Urbanismo

Consultor institui Multa Cidadã para motoristas que invadem calçadas

Mariana Dantas
Mariana Dantas
Publicado em 19/11/2014 às 8:00
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Em dois anos, Francisco Cunha já distribuiu mais de duas mil multas / Foto: Mariana Dantas/NE10

Em dois anos, Francisco Cunha já distribuiu mais de duas mil multas Foto: Mariana Dantas/NE10

Incomodado com o desrespeito dos motoristas que insistem em ocupar as calçadas do Recife e com a ineficiência do poder público em punir quem comete essa infração, o consultor Francisco Cunha teve a ideia de criar a “Multa Cidadã”. Em sua caminhada diária até o trabalho, ele passou a “multar” os veículos estacionados nas áreas exclusivas de pedestre, deixando seu folheto preso ao limpador de para-brisa dos carros. A “Multa Cidadã” traz informações sobre a infração no Código de Trânsito, incluindo o valor (R$ 127), e o seguinte recado: “A calçada é o primeiro degrau da cidadania urbana. Quando ela não é respeitada, não se pode esperar respeito por mais nada numa cidade”.

Em dois anos, Francisco Cunha já distribuiu mais de duas mil multas. Segundo o consultor, o resultado foi positivo e perceptível. Além de ajudar na conscientização, ele afirma que caiu drasticamente o número de carros que invade a calçada no percurso de cerca de três  quilômetros que realiza a pé entre a residência, no bairro do Parnamirim, e o trabalho, no Espinheiro. “A calçada é o espaço por excelência da convivência democrática na cidade e principal via de deslocamento da maioria da população. E, por essa razão, merece a vigilância permanente e atuante do poder público”, afirma Cunha, sócio da TGI Consultoria em Gestão, autor do livro “Calçada: o primeiro degrau da cidadania urbana”  e integrante do Observatório do Recife, movimento formado por 28 instituições da sociedade civil para discutir e propor soluções para a capital pernambucana.


Modelo da "Multa Cidadã" criada por Francisco Cunha. Para download e impressão, clique AQUI. O panfleto possui frente e verso, para que seja visto pelo motorista, através do vidro, e pelos pedestres que trafegam na via

Para Francisco Cunha, as calçadas hoje representam um desafio diário para os pedestres, que precisam desviar de buracos, lixo, pisos arrebentados, barracas de vendedores ambulantes, cadeiras de bar, carros e motos estacionadas. “O poder público perdeu controle da cidade, principalmente nos últimos 20 anos. O problema não é só de manutenção, mas de uso inadequado. É um desastre total, quando a calçada deveria ser prioridade, já que 2/3 da população utilizam as calçadas para se locomover”.
 
De acordo com o consultor, dos 2/3 da população que transitam pelas calçadas, 1/3 não usa nenhum outro tipo de modal, ou seja, realiza todo seu trajeto exclusivamente a pé. O outro 1/3 utiliza transporte público e a calçada para chegar até as estações de metrô ou ponto de ônibus (por não atingirem um percentual representativo, os ciclistas estão inseridos nesse grupo).



 “Somente 1/3 da população se locomove por meio de veículo de tração motora individual (carro e moto). E, infelizmente, a maior parte dos investimentos da cidade está voltada para esse grupo. É preciso inverter a prioridade, implantar uma mobilidade cidadã, que dê uma maior atenção aos modais mais utilizados. Acho que hoje a sociedade está mais consciente da necessidade de mudança e os governos estão apresentado melhorias nesse sentido, mas há um longo caminho para frente”.

PROPOSTAS - No final de 2012, o Observatório do Recife apontou cinco ações consideradas mais urgentes para o Recife. Os indicadores foram elaborados com a participação também de pesquisadores de universidades e especialistas em urbanismo. O projeto intitulado ‘O Recife que precisamos’ foi entregue ao prefeito Geraldo Júlio no início de sua gestão.

» Abaixo, Francisco Cunha detalha cada um dos indicadores. Confira:

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