Enquanto o clima político no Brasil fica cada vez mais tumultuado, e a recessão econômica se aprofunda, Duncan Hay preocupa-se com outros assuntos: fornecedores sem escrúpulos, burocracia e custos que não param de subir. Foto: Christopher Simon / AFP
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O "custo Brasil", produto de uma regulamentação intrincada, corrupção e altos impostos levaram o Brasil ao 116º lugar no ranking do Banco Mundial de países propícios ao negócio.
UM BOM NEGÓCIO?- Hay integra um número surpreendente de investidores estrangeiros que não perdeu a esperança de fazer negócio no país. De fato, dados apontam que os estrangeiros estão mais dispostos do que os próprios brasileiros a investir no país.
Dados da empresa PricewaterhouseCoopers mostram que, durante os primeiros nove meses deste ano, as fusões e aquisições dos brasileiros caíram 23%, em comparação com o mesmo período do ano anterior, enquanto os contratos de estrangeiros subiram 3%, superando os dos brasileiros.
Graças aos 204 milhões de habitantes, à classe média crescente e a uma economia diversificada, o Brasil tem muito potencial para ser ignorado, apesar da crise. E, apesar de o investimento estrangeiro ter caído, o Brasil continua sendo o país que recebe mais investimentos diretos estrangeiros na região, segundo o banco Santander.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, acredita em que a crise econômica oferece "uma verdadeira oportunidade em um mercado-chave", especialmente para estrangeiros que compram o real. A moeda brasileira perdeu um terço de seu valor em relação ao dólar neste ano. "É muito barato comprar qualquer bem aqui nesse momento", acrescentou Perfeito.
CAFÉ E NEGÓCIOS BEM FORTES - De 700.000 reais (US$ 187.000), o investimento do australiano não representa muito em uma economia nacional de 2,3 trilhões de dólares, mas seu empreendimento é um típico exemplo que ilustra por que estrangeiros optam por investir no país.
Hay foi demitido da gigante dos serviços petroleiros Schlumberger em fevereiro, quando esse setor tambéu recuou no Brasil. Como não queria deixar o país, buscou outras alternativas e encontrou esse nicho.
Apesar de o Brasil ser o principal produtor de café do mundo, é difícil encontrar no Rio um lugar que sirva um bom expresso, ou um delicado caffè latte com espuma em forma de folha. "Todo café aqui tem gosto de carvão com água", disse Hay, que alugou um ponto, estudou a arte de tostar e preparar um café e montou um menu que se diferencia da maioria dos cafés da cidade, pela dieta saudável e sanduíches frescos. Para colocar em prática sua ideia de um café de 15 lugares, teve de passar por uma experiência à brasileira.
"Máfia" em troca de praia- Alguns trâmites que, segundo dados do Banco Mundial, levariam quatro dias nos Estados Unidos e 30 na China, demoram, no Brasil, de três a quatro meses para serem concluídos.
Durante o processo para a instalação de seu café, Hay teve suas ferramentas roubadas, precisou pagar uma alta quantia de dinheiro por debaixo dos panos para fechar o aluguel, despediu um assistente que tentou comprar máquinas pelo dobro do preço e viu seu capital evaporar de tal forma que teve de abandonar seu plano inicial de abrir três negócios.
Quando finalmente abrir seu café este ano, ainda terá de enfrentar "a etapa aterradora": as inspeções da brigada de incêndios. "São a maior máfia", considera Hay. O Brasil tem suas vantagens, porém: uma moeda barata e o acesso direto a produtores de café de qualidade, o que lhe permitirá explorar um nicho em um grande mercado. Além disso, embora não gere grandes benefícios, Hay poderá desfrutar das vantagens do estilo de vida dos cariocas. "Posso ir à praia à tarde e ser meu próprio chefe", afirmou.