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Reginaldo Inojosa afirma que perícias do Caso Serrambi são conclusivas

NE10
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Publicado em 02/09/2010 às 11:10
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Antes de entrar na sala do júri, o assistente de defesa Bruno Santos afirmou que havia recebido uma ligação do médico legista Reginaldo Inojosa. O profissional, que participou da segunda perícia do Caso Serrambi, em novembro de 2003, teria dito que ficou muito chateado com as acusações da promotoria. Nessa quarta-feira, Ricardo Lapenda e Salomão Abdo, responsáveis pela acusação dos kombeiros, quiseram provar que, em muitos momentos, as perícias foram inconclusivas.   

O JC Online entrou em contato com Reginaldo, que também é professor de medicina legal da Universidade de Pernambuco (UPE). Ele confirmou a ligação. 'Liguei porque a afirmação de que as perícias são inconclusivas me chatearam profundamente. Nós trabalhamos no caso com 84% de probabilidade de acerto. Cientificamente, apenas abaixo de 60% é que é considerado inconclusivo, então os promotores não podem afirmar isso', explicou. Reginaldo acredita que tais insinuações desqualificam o trabalho do Instituto de Criminalística de Pernambuco (IC).  

Entre as novas diligências solicitadas pelo Ministério Público, em novembro de 2003, seis meses depois do crime, estavam a exumação dos corpos, a reconstituição do momento em que as adolescentes foram vistas pela última vez e as perícias realizadas na casa em que as garotas estavam hospedadas.

O perito aposentado gaúcho Domingos Tocchetto e o legista paraibano Genival França participaram das perícias. De acordo com declarações da época, os peritos afirmaram que não existiria prova material nem pericial para apontar o autor (ou autores) do duplo homicídio.

Os corpos das meninas foram exumados e, nessa segunda perícia, foi descoberto que Maria Eduarda já estava morta quando foi baleada. A perícia também indica que Tarsila foi estrangulada. A defesa usa essas afirmações para provar que as meninas foram mortas em outro local e depois jogadas no canavial.

Tarsila Gusmão Vieira de Melo foi atingida com três tiros, um no crânio, um na parte direita da mandíbula e outro na mão esquerda. Já no corpo de Maria Eduarda Lacerda Dourado, foram encontradas duas balas. Uma atingiu a região temporal do crânio e a outra a região direita do maxilar. Exames comprovaram que ela já estava morta quando foi atingida.

Não houve condições de realizar exame sexológico para comprovar se houve abuso sexual. As possibilidades são remotas. Vamos fazer exames de DNA para, no futuro, compararmos com o DNA de possíveis suspeitos.

RELEMBRE O CASO - Leia a seguir matéria publicada pelo Jornal do Commercio, em 5 de março de 2004. A reportagem mostra que Maria Eduarda pode ter morrido antes de levar tiros.

A polêmica em torno do assassinato das adolescentes Tarsila Gusmão e Maria Eduarda Dourado, encontradas mortas no dia 13 de maio do ano passado, em um canavial de Ipojuca, no Grande Recife, foi reacendida ontem, com a divulgação dos resultados dos novos exames tanatoscópicos realizados em parceria pelas Universidades de Pernambuco e de São Paulo. Segundo a conclusão dos legistas da UPE e do Centro de Medicina Legal (Cemel) da USP, Maria Eduarda, que apresentava dois ferimentos na cabeça provocados por tiros, pode ter sido baleada depois de morta. Isso contradiz o primeiro laudo, anexado ao inquérito, feito pelo Grupo de Operações Especiais (GOE), que aponta os tiros como a causa da morte da adolescente.

Os médicos-legistas Raílton Bezerra, Reginaldo Inojosa e Luiz Carlos Galvão, que participaram das novas análises, revelaram que os testes nos restos mortais de Tarsila Gusmão e Maria Eduarda Dourado apresentaram resultados diversos. Cada uma das jovens levou dois tiros. Tarsila foi baleada na cabeça e na mão esquerda. Eduarda tinha duas marcas na cabeça.

“Foi aplicado um teste chamado de reação vital, que só é feito pelo Cemel, na Faculdade de Ribeirão Preto (SP). O exame consiste em conferir a existência de hemácias nas bordas dos ferimentos encontrados nas vítimas. As hemácias só são detectadas se, no momento que o corpo for atingido, a pessoa estiver viva. Isso só foi registrado em Tarsila. Nenhum dos orifícios encontrados na cabeça de Maria Eduarda apresentou essa reação”, explicaram os legistas.
Os especialistas, no entanto, fizeram duas ressalvas. A primeira é que o exame de reação vital não tem 100% de precisão, ainda mais sendo feito seis meses após a morte, como foi o caso. Além disso, os dois ferimentos no corpo de Tarsila apresentaram resultados diferentes. Enquanto o da cabeça caracterizou reação vital, o da mão deu negativo.

Os legistas concluíram também que as adolescentes não eram usuárias de drogas. Foi realizado exame toxicológico nos cabelos das vítimas, que não encontrou vestígios de entorpecentes. “Isso não descarta que Maria Eduarda tenha morrido em decorrência de uma overdose”, ponderou Reginaldo Inojosa.

A respeito da suspeita de que os corpos das meninas poderiam ter passado por um tratamento químico para se deteriorarem mais rapidamente, os médicos não conseguiram informações conclusivas. No entanto, Luiz Carlos Galvão, especialista em antropologia forense, garantiu que em áreas de canaviais, como o local onde os cadáveres das estudantes foram encontrados, esse tipo de decomposição é possível pela ação de roedores e aves de rapina.

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