Crise

Nem mesmo a fé dos devotos de Nossa Senhora da Conceição move o comércio do Morro

Marina Padilha
Marina Padilha
Publicado em 07/12/2015 às 15:40
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Tem gente que leva até sete horas para fazer a primeira venda do dia / Foto: Marina Padilha/ NE10

Tem gente que leva até sete horas para fazer a primeira venda do dia Foto: Marina Padilha/ NE10

É quase como um "último suspiro" a forma como Fabiano Oliveira tem administrado o mercado que abriu há três anos no Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife. Depois da sequência de números negativos apresentados nos últimos meses, a situação tornou-se insustentável e só os dez dias de Festa do Morro, em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, seguram as pontas.

"Mas é só provisoriamente. Já estou decidido a fechar as portas neste fim de ano, quando o evento acabar. E olhe que o movimento até cresce nesta época, mas nem assim é suficiente. Há alguns anos, tínhamos um lucro 100% maior. Agora chega, no máximo, a 80%", conta o comerciante.

Até mesmo no resto do ano o movimento caiu. "Há menos opções de lazer aqui no Morro, então mais gente está indo pra fora, consequentemente comprando em outros lugares. Como morador daqui e comerciante, percebo que mesmo quem mora aqui tem migrado", explica.

E se tá difícil para quem tem ponto fixo, imagina só para quem vem de fora só visando a Festa do Morro. Dona Nicielma, por exemplo, passou quase sete horas à espera da primeira venda desta segunda (7).

"Cheguei às 3h e montei tudo, à espera dos devotos. Esta que você vê é a primeira venda que faço. Está muito difícil", conta Nicielma Tavares, assim que o relógio marcava 10h40, ao vender um terço.

Nem as fitinhas de promessas estão saindo muito

Nem as fitinhas de promessas estão saindo muitoFoto: Marina Padilha/ NE10

A comerciante mora em Prazeres, na Zona Sul da capital pernambucana, e há mais de trinta anos vem ao evento para vender itens religiosos. Entre imagens, roupas, terços e outros objetos que representam a devoção dos fiéis à Santa, as fitinhas coloridas relacionadas às promessas são destaque.

E nem assim têm saído muito. "A cada ano a situação fica pior pra gente. Tanto que tenho vindo menos dias ao evento. Antes vinha todos os dias, agora já não compensa tanto, explica. Ainda assim, continua a insistir nas festas religiosas em toda a região Nordeste.

É o caso também de Fabiano da Silva, que é vigilante quando não está ajudando a família nas vendas. Ele diz que é comum que os comerciantes se dediquem a festas deste tipo. "A gente viaja pra o interior de Pernambuco, pra Bahia, pra Sergipe. Onde tem evento religioso, a gente aluga uma van e leva nossos produtos", afirma.

Comerciante arrecada cerca de R$ 2 mil durante evento

Comerciante arrecada cerca de R$ 2 mil durante eventoFoto: Marina Padilha/ NE10

Compensa? "Por enquanto, ainda sim. A gente paga uma taxa de R$ 114 à Prefeitura pra montar a barraca durante os dez dias de festa, por exemplo. Nosso lucro médio é de uns R$ 2 mil no geral", detalhou Fabiano que é, inclusive, morador do Morro da Conceição.

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