Incêndio

Acervo do Museu da Língua Portuguesa tem cópias de segurança e pode ser refeito

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 22/12/2015 às 17:39
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As mostras do museu eram abastecidas por sistemas virtuais, que possuem cópias de segurança / Foto: Fotos Públicas

As mostras do museu eram abastecidas por sistemas virtuais, que possuem cópias de segurança Foto: Fotos Públicas

De todas as palavras utilizadas para descrever o incêndio na segunda-feira (22) no Museu da Língua Portuguesa, certamente a que mais será repetida a partir de agora é “reconstrução”. Como a maioria de suas exposições era montada a partir de arquivos digitais, o espaço não tinha um acervo de obras físicas. As mostras permanentes do museu eram abastecidas por sistemas virtuais, que possuem cópias de segurança e podem ser refeitas. Contudo, a estrutura do prédio e os equipamentos de projeção audiovisual foram atingidos pelo fogo.

Segundo os organizadores, ainda é cedo para calcular o prejuízo monetário de ontem. Na época de sua inauguração, em março de 2006, porém, o orçamento do projeto foi de R$ 37 milhões. Eram 3 mil metros de cabos de vídeo, 4,5 mil de cabos de áudio e 1,1 mil de fibra ótica.

"Estamos todos em estado de choque. Foi uma tragédia, ocorrida num prédio que há dez anos funciona bem e com segurança. Agora, temos que fazer uma corrente para reerguer o projeto", diz Hugo Barreto, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, instituição responsável pela concepção do Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz.

Duas exposições temporárias estavam montadas no Museu da Língua Portuguesa até segunda-feira: “O Tempo e Eu e Vc", em homenagem a Luís Câmara Cascudo; e “Esta Sala é uma Piada", uma seleção de 100 charges, caricaturas e quadrinhos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

A primeira ficaria em cartaz até 14 de fevereiro, e a segunda até o dia 28 do mesmo mês. Em ambos os casos, as montagens das mostras foram feitas com material cenográfico, reproduções e arquivos digitais. Os originais, portanto, não estavam no espaço e não foram danificados pelo fogo.

"É lamentável isso ter acontecido. Ao menos, o Museu da Língua tem um padrão de não guardar acervo. O que deve se perder são os equipamentos, que têm um custo alto, mas podem ser substituídos", afirma o cartunista Eduardo Grosso, funcionário da Secretaria Municipal da Ação Cultural de Piracicaba que participa da comissão organizadora do Salão de Humor.

A socióloga e cineasta Isa Grinspum Ferraz faz eco na necessidade de se reerguer o espaço. Ela participou da concepção do Museu da Língua Portuguesa em 2006, como curadora de conteúdo e roteiros.

"Não sei o estado do prédio agora, mas defendo que o museu seja refeito. Ele é uma revolução, não apenas do ponto de vista da forma, mas também da escolha do que se expor. Foi uma maneira nova de se tratar a língua portuguesa. E tanto a população de São Paulo quanto os turistas entenderam e abraçaram completamente o projeto", diz Isa.

DINHEIRO E DISPOSIÇÃO - Na elaboração do projeto do Museu da Língua Portuguesa esteve o antropólogo baiano Antonio Risério, na época assessor especial do Ministério da Cultura de Gilberto Gil. Ele lembra que a ideia original surgiu anos antes, como um museu para Porto Seguro.

"Seria um espaço para comemorar os 500 anos do Brasil, a ser inaugurado em 2000. Mas não foi adiante", lembra Risério. "Então, depois, quando recuperaram a Estação da Luz, propusemos o velho projeto de Porto Seguro".

Agora, o antropólogo também insiste na necessidade de focar esforços na recuperação do prédio. Mas, para Risério, a maior dificuldade será reunir o mesmo grupo que levou o projeto adiante há quase uma década.

"Muitos nem estão mais nesse planeta", diz. "O Museu da Língua Portuguesa estabeleceu um novo patamar de museu internacionalmente. Mudou completamente a noção do que é um museu. Ele pode ser reerguido, mas para isso são necessários dinheiro e disposição. O problema é, nesses tempos atuais, conseguir juntar as duas coisas".

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