Debate

Violência Sexual: a discussão começa na infância

Ingrid Cordeiro
Ingrid Cordeiro
Publicado em 23/11/2015 às 19:01 | Atualizado em 13/08/2020 às 12:40
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Inês Calado, Caroline Arcari e Julieta Jacob participaram da discussão / Foto: Julliana de Melo/ NE10

Inês Calado, Caroline Arcari e Julieta Jacob participaram da discussão Foto: Julliana de Melo/ NE10

Um adolescente isolado do círculo social, que usa drogas e se sente perdido no mundo. Esse é o personagem principal do filme "As vantagens de ser invisível", mas pode ser a característica de qualquer pessoa que já sofreu abuso sexual. O longa aborda as consequências da violência sexual na infância e o descaso familiar sobre o tema. A falta de informação para as crianças sobre o assunto  a torna vulnerável a esse tipo de violência e a discussão funciona como prevenção desse mal.

Livro Pipo e Fifi ensina a criança a conhecer e cuidar do corpo

Livro Pipo e Fifi ensina a criança a conhecer e cuidar do corpoFoto: reprodução

Pensando nisso, a pedagoga Caroline Arcari, criou o Centro de Orientação em Educação e Saúde (CORES). Uma ONG que atua na defesa dos direitos da criança e do adolescente, com ênfase na Educação Sexual. Caroline também lançou um livro "Pipo e Fifi" (disponível na internet para download gratuito), que ensina crianças a diferenciar toques de amor de toques abusivos. A pedagoga esteve no Recife no último sábado (21), palestrando sobre violência sexual na infância e ensinando caminhos para o diálogo sobre o assunto. A palestra aconteceu na livraria Vila7, na Rui Barbosa, Graças, Zona Norte, e teve parceria do NE10 com o blog Erosdita, de Julieta Jacob.

Segundo Caroline, o abuso sexual ainda é um tema considerado "tabu" na sociedade e quanto mais os pais conversam com os filhos sobre o assunto, menos suscetível a esse tipo de violência a criança será. "A partir desses momentos em que a criança encontra um canal de comunicação, ou seja, pode ter suas perguntas respondidas, ela vai se sentir à vontade também para fazer perguntas em relação à violência sexual e principalmente para se proteger", comenta a pedagoga. A informação precisa ser fornecida primeiramente pelas pessoas mais próximas, como a família. Juliana Nogueira, mãe de dois filhos pequenos, decidiu acompanhar a palestra para aprender o modo correto de abordar o assunto com eles. "Eu queria me apropriar do tema para ter uma ideia de como conversar, para prevenir", explica.

Palestra aconteceu na livraria Vila7 e teve parceria do Portal NE10, na figura de Inês Calado, com o blog Erosdita

Palestra aconteceu na livraria Vila7 e teve parceria do Portal NE10, na figura de Inês Calado, com o blog ErosditaFoto: divulgação/ Erosdita

A partir da campanha #Meuprimeiroassédio, nas redes sociais, a sociedade pôde enxergar de modo mais claro como a violência sexual na infância é algo comum. A maioria das mulheres e homens que relataram seu primeiro assédio nas redes sociais, o sofreram com menos de 15 anos. Segundo a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em pesquisa de 2014, pouco mais de 5% dos brasileiros maiores de 18 anos já sofreram violência sexual na infância. O estudo ainda mostra que esse tipo de violência é cometida, em sua maioria, por parentes próximos a vítima e sob qualquer suspeita dos familiares.

O abuso sexual é um tipo de violência que leva consequências drásticas à criança e permanecem a longo prazo. Ele costuma começar com a sedução e não necessariamente a agressão física, que geralmente acontece num estágio avançado de intimidação. Toques e carinhos fazem parte da fase inicial de abuso e a relação sexual é frequentemente uma das últimas etapas de intimidação.





PEDÓFILO x ABUSADOR OCASIONAL -
Detectar o abusador, não é das tarefas mais fáceis, pois quem pratica a violência pode estar acima de qualquer suspeita. "O nosso olhar não tem que ser para identificar o abusador, mas para detectar os sinais da criança, conversar com ela de modo que possa pedir ajuda", explica Caroline Arcari. No entanto, há sinais que podem ser observados, a partir da mudança de comportamento dos pequenos: o abusador costuma ser alguém próximo da criança, simpático e que tem o hábito de agir em segredo, isolando a vítima.

Segundo Caroline, apenas 10% dos abusos sexuais são cometidos por pedófilos. A pedofilia é uma doença e quem sofre do distúrbio tem o desejo sexual inconsciente por crianças. Já o abusador ocasional é aquele criminoso habitual: ele faz da ocasião uma oportunidade para exercer poder sobre um indivíduo indefeso, mas tem consciência da sua atitude criminosa.




Essas e outras dicas sobre o tema também estão disponíveis nos vídeos abaixo com os melhores momentos da palestra. Para conferir e proteger suas crianças:

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