesto e imparcial", e determinou que não falem com ninguém sobre o caso, não leiam jornais ou entrem em redes sociais.

O ataque deixou três mortos, entre eles um menino, e 264 feridos quando, no dia 15 de abril de 2013, duas bombas artesanais explodiram com 12 segundos de diferença em meio a uma multidão perto da linha de chegada da maratona, reavivando o medo de terrorismo nos Estados Unidos.

O processo, que durará ao menos três meses, trará lembranças dolorosas. Algumas vítimas, como Liz Norden, cujos dois filhos perderam uma perna, prometeram estar presentes para tentar compreender o ocorrido. Outras, como Heather Abbott, de 40 anos, que também foi amputada, hesitaram até o fim.

Algumas inclusive se negam a ver Tsarnaev, de silhueta frágil e cabelo rebelde, estudante aparentemente bem integrado no momento do crime. Tsarnaev chegou à região de Boston com oito anos com sua família. Obteve a cidadania americana em 2012.

Será a única pessoa sentada no banco dos réus. Seu irmão mais velho, Tamerlan, de 26 anos e quem a defesa tentará apresentar como o cérebro dos atentados, aparentemente preparados apenas pelos dois irmãos, foi morto quatro dias depois durante um confronto com a polícia.

Depois de uma perseguição realizada por milhares de policiais, Djokhar Tsarnaev foi detido poucas horas após a morte de seu irmão quando se escondia em um barco nos subúrbios de Boston. Estava gravemente ferido.

 Djokhar Tsarnaev é o único suspeito de ter explodido as bombas na Maratona de Boston, em 2013.

Djokhar Tsarnaev é o único suspeito de ter explodido as bombas na Maratona de Boston, em 2013. Foto: AFP

MIL E DUZENTOS POTENCIAIS JURADOS -
A seleção dos membros do júri durará ao menos duas semanas: 1.200 pessoas foram convocadas ao tribunal.

Um primeiro grupo de 200 a 250 pessoas deve responder na manhã desta segunda-feira a um questionário combinado com uma série de recomendações. Depois, será convocado um segundo grupo. Outros se apresentarão ainda na terça e quarta-feira.

Posteriormente, o processo será suspenso até o fim de semana para que a defesa e a acusação estudem estes questionários. Depois terá início o processo de descarte, até que as partes entrem em acordo com 12 jurados e seis suplentes.

Serão estes membros do júri que, caso o acusado seja considerado culpado, decidirão em uma segunda fase do processo se ele deve ser condenado à morte.

Detido em isolamento quase total na prisão hospital de Fort Devens, a 70 km de Boston, Tsarnaev só fez duas breves aparições após os atentados.

A primeira, ainda ferido, em julho de 2013 foi para se declarar inocente das 30 acusações que pesam contra ele, entre elas a de usar uma arma de destruição em massa com resultado de morte e de atentar em um espaço público; e a segunda em 18 de dezembro em uma breve audiência antes do processo.

Segundo a acusação, os dois irmãos Tsarnaev teriam agido sozinhos - lobos solitários radicalizados - e aprendido a fabricar explosivos pela internet a partir de uma publicação da Al-Qaeda.

Djokhar havia escrito em uma parede interna do barco a explicação para seus atos. "O governo americano mata nossos civis inocentes. (...) Nós, muçulmanos, somos um só corpo, se fazem mal a um de nós, fazem mal a todos (...). Parem de matar nossos inocentes e nós pararemos".

Este processo federal é um dos mais importantes desde o realizado contra Timothy McVeigh, executado em 2001 pelos atentados de Oklahoma City em 1995.

Tsarnaev será defendido por uma equipe de cinco advogados, entre eles Judy Clarke, especialista em casos que envolvem a possibilidade da pena de morte.

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