RELIGIÃO

Albânia: biquínis e hijabs convivem na praia de Spille

NE10
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Publicado em 12/08/2011 às 18:38
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Na praia de Spille, a sudoeste de Tirana, a jovem de biquíni observa, a alguns metros, a mãe de família muçulmana tradicional, coberta pelo hijab, dentro d'água, junto aos filhos.

Reflexo de um país em plena mutação, dividido entre suas aspirações europeias e o peso das tradições, a praia de Spille é a única da Albânia na qual muçulmanos fundamentalistas ficam perto de jovens quase nuas, na sua opinião.

Dois mundos se observam, estranhos um ao outro.

"Alguns acham que mostrar as nádegas é um sinal de civilização e manifestação de liberdade. Para essas pessoas, proteger seu corpo dos olhares é uma expressão de subdesenvolvimento", indigna-se Selim, que vem regularmente com a família a esta praia pública, situada a menos de cem quilômetros da capital, Tirana.

"O Islã não proíbe a mulher de se banhar, desde que se cubra de maneira decente, para se proteger dos olhares e agradar, apenas, a Deus", acrescenta Fátima, que sai da água, com a dobras de seu hijab colando ao corpo.

Selim e seus amigos, geralmente numerosos, tentam se isolar numa parte de Spille, uma praia ainda virgem, mas sem infraestrutura. O local é chamado de "praia das burcas" pelos moradores.

"Criar um gueto" para os muçulmanos piedosos

Mas os biquínis de jovens audaciosas estão sempre presentes.

"No Islã é proibido, mesmo para os homens, contemplar outras mulheres", declara Ermir Gjinishi, um jovem professor de teologia.

A solução para ele, é "criar um gueto" para os muçulmanos piedosos com "praias para as mulheres fiéis, separadas dos homens".

"Os que têm dinheiro vão à Turquia ou a outros locais. Mas aqui, não há nenhuma infraestrutura para os crentes", lamenta Hassan.

Atrás dos biquínis, aparece, também o maiô de duas peças, que faz furor na Albânia, um país que passou por numerosas mudanças desde a queda do regime comunista, no início dos anos 90. Este impôs ao país décadas de isolamento total do resto do mundo.

Mas não se pode tirar a parte de cima do biquíni na Albânia, explica o policial Ilir Mosko, de Durres: "Mesmo sem regras escritas a respeito, é proibido".

Turistas estrangeiros se arriscaram no ano passado, numa praia albanesa, mas a polícia interveio, após ter recebido queixas das famílias.

A maioria dos albaneses são muçulmanos ligados à seita dos bectachis, reputados por seu liberalismo. As mulheres podem ficar com a cabeça descoberta e o consumo de álcool é comum.

"Nada tenho a esconder, nem de Deus, nem do sol"

As jovens vestidas com maiô de duas peças não prestam atenção às silhuetas negras que se aventuram nas ondas.

"Uma mulher de hijab ou burca saindo da água é tão 'sexy' quanto uma outra de biquíni", considera Ariana, uma estudante de psicologia vinda a Spille com o namorado.

"Nada tenho a esconder, nem de Deus, nem do sol", acrescenta a jovem loura, ajeitando as alças do maiô.

Ariana, como suas amigas, não olha sequer para as vizinhas pudicas.

"Hijab, burca, biquíni, o pudor é uma questão muito pessoal, comenta Arta. O importante é que cada um seja livre para escolher e aceitar o outro sem complexos".

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