Construção representa 20% de todos os 1.258 pedidos de recuperação judicial feito no país, este ano Foto: Agência Brasília
Até setembro, 257 empreiteiras entraram na Justiça com pedido de recuperação judicial, segundo dados do Instituto Nacional de Recuperação Empresarial (Inre). O segmento de construção representa 20% de todos os 1.258 pedidos de recuperação judicial feito no país, este ano, segundo o Inre, e foi o setor que mais recorreu a esse instrumento, que evita a falência imediata da empresa.
— Esse movimento é um reflexo da queda do poder aquisitivo do consumidor, seja pela inflação, alta dos juros ou perda do emprego, que está devolvendo imóveis comprados na planta — diz Carlos Henrique Abrão, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e um dos conselheiros fundadores do Inre.
O conselheiro lembra também das grandes construtoras que recorreram à recuperação judicial depois de serem investigadas pela Operação Lava-Jato, que apura desvios de recursos nos contratos da Petrobras. Ao menos cinco entraram com o pedido, com dívidas que totalizam R$ 15 bilhões.
POUCAS ESCAPAM DA FALÊNCIA - Em tempos de crise, a Justiça tem aceitado esses pedidos, diz Abrão. Mas, no geral, ele observa que apenas 7% das empreiteiras que recorrem à recuperação judicial conseguem se reerguer e escapar da falência.
— São processos que levam entre quatro e cinco anos. Quanto pior a situação da economia mais difícil é levar o plano de recuperação adiante — afirma o desembargador.
O impacto da crise no setor de construção civil deve resultar em mais de 500 mil demissões este ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). De acordo com a analista da agência de classificação de risco Moody's, Cristiane Spercel, a perspectiva para o setor continuará negativa em 2016. No setor de incorporação residencial, este será o quarto ano de contração nas vendas, avalia a analista, e ainda há excesso de oferta, com queda média de preços de 6,6% no país. Com a Lava-Jato, afirma Cristiane, aumentou a aversão a risco dos investidores, e as empreiteiras devem ter dificuldades de financiamento para tocar novas obras.
CLIENTES DESISTEM DO IMÓVEL - Segundo um relatório da Fitch, o nível de distratos (devolução), em onze construtoras acompanhadas pela agência, chegou a R$ 3,6 bilhões no primeiro semestre deste ano. E deve se manter alto no segundo semestre, já que muitos projetos serão entregues até o fim do ano, sem que a economia apresente alguma reação positiva.
— O cenário de crédito ficou mais restritivo e muitos compradores não foram qualificados para a compra. Ao mesmo tempo, a expectativa de preço aumentou e o próprio cliente desistiu de adquirir o imóvel, que acaba retornando para o estoque, que já está alto — relata José Roberto Romero, um dos analistas da Fitch responsáveis pela elaboração do relatório.