Meio Ambiente

Recife será uma das cidades mais vulneráveis ao aquecimento global

Paulo Floro
Paulo Floro
Publicado em 02/12/2015 às 17:20
Leitura:

Recife está localizado em um delta e muito próximo do nível do mar / Foto: Igo Bione/Acervo JC Imagem

Recife está localizado em um delta e muito próximo do nível do mar Foto: Igo Bione/Acervo JC Imagem

Ondas altas avançam sobre as praias urbanas do Grande Recife enquanto as marés altas afastam qualquer banhista do mar. O calor está insuportável - ainda mais do que hoje - e as chuvas torrenciais, capazes de causar tragédias, se ?tornam cada vez mais frequentes. O ano é 2025 e vivemos as consequências do aquecimento global.

Essas mudanças climáticas severas descritas acima fazem parte das previsões pessimistas de cientistas e ambientalistas caso as emissões de gases não sejam contidas a longo prazo.

?O impacto do aquecimento global e outras degradações ao meio ambiente estão sendo discutidas até o próximo dia 11 em Paris? na 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (ou Conferência do Clima de Paris, COP21). O Brasil, potência na área energética e voz relevante nas questões ambientais, apresentou metas de diminuir as emissões de gases de efeito estufa em até 35% até 2025 e em 43% até 2030, tendo 2005 como ano-base.

Apontado como principal responsável pelo aquecimento global, o efeito estufa é um fenômeno natural e necessário para a vida na Terra. É o que mantém o planeta aquecido e ideal pra a biodiversidade. Há, contudo, uma potencialização dos seus efeitos devido a causas antrópicas, ou seja, do homem, como aponta o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC).

?Uma das preocupações da COP21 são as cidades litorâneas, as mais vulneráveis às alterações do clima. Recife, localizada no delta do Rio Capibaribe e com um extenso litoral dentro da região metropolitana, deve ser bastante afetada pelas consequências do rápido aquecimento.

Apenas ?o ?Recife despejou na atmosfera 3,?046 milhões de toneladas de gás carbônico em 2013. As projeções apontam um quadro de 4,6 ?milhões? em 2020?, ainda que as emissões na cidade estejam despencando, graças, sobretudo, à queda no consumo de combustível, segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente da cidade. Mas especialistas apontam que são necessárias muitas outras ações para impedir previsões como mostradas no início desta matéria.

Recife poderá ter um avanço do mar

Recife poderá ter um avanço do marFoto: Alexandre Gondim/JC Imagem

?O MAR INVADIU - O tamanho dos impactos do aquecimento global ainda é incerto, mas já se sabe que um dos mais afetados pelo efeito estufa sejam os locais próximos à costa. "A maior consequência será o aumento do nível do mar", afirma o professor Moacyr Araújo, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco. "E isso independe do derretimento do gelo nos polos. Apenas o aumento da temperatura fará a água dos oceanos se expandir, o que causará um efeito 'chaleira', fazendo o volume dos mares aumentar", explicou.

Como está levemente acima do nível do mar - entre três e quatro metros -, Recife será uma das cidades mais vulneráveis. "A situação topográfica e geográfica trará consequências mais graves para os recifenses", diagnostica Araújo. 

As condições climáticas extremas também deverão acontecer com mais frequência. A superfície do planeta teve um aumento médio de temperatura de 0,85º C nos últimos 100 anos. Parece pouco, mas é o suficiente para modificar a relação das populações com o ambiente e causar transtornos. Os 13 dos últimos 1?5? anos mais quentes já registrados na história? da humanidade? aconteceram no século 21. ?Não à toa, uma das discussões da COP21 é limitar o aumento da temperatura da Terra em 2 graus Celsius até 2100 tendo como base os níveis anteriores à Revolução Industrial. Seguindo a tendência atual, o aumento será de 4 graus, aponta estudo elaborado pelo Met Office. 

??TEMPESTADES COTIDIANAS - O aquecimento global deve trazer para o cotidiano do Grande Recife temporais como os vistos em 2010, sobretudo na região da Zona da Mata. Adentrando o Estado, a previsão é de uma intensificação das secas, com aumento de áreas desertificadas. "O efeito estufa deve dar origem a uma frequência maior de eventos extremo?s?, como chuvas torrenciais", diz o professor Araújo. "A área mais afetada se concentra entre o Rio Grande do Norte e o norte da Bahia. Ou seja, Recife está bem no meio desses eventos".

Outra consequência do aquecimento será o aumento da desertificação em Pernambuco. O tamanho da área afetada caminha para os 75 mil km², quase a distância entre Recife e Caruaru. A região já desertificada hoje é de 11.254 km², com o núcleo central localizado em Cabrobó, no Sertão. Para o professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco Ernande Pereira da Silva, algumas mudanças podem ser empreendidas para mudar esse cenário, como a preservação das matas ciliares (localizadas ao longo dos rios e reservatórios) e o manejo correto da agricultura para lidar com a baixa fertilidade do solo. A UFRPE desenvolve um estudo sobre o plantio em áreas desertificadas, com previsão de ficar pronto em meados de 2016.

Esses eventos extremos trazem com eles tragédias correlatas, como enchentes e destruição de áreas produtoras de alimento. As mudanças climáticas também devem provocar mais escassez de água fresca. Ainda ?que seja ?difícil associar eventos?? isolados?, como tempestades e secas ?ao aquecimento global, o professor Araújo lembra que é necessário empreender todos os esforços necessários para reduzir os danos causados pelo efeito estufa. "O Brasil fez bem em propor uma meta ousada, mas é necessário enveredar todos os esforços para  ?torná-la realidade", disse. 

Mais lidas