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Peres e Abbas no Vaticano, uma oração pela paz sobretudo simbólica

NE10
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Publicado em 07/06/2014 às 18:40
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A oração pela paz que unirá no domingo (8) no Vaticano o presidente israelense, Shimon Peres, e o palestino, Mahmud Abbas, será apolítica, como deseja o papa Francisco, cuja recente viagem à Terra Santa não foi aprovada por todos em Israel.

Será realizada em plena crise no processo de paz e em um clima de desconfiança entre Israel e os palestinos, envolvidos em um conflito interminável sem solução à vista.

O último episódio de atrito entre as duas partes foi vivido nesta semana, com a reativação maciça da colonização por parte de Israel em represália pela formação de um governo de unidade palestino.

Para o Papa, esta iniciativa sem precedentes constitui um exercício de equilibrismo após sua viagem no fim de maio ao Oriente Médio que, segundo os analistas, foi confiscada pela política.

"Este encontro de oração não será para realizar uma mediação ou para buscar soluções. Nos reuniremos para rezar, apenas. Depois cada um voltará para sua casa", insistiu o Papa ao retornar da Terra Santa.

Ele mesmo reconheceu que seria uma loucura de sua parte fazer propostas de paz.

Para o chefe da Igreja católica, trata-se de mostrar que as três religiões monoteístas têm raízes comuns e devem trabalhar juntas pela paz.

O presidente israelense, acompanhado por rabinos e imãs, e seu colega palestino viajarão separadamente a Roma.

Peres "ressaltará especialmente a importância do diálogo interreligioso", declarou seu gabinete, que ressalta que a oração irá ocorrer em "um jardim desprovido de símbolos religiosos que não é um local de oração para garantir que esteja em conformidade com a tradição judaica". O Grande Rabinato de Israel proíbe os judeus de entrar em uma igreja.

Antes de sua viagem, o prêmio Nobel da Paz consultou o grande rabino sefardita Yitzhak Yosef. Também recebeu o aval do governo, embora segundo o jornal Maariv o gabinete de Benjamin Netanyahu estivesse dividido sobre a conveniência desta visita.

SÓCIO PARA A PAZ - Segundo o gabinete de Peres, será feito "um apelo comum para a paz aos povos de todo o mundo".

Peres e Abbas se conhecem há tempos e lavraram uma reputação de moderados que lhes valeu a aversão dos extremistas.

Shimon Peres costuma classificar Abbas de "sócio para a paz", uma visão que mortifica o primeiro-ministro Netanyahu.

O presidente da Autoridade Palestina não tem impedimentos para se reunir com Peres, cujo mandato termina em julho, apesar da tensão política.

"Nos comprometemos com isso, a pedido do Papa. Não há nada de novo que vá mudar essa promessa", disse o ministro das Relações Exteriores palestino, Riyad al-Malki.

Embora alguns palestinos lamentem que Francisco não tenha condenado a colonização durante sua viagem, Abbas considera que sua visita foi histórica.

"O Papa viu com seus próprios olhos a ocupação e o muro na Palestina", declarou à AFP o negociador Saeb Erakat.

Ninguém duvida que a principal imagem da peregrinação papal tenha sido a oração silenciosa em frente ao muro de separação em Belém (Cisjordânia). Algo que provocou polêmica entre a direita israelense.

Os judeus ultraortodoxos também não apreciaram a eucaristia "impia" celebrada pelo papa no Cenáculo, um local que cristaliza as tensões religiosas na cidade santa.

A imprensa também ressaltou as divergências entre Netanyahu e seu anfitrião sobre a língua que Cristo falava. "Jesus falava hebraico", disse o primeiro-ministro. "Aramaico", corrigiu o Papa.

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