Dia do datilógrafo

Mesmo superconectado, médico do Recife não abre mão da máquina de datilografia

Giovanna Torreão
Giovanna Torreão
Publicado em 24/05/2016 às 15:00
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As crianças conhecem as máquinas de escrever na sala de espera do médico / Foto: Giovanna Torreão / NE10

As crianças conhecem as máquinas de escrever na sala de espera do médico Foto: Giovanna Torreão / NE10

Maria Júlia é uma das que brinca com o equipamento

Maria Júlia é uma das que brinca com o equipamentoFoto: Giovanna Torreão/ NE10

Nada de acesso à internet, redes sociais ou e-mail. A máquina de datilografia se resume apenas a uma prática: escrever. Mas, o que pode parecer apenas uma relíquia ou objeto de decoração para alguns, ainda tem um lugar importante no dia a dia de outros, como o médico pediatra Fernando Azevedo.

"Acho que sou o último datilógrafo de Recife. Mas é um hábito que me acompanha desde que me formei, há 51 anos", explica Fernando, ao lado de sua companheira inseparável de aproximadamente 40. Não pense, no entanto, que a utilização da máquina quer dizer que o pediatra não esteja familiarizado com as novas tecnologias. Adepto do notebook e smartphone, a datilografia é uma opção consciente. "Poderia utilizar o computador e uma impressora, mas é uma forma de apresentar o aparelho para as crianças. Digo a elas que é um computador moderno, que vai imprimindo enquanto eu escrevo", brinca.

Para ele, a receita médica datilografada é garantia de que os pacientes e farmacêuticos vão compreender perfeitamente todas as informações. "Minha letra é muito complicada, letra de médico mesmo, mas eu tenho a preocupação de que fique tudo legível, por isso opto pela máquina de escrever", diz. Sobre a manutenção, o pediatra garante que é muito simples."Esse equipamento é muito resistente, não quebra, e a tinta eu compro pela internet, peço várias de uma vez", afirma. 

E as máquinas de datilografia não se restringem apenas ao consultório, elas também alegram a sala de espera e entretêm os pequenos pacientes. "Costumava utilizar uma dessas quando estava no colégio", aponta a arquiteta Adriana Pinheiro, mãe de Maria Júlia, 11 anos, para um dos equipamentos na mesa da sala. "Sempre brinco com as máquinas, nunca vi uma delas em outro lugar. Acho elas lindas", completa a garota.

DATILOGRAFANDO NA ERA DIGITAL

Para quem pensa que as máquinas de escrever deixaram de ser lançadas, desde 2014 o projeto FreeWrite evolui com ajuda da plataforma Kickstarter de crowdfunding (a velha vaquinha). Com muitas das possibilidades de um programa processador de texto, a  FreeWrite é considerada a máquina de escrever da era digital, que não depende de uma rede de internet e dispensa a tomada elétrica. Além disso, ela armazena até um milhão de páginas de folhas A4 e permite a sincronização com serviços de armazenamento na nuvem como Google Drive e Dropbox. O valor para adquirir o equipamento retrô, no entanto, ainda é salgado, cerca de 499 dólares.

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