Uma das maiores preocupações dos grupos é de que haja o recrudescimento da violência da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana contra os usuários da cracolândia. Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
No último domingo (11), foi feito um protesto na Avenida Paulista e neste sábado (17) é realizado um festival artístico em frente à Estação Júlio Prestes, próximo ao ponto onde fica a maior concentração de usuários de drogas.
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“A nossa mobilização pretende trazer a discussão para a sociedade civil, de forma que não só os militantes, usuários e trabalhadores estejam envolvidos com essa temática. Por isso, a ideia de fazer um festival pedindo pela continuidade do programa, considerando o que ele significa em avanços no campo dos direitos humanos”, disse a psicóloga Laura Shdaior, que atua na tenda que presta atendimento em saúde aos usuários de drogas na região.
Violência policial
Uma das maiores preocupações dos grupos é de que haja o recrudescimento da violência da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana contra os usuários. A antropóloga Roberta Marcondes - que faz parte dos coletivos Desentorpecendo a Razão, Antiproibicionista e Sem Ternos, que reúne trabalhadores da Cracolândia - diz temer que a nova administração municipal aja com violência, traumatizando ainda mais essas pessoas.
A equipe do prefeito ainda não definiu como será exatamente o atendimento aos usuários de drogas na região. Porém, a assessoria de Dória informou à Agência Brasil que será elaborado um programa “mais eficaz”, baseado no trabalho feito pelo governo estadual. O Programa Recomeço, que também funciona na Cracolândia, busca dependentes nas ruas a fim de levá-los para tratamento, com afastamento e abstinência, e reabilitá-los para o trabalho. Em casos extremos, são usadas internações involuntárias e compulsórias.
Redução de danos
O programa De Braços Abertos atua de modo a melhorar as condições de vida dos usuários, reduzindo os prejuízos causados às pessoas, permitindo, por exemplo, o acesso aos serviços de saúde, sem necessariamente abandonar o consumo de drogas.
Segundo a prefeitura, 88% os beneficiados pela iniciativa reduziram o consumo de crack. Em comparação com a média registrada em janeiro de 2014, de uso de 42 pedras de crack por semana, as pessoas atendidas pelo programa passaram a usar em média 17 pedras a cada sete dias.
“Os países da Europa já estão usando a redução de danos há muito mais tempo, não porque eles são de esquerda ou avançados, mas porque pragmaticamente a redução de danos é muito mais eficiente”, disse Roberta. Para ela, a ação da prefeitura ainda tem muitos pontos a serem aprimorados, mas vai na direção correta. “O De Braços Abertos não é a coisa mais maravilhosa do mundo, mas acho que ele traz avanços na reflexão sobre o cuidado”, acrescenta.
Ao melhorar as condições de vida dos dependentes, o programa ataca, segundo Roberta, as causas do vício. “É óbvio que quando as pessoas têm uma casa para dormir, elas vão usar menos [crack]. Elas não vão precisar ficar cinco dias acordadas porque não podem pagar um hotel”, afirma a antropóloga, que desenvolve atualmente uma pesquisa de mestrado na Cracolândia.
A remuneração paga diretamente aos beneficiados do DBA é um dos pontos que a nova gestão pretende acabar. A equipe de Dória quer fazer, entretanto, uma transição gradual para a nova iniciativa que será elaborada. A previsão é de que o processo seja concluído até o fim de 2017.
Atualmente, o DBA atende a 467 pessoas. De acordo com a prefeitura, desse total, 84,66% estão em tratamento de saúde e 72,75% estão trabalhando. Os dados fornecidos pela administração municipal mostram ainda que 52,52% dos beneficiários retomaram o contato com a família e 84,17%, que estavam sem nenhum tipo de documentação agora estão devidamente identificados.