Memes pedindo o respeito às duas tragédias circularam Foto: Reprodução Internet
A série de atentados em Paris e a tragédia em Mariana-MG nos últimos dias chocaram a sociedade e inundaram o ambiente virtual de solidariedade, troca de notícias e, infelizmente, intolerância. Em meio ao fluxo de informações, chocaram-se internautas que prestaram sua solidariedade às vítimas do terrorismo na França com os que cobravam a mesma atenção à catástrofe em Minas Gerais e em outros lugares do mundo.
Independente da importância da discussão, o ponto negativo foi o teor violento e desrespeitoso que as opiniões surgiram. A atitude, no entanto, não é recente. Nas redes sociais, os casos de ataques concentrados em ideologias e indivíduos sob a sensação de impunidade atrás da tela é repetido a cada assunto que é viralizado.
A discussão já havia chegado ao meio acadêmico mundial, tendo a polêmica declaração do filósofo italiano Umberto Eco, que disse: "A internet deu voz a uma legião de imbecis. Antes, eles falavam num bar, hoje tem o mesmo direito de palavra que um prêmio Nobel".
As fortes palavras de Eco, embora radicais, tratam de um fenômeno em que qualquer um pode colocar sua opinião em uma vitrine, o que, quando bem usada, trabalha em conjunto com a liberdade de expressão mas, quando carregada de irresponsabilidade, cria uma onda de ódio que é reproduzido.
Além disso, as redes sociais aproximam os usuários com pensamentos em comum, através de páginas e grupos. Isso, por vezes, cria um comodismo de opinião e uma segurança de poder atacar àqueles que não concordam. "Parece que há um 'MMA textual', em que as pessoas só estão preocupadas em vencer o outro. Quando o argumento acaba, as pessoas partem para as agressões pessoais", analisa o jornalista Miguel Rios, acostumado a defender em seus posts a liberdade de opinião.
Estas ações criam uma necessidade de que as pessoas combatam a violência virtual, acabando com o sentimento de impunidade que, segundo a professora da UFPE Sheila Borges, atua junto à facilidade proporcionada pela rede para o encorajamento do intolerante a posicionar-se. "As pessoas, por terem um intermédio tecnológico, acham que estão no anonimato e o que falam não possui consequências", disse Sheila Borges.
Xenofobia ganhou evidência nas eleições de 2014Foto: Reprodução/ Twitter
O Facebook, rede social mais popular do planeta, possui algoritmos que direcionam o usuário a consumir apenas o que gosta. O problema é que isso aproxima uma audiência que, por ter a mesma linha ideológica, está acostumada a concordar com tudo que é dito. Isso, por vezes, cria um ambiente de pouco embate de ideias e resulta numa resistência à discordância.
"A rede social potencializou a intolerância que já existe. Não foi ela que criou a intolerância", reforça Diogo Menezes, responsável pela equipe de mídias sociais do SJCC.
No campo jurídico, o usuário pode buscar a punição de um comentário odioso e violento. A consultora em redes sociais Rosário de Pompéia afirma que, em alguns casos, a vítima deve recorrer ao poder público. "Cada situação tem que ser tratada de uma forma. As redes sociais não estão dissociadas da vida real. Algumas situações de agressão e intolerância devem ser levadas para o meio jurídico", disse.
Os casos do último fim de semana são a continuação de um fenômeno cada vez mais escancarado nas redes sociais. O espaço virtual, parte da vida moderna, não pode ser manchado por um grupo intolerante oportunista das suas facilidades. Os pensamentos contrários enriquecem o debate; as intolerâncias, por sua vez, o diminuem.