Ailton Manuel oferece seus produtos em uma bandeja para servir os clientes no meio da rua Foto: Priscila Miranda/NE10
Sol escaldante, barulho infernal, trânsito intenso. Nada disso atrapalha a rotina nem a empolgação por trabalho do vendedor ambulante Ailton Manuel da Silva, 43 anos. Isso porque, além de vender água, refrigerante, suco e lanches, ele encarna a persona de um garçom para “servir” os clientes no meio das ruas do centro de Prazeres, bairro de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife. O que começou como um bico para sustentar a família, tornou-se a única fonte de renda de Ailton, que está sem emprego formal há três anos.
“Trabalhei na Refinaria Abreu e Lima e no Estaleiro Atlântico Sul, como lixador da construção naval. Fui demitido no início de 2014 e comecei a vender garrafinhas de água na rua. Tive a ideia de me vestir de garçom porque percebi como existe discriminação e medo de algumas pessoas com os ambulantes. Precisava de algo que chamasse a atenção da clientela”, relembra Ailton.
De lá pra cá, Ailton conseguiu um novo emprego de carteira assinada, mas novamente foi demitido. “Passei nove meses nesse emprego e tive que parar de vender nas ruas. Mas depois, quando saí de lá, voltei a ser ambulante e passei também a comercializar suco, refrigerante, paçoca e pipoca. Meu sonho é ter dinheiro para construir uma casa em um terreno que eu tenho”, afirma o vendedor, que atualmente mora com a esposa e o filho de 1 ano e 8 meses em uma casa em área de risco. “Ela fica em um alto, perto de um barranco. Tenho medo das chuvas”, conta.
Além da indumentária — que é composta de calça social preta, camisa branca de manga comprida, gravata borboleta e um chapéu para se proteger do Sol — , Ailton Manuel incorpora os bons modos de um garçom experiente. Cumprimenta as pessoas e oferece seus produtos em uma bandeja. Os clientes ficam satisfeitos. “É bem legal, criativo e organizado”, afirma a jovem Jaiana Liliane. “Acho diferente, chama a atenção”, completa Edlan Nunes, que comprou uma água do vendedor.
Ailton costuma ficar no centro de Prazeres, próximo à feira livre do bairro, de segunda a sábado, das 6h às 17h. Com um sorriso no rosto e sempre pronto para servir.
