Jardim Fragoso

Na falta de moradia, famílias ocupam prédios abandonados em Olinda

NE10
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Publicado em 17/01/2012 às 20:10
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Um bairro fantasma de imóveis abandonados. O cenário é intrigante. Numa época em que o metro quadrado no Grande Recife pode chegar a R$ 4.946, uma verdadeira cidade fantasma se forma a olhos nus. Pelo menos essa é a impressão que se tem ao chegar a Jardim Fragoso, em Olinda, no Grande Recife. Com a interdição em massa de construções condenadas e o medo dos moradores de continuar em uma área onde dois prédios desabaram (Edifício Éricka e o bloco B do Conjunto Enseada de Serrambi), resultando na morte de 11 pessoas, Jardim Fragoso foi sendo, aos poucos, esvaziado. A falta de infraestrutura, com ruas esburacadas e sem calçamento, reduz a procura da área por novos moradores.

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A Rua Professor Diógenes Fernandes Távora e as vias do entorno colecionam prédios interditados e já foram alvos de invasões de grupos de movimentos sociais. A situação das construções precárias se estende há mais de uma década, quando os moradores começaram a deixar as residências devido a interdições da Defesa Civil do município.

Os prédios são do tipo caixão e fazem parte da lista dos 107 edifícios interditados em Olinda. Ao todo, 6 mil construções de alvenaria estrutural (prédios-caixão) apresentaram problema no Estado. Segundo a prefeitura de Olinda, das edificações com risco de desabamento, 34 foram invadidas. Dessas, 26 já teriam sido desocupadas por meio de Ação de Desocupação do Imóvel.

Para evitar que os apartamentos sejam invadidos, a empresa responsável, a Caixa Seguros, colocou guarda e vigilância patrimonial nos prédios e está pagando auxílio-aluguel aos proprietários. Além disso, os principais acessos aos prédios foram fechados até o 2º andar. As medidas, no entanto, não foram obstáculos para que famílias inteiras se instalassem e continuem morando no Edifício Xingu, na Rua Bambu, um dos contemplados com as ações.

Mesmo sem água nas torneiras nem energia, a família da dona de casa Andressa Silva, 20 anos, encontrou em um dos apartamentos moradia mais digna do que onde morava, na beira do rio. “Tenho três filhos e não temos para onde ir. Tenho medo de a polícia chegar e colocar a gente pra fora. Enquanto isso não acontece, a gente vai ficando e esperando que, um dia, as autoridades lembrem da gente”, diz. Abaixo, confira imagens de prédios abandonados feitas por Vanessa Araújo e Davi Barboza:

O Edifício Topázio, na mesma rua, teve as janelas e grades retiradas. Mesmo com sinais de abandono, pessoas como Andrea Maria da Silva continuam morando no local. “Moro há oito anos aqui e mais quatro moradores continuam no prédio. Muitos saíram com medo de que caísse”, conta. Ao ser questionada sobre o que espera da prefeitura, disse: 'Só espero que não me incomodem'. Uma mulher, que não quis ser identificada, proprietária de uma casa no mesmo endereço, conta que o prédio foi invadido depois que os moradores antigos saíram. “Não tem infraestrutura nenhuma nesse lugar. A gente fica triste porque nunca teve mudança”, reclama.

* Com colaboração de Davi Barboza

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