Sistema Solar

Estrela mais idosa que o Sol pode revelar mistérios da Via Láctea

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 19/01/2016 às 22:05
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Corpo celeste com 13 bilhões de anos foi descoberto por equipe da USP / Foto: Divulgação

Corpo celeste com 13 bilhões de anos foi descoberto por equipe da USP Foto: Divulgação

Cientistas brasileiros e americanos identificaram uma estrela que pode ajudar a desvendar mistérios sobre a infância da Via Láctea, galáxia na qual está inserida o nosso Sistema Solar. Batizada de 2MASS J18082002-5104378, o astro é mais velho do que o Sol, teria surgido em um período no qual existiam apenas os elementos químicos hidrogênio e hélio, além de uma quantidade reduzida de lítio. Por isto mesmo, os corpos celestes daquela época são conhecidos hoje como estrelas pobres em metais.

A 2MASS coleciona características instigantes para a astronomia. É tão primitiva que entrou na categoria das estrelas ultra pobres em metais (UMP, na sigla em inglês) — clube exclusivo dos astros cuja quantidade de metal é 1/10000 da observada no Sol. Também é a UMP mais brilhante descoberta até hoje.

Professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), Jorge Meléndez liderou a observação da estrela. Espécie de “arqueólogo galáctico”, ele calcula que a 2MASS tem cerca de 13 bilhões de anos, ou seja, é 8,5 bilhões de anos mais velha que a Terra e 8,6 bilhões de anos mais idosa que nosso Sol.

"A temperatura dessa estrela é de cerca de 5,1 mil graus Celsius. É muito fria, já destruiu parte do seu lítio original, aquele formado no começo do Universo", avalia Meléndez, cuja equipe utilizou o Telescópio VLT, no Chile, para fazer a descoberta. "Nossa maior conquista foi descobrir uma estrela UMP tão brilhante. A única que se conhecia até agora com esta característica foi vista há mais de 30 anos por cientistas australianos".

A identificação das estrelas ultra pobres é uma das áreas mais promissoras da astronomia. Com a evolução do Universo, os metais formaram-se com fusões nos núcleos das estrelas, e estes elementos pesados expandiram-se formando corpos celestes cada vez mais ricos.

Meléndez, que se dedica à caça de estrelas ultra pobres desde 2013, monitora cerca de 2 mil corpos celestes que podem se encaixar no quesito.

"Se encontrarmos uma estrela 10% mais quente do que a 2MASS, é possível que ela tenha preservado a pequena quantidade de lítio de sua origem, e aí teremos informações diretas sobre o Big Bang (explosão que teria dado origem ao Universo)", explica. "Infelizmente, a observação dessas estrelas é dificultada pela infraestrutura. Hoje, os telescópios têm no máximo oito metros. Para um estudo detalhado, precisamos de um com mais de 20 metros. Já existem projetos em andamento, mas sem previsão de conclusão até 2025".

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