Bloco da Saudade

Dona Eliete e uma longa história de amor de Carnaval

NE10
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Publicado em 12/02/2012 às 20:30
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Muitos torcem desesperadamente por um time de futebol. Outros seguem em caravanas atrás de seus grandes ídolos. Mas, quando chega a época do Carnaval, há aqueles que invadem as ruas do Recife Antigo entoando a história da cidade através de um lirismo que parece estar perdido. Dentre os foliões que compõem o cortejo do Bloco da Saudade, grandes histórias se destacam no meio da multidão como a de Dona Eliete.

Nascida e criada nos arredores da Avenida Norte, na Zona Norte do Recife, Eliete Nascimento de Souza completa 78 anos de vida no próximo 23 de março e tem pique suficiente para arrastar muito bloco de rua por, pelo menos, uns dez anos. E a senhora de olhos azuis bem claros, da cor do céu bonito do Carnaval que se aproxima, garante que sempre foi assim. 'Eu não parava não. Já aprontei muito nesta vida. Era direto na rua, jogando bola de gude e brincando', relembra.

Da infância, Dona Eliete lembra dos tempos que frequentava o antigo Colégio Normal (onde atualmente está instalada a Câmara de Vereadores do Recife) e que voltava de bonde para casa - 'Era uma tranquilidade só!', recorda. Já na época do carnaval, trocava as traquinagens na vizinhança para pular com muito confete e serpentina com os nove irmãos na Rua da Imperatriz, no Centro da capital pernabmucanos.

Com 27 anos, se casou e teve três filhos. Atualmente, já é avó de quatro meninas e um menino. Com o falecido marido Sinval, afirma que viveu momentos maravilhosos com um homem, segundo ela, 'fora de série'. A história de Dona Eliete com o carnaval começa desde o nascimento das crianças. 'Eu só fiz filho nessa época! Todos nasceram em novembro!', se dá conta.

Mas o encontro da dona de casa com a alegria do bloco só aconteceu depois de um momento difícil em sua vida, a morte do esposo. 'Depois de uns dois anos, uma amiga chegou em casa perguntando o que eu tava fazendo...' Dona Eliete para e logo depois continua, com um sorriso. 'Eu disse que não estava fazendo nada, só abrindo e fechando a porta para os meus filhos. Ela me chamou pra desfilar no bloco da Saudade e eu disse: Vamos simbora!'.

Essa história de amor começou em 1987 e, desde então, cresce mais e mais. 'O Bloco da Saudade parece mais uma família. É um sonho. Quando o bloco chega nas ruas, todo mundo fica doido!', afirma. Entre os dez integrantes com mais de 20 anos de desfile, Dona Eliete está no meio, com 25 anos de cortejo.


Nos 25 anos de Bloco da Saudade, Dona Eliete coleciona fantasias
(Foto: Malu Silveira/NE10)


Enquanto espera 365 dias para sair às ruas com elegantes fantasias e lindas músicas entoadas por uma grande multidão, Dona Eliete se dedica aos ensaios do bloco, às viagens com o grupo, e a muita, muita dança. 'Adoro um brega. Saía para dançar no Clube das Pás, onde muitas vezes a festa só acabava lá pelas quatro da manhã'. Não por acaso, a trilha sonora da conversa com o NE10 ficou por conta de Zezo, o Príncipe dos Teclados. [Veja o vídeo]

Dona Eliete confessa que o atual carnaval de rua não lhe agrada, mas levar o azul, vermelho e branco do saudosismo de outrora compensa: 'É uma emoção muito grande. Me sinto nas nuvens quando estou no meio do bloco'. E, enquanto houver carnaval, enquanto houver a Orquestra de Pau e Corda do Bloco da Saudade animando os foliões, pode ter certeza, ela estará lá. Garante. [Confira a galeria de fotos]

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