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Economia sentirá impacto do dólar valorizado, segundo analistas

Júlio Cirne
Júlio Cirne
Publicado em 11/02/2015 às 8:38
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Nesta terça-feira o dólar  atingiu R$ 2,836, a maior cotação desde os R$ 2,837 alcançados em 2004 / Foto: Reprodução

Nesta terça-feira o dólar atingiu R$ 2,836, a maior cotação desde os R$ 2,837 alcançados em 2004 Foto: Reprodução

A alta do dólar, que nesta terça-feira (10) atingiu R$ 2,836, a maior cotação desde os R$ 2,837 registrados em 8 de novembro de 2004, certamente terá impactos importantes na economia brasileira. A indústria, num primeiro momento, poderá ser beneficiada, mas, a longo prazo, será necessário fazer ajustes. Economistas ressaltam, porém, que a taxa básica de juros (Selic) em patamar elevado -- hoje está em 12,25% ao ano -- e a fraqueza da atividade econômica vão amortecer um pouco a pressão do dólar na inflação.

A disparada da moeda americana está relacionada a fatores externos, como a crise na Grécia e a expectativa sobre a alta de juros nos Estados Unidos, e internos. Ontem, no entanto, pesaram mais os problemas locais. As incertezas em relação ao ajuste fiscal, que deve encontrar resistência no Congresso, a desaceleração da economia e a inflação em alta preocupam os investidores. Além disso, o governo sinalizou de que não irá mais intervir no câmbio, deixando a moeda flutuar.

"O Banco Central está deixando nas mãos do mercado a procura de um novo nível para a taxa de câmbio. Os investidores estão bem pessimistas. Agora o mercado acha que o céu é o limite", disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

No fim de janeiro, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que o governo não deixaria o câmbio artificialmente valorizado. Foi o primeiro passo para a recente alta do dólar. A cada semana, segundo operadores, os investidores testam novos patamares. Desde então, a atuação do BC está limitada à oferta da “ração diária” de US$ 100 milhões e à rolagem dos contratos de swap (equivalente a uma oferta de moeda).

E não é apenas o dólar que está em alta. Aumentou também a percepção de risco do investidor em relação ao Brasil. Os credit default swaps (CDS), que funcionam como uma espécie de seguro para quem investe em papéis da dívida brasileira, de cinco anos subiram para 235 pontos ontem, o que equivale a uma alta de 16,83% no acumulado do ano e de 5,86% em apenas um dia. Já os CDS de dez anos atingiram 291,7 pontos, alta de 12,48% em 2015. Outro indicador que também reflete o risco maior é o Emerging Markets Bond Index Plus (Embi+), do JPMorgan, que passou ontem de 293 para 302 pontos.

"É um conjunto de fatores que está afetando a percepção dos investidores. A atividade está ruim e com restrição energética e hídrica. Há ainda os efeitos potencialmente negativos da Operação Lava-Jato nos negócios. Isso causa um mau humor com o Brasil", disse Rodolfo Oliveira, economista da Tendências Consultoria.

Na avaliação de Mauro Rochlin, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), o dólar só não atingiu uma cotação ainda maior devido à Taxa Selic, que está em 12,25% ao ano. O juro elevado acaba atraindo investidores estrangeiros ou, no mínimo, limitando a saída de recursos.

"A aversão ao risco-Brasil ocorre porque as chances de a inflação ficar acima da meta estão maiores, assim como de o PIB crescer menos. E tem ainda o agravante de um possível racionamento de energia e água. Tudo isso se traduz em valorização do dólar, que só não é maior por causa dos juros altos no Brasil", disse Rochlin, acrescentando que a alta do dólar irá beneficiar exportações, o que pode ajudar no equilíbrio do balanço de pagamentos.

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