Quando o mercado de trabalho melhorar, o primeiro passo do consumidor será pagar as dívidas Foto: reprodução
Desde que o dólar começou a se valorizar e a tarifa de energia elétrica ficou mais cara, em 2015, a indústria tem sofrido com o aumento dos custos de produção. O repasse ao preço, no entanto, esbarrou na queda da demanda dos consumidores. As empresas, como resultado, tiveram de reduzir seus lucros. Outras, em situação mais delicada, fecharam as portas ou fizeram pedidos de recuperação judicial. As que sobreviveram, agora, estão na expectativa de que a economia se recupere, para que possam correr atrás do tempo perdido e voltar a ter lucros mais confortáveis.
Se a recuperação se confirmar, as empresas poderão ficar tentadas a subir o preço ao primeiro sinal de melhora da demanda, mas, segundo economistas, enquanto a taxa de desemprego estiver alta, a demanda seguirá baixa. "Embora haja sinais de início de recuperação da economia, ela será muito tímida e não conseguirá reduzir o desemprego no curto prazo", afirma Thiago Curado, da 4E Consultoria. Na sua avaliação, a taxa de desocupação deve terminar 2016 com uma média de 12,1%, subindo para 13,6% no ano que vem. "Então, até 2018, será limitada a capacidade das empresas de repassarem maiores aumentos de preços", disse.
O economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), chama a atenção também para o baixo nível de poupança dos brasileiros, que ficou ainda menor após a crise econômica. "Estamos vivendo um período de 'despoupança' enorme", observou Braz. "As reservas que foram construídas estão sendo retiradas pelas pessoas que estão passando por esse período de turbulência, principalmente aqueles que perderam o emprego", afirmou o pesquisador do Ibre. Com a poupança comprometida, os brasileiros não teriam folga para voltar a consumir como antes.
Para ele, quando o mercado de trabalho melhorar, o primeiro passo do consumidor será pagar as dívidas em atraso, para só então recompor as reservas. "Não vai haver espaço para aquecimento abrupto da demanda, ela vai se aquecendo lentamente", prevê o economista. No primeiro semestre de 2016, a retirada líquida da poupança alcançou R$ 42,606 bilhões, o maior volume da série histórica do Banco Central (BC) iniciada em janeiro de 1995 (21 anos). Até então, a primeira metade de 2015 era a responsável pelo pior resultado, com um volume de saques R$ 38,542 bilhões superior ao de depósitos.
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Na avaliação de Caparoz, os preços devem ser elevados principalmente pelos setores de serviços e comércio, que são compostos, em sua maior parte, por empresas pequenas e médias. Por serem de menor porte, diz o economista, sofrem mais com a crise e são mais sensíveis às relações de demanda e oferta. "Elas têm uma capacidade menor de diferenciar seus produtos pela qualidade, então, subir o preço torna-se a única saída para recuperar suas margens", afirmou. Empresas de maior porte, ele compara, podem apostar mais em aumento da qualidade e elevar suas vendas com base nisso.