Estimativa da CBTU Recife é de que 56% dos 400 mil passageiros diários do metrô sejam mulheres Foto: André Nery/JC Imagem
O vagão rosa está em período experimental e funciona exclusivamente para mulheres apenas nos horários do pico da manhã e da noite"Quando o vagão rosa foi lançado levantei a pergunta no meu Facebook se este serviço garantia a segurança das mulheres e problematizei se mulheres trans e travestis poderiam ter acesso. Uma pessoa respondeu que um representante do metrô garantiu que nós poderíamos usar o vagão normalmente, mas não é o que acontece na prática", comentou Fabiana Oliveira, integrante do Amotrans-PE.
Foi através de Fabiana que a travesti Keila Souza se queixou do constrangimento passado ao ser retirada do vagão rosa. "Ela veio conversar comigo sobre o caso e começou a se julgar por estar de short e blusa curta. Eu disse que eu poderia estar nua que tinha que ser respeitada". Fabiana pediu que a amiga gravasse um vídeo contando o ocorrido para ser postado em sua página pessoal no Facebook.
"Fui barrada no vagão rosa, no dia estava usando um short e blusa curta, pouca maquiagem e cabelo solto. Será que outras travestis e outras trans vão ser barradas no vagão rosa? E eu ainda ouvi comentários de que aquele vagão não era para mim. Eu sou mulher sim. Somos todas mulheres e eu não quero que nenhuma outra sofra o que eu passei", contou Keila Souza no vídeo.
As mulheres da Amotrans, por sua vez, sentiram na pele a reação dos funcionários do metrô do Recife quando decidiram protestar na estação central. Na ocasião, quatro trans e travestis tentaram usar o vagão rosa e foram impedidas de ultrapassar a barreira que separa o público geral das mulheres que desejam usar o novo equipamento. A situação foi filmada pelas manifestantes da Amotrans e os funcionários, que chegaram a pedir documentação, só liberaram a passagem após ver que a ação estava sendo filmada. Confira o diálogo no vídeo abaixo:
"Nós passamos pela barreira porque estávamos em grupo e porque a gente estava gravando. Na hora nem me importei em bater de frente porque estava ali para fazer uma manifestação, mas no dia a dia, quantas de nós não passam por constrangimento. Eu, Fabiana, deixei uma queixa na ouvidoria e a depender da resposta que me derem vou decidir se faço uma denúncia junto ao Ministério Público", disse Fabiana Oliveira.
Questionada sobre a situação, a companhia responsável pelo metrô do Recife se posicionou através de nota oficial: "A CBTU [Companhia Brasileira de Trens Urbanos] Recife esclarece que é contra qualquer ato discriminatório e condena qualquer ação neste sentido. Desde o início da implantação do vagão exclusivo, a empresa atuou e se manifestou publicamente em defesa da maior segurança das mulheres que teriam acesso ao vagão, bem como transexuais e travestis."
Sobre a questão dos funcionários não estarem seguindo as recomendações a empresa resposdeu o seguinte: "Diante das informações encaminhadas pela Natrape - Nova Associação de Travestis e Transexuais de Pernambuco à empresa sobre uma atitude desrespeitosa por parte de um dos nossos empregados, viemos informar que o caso será apurado com rigor e que já foi criado um grupo de trabalho que está elaborando uma série de ações para capacitação de pessoal, a fim de evitar que situações como a relatada pela associação voltem a acontecer."
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