Sem cura

Perfil mais comum de estuprador tem pouca chance de regenerar-se

Wladmir Paulino
Wladmir Paulino
Publicado em 29/09/2016 às 9:13
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Presídios de Pernambuco têm modelo rudimentar de atendimento psiquiátrico. / Foto: JC Imagem.

Presídios de Pernambuco têm modelo rudimentar de atendimento psiquiátrico. Foto: JC Imagem.

Não bastasse ser um dos crimes considerados dos mais abomináveis, o estupro ainda tem um agravante: o agressor não tem possibilidade de regenerar-se. Isso quando falamos dos casos mais comuns, que é do estuprador psicopata. Como trata-se de um transtorno mental, esse tipo de doença não é curável. Pode ser tratável e atenuada, mas deste que exista um esforço de quem comete e aceitação de quem trata. Sim, psicopatas - sejam eles agressores sexuais ou não - são pessoas raras nos consultórios psiquiátricos.

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O psiquiatra Samuel Abath afirma que a cura não existe, mas acompanhamento psiquiátrico permanente aliado a medicamentos que reduzem o instinto sexual podem ajudar bastante. "Esses medicamentos funcionam como uma espécie de castração atenuada.

Nas prisões, inclusive em Pernambuco, já existe um corpo médico permanente, no qual incluem-se psiquiatras. Mas não há nenhum trabalho específico para presidiários que cumprem pena por determinado crime. "Existe um modelo rudimentar de atendimento psiquiátrico mas não especificamente para estupradores. Mas quando ele sai do presídio, perde".

E quando ele sai, com a etiqueta de psicopata, enfrenta um estigma até de quem deveria tratá-lo. Abath afirma que receber psicopatas nos consultórios ainda é um tabu na comunidade psiquiátrica. E se ele tiver cumprido pena por estupro, piorou. "Nenhum colega médico vai querer atender um estuprador em seu consultório. Se você perguntar a dez psiquiatras se eles gostariam de atender um psicopata, nove vão dizer que não. Por medo, por estigma."

Ele faz questão de ressaltar que não se trata de defender um agressor, mas também aborda essas pessoas como vítimas também. Até porque o histórico de muitos estupradores o colocam como vítima em algum momento do passado. "Eles têm que responder pelo dano causado e cumprir a pena integralmente. Porém muitos também podem ter sido vítimas. É muito fácil estigmatizar uma pessoa e adotar um caminho reducionista, analisar apenas o que convém".

Como a mente psicopática é muito complexa, uma pessoa que cometeu estupro uma vez pode abandonar esse tipo de prática mas cometer outros tipos de crime. "Psicopata não regenera", avalia o psiquiatra forense José Brasileiro. Ele explica que o traço mais marcante no portador desse transtorno é a frieza diante de atitudes que fazem mal a terceiros. E isso se manifesta num estupro, assalto ou homicídio.

"Um pscicopata tem uma atuação bem ampla porque o traço dele é de frieza. E a versatilidade dele é situacional. Se a oportunidade (de estuprar) aparecer ele vai praticar. Ele avalia as condições", explica, ao acrescentar que ninguém sai de casa pensando: 'hoje vou estuprar'. "Há uma premeditação apenas quando ele percebe a situação favorável".


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