Paralisação

Mais da metade dos ônibus circulou na primeira manhã de greve na RMR

Everton Pessoa
Everton Pessoa
Publicado em 14/07/2015 às 12:44
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Todas as linhas passavam no TI da Macaxeira, mas com a frota reduzida / Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Todas as linhas passavam no TI da Macaxeira, mas com a frota reduzida Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito

A população sentiu o aumento do intervalo entre os ônibus na primeira manhã de greve de motoristas e cobradores de ônibus da Região Metropolitana do Recife, nesta terça-feira (14). Porém, com mais da metade da frota nas ruas, os transtornos foram menores do que em paralisações anteriores e os terminais tinham movimentação tranquila. Os ônibus são responsáveis pelo deslocamento diário de quase 1,8 milhão de passageiros.

O Grande Recife Consórcio estima que 50,77% da frota funcionavam das 5h às 9h. Para o sindicato dos empresários de ônibus, Urbana-PE, o número chegou a 55% durante a manhã. A entidade que representa os grevistas afirma que eram mais de 60%. A maioria dos trabalhadores trabalha sem farda.

Uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) determinou que 70% dos coletivos circulassem no horário de pico (das 6h às 9h e 16h às 20h), acatando medida cautelar feita pelo Urbana-PE nessa segunda (13).

Luciana esperava um ônibus no Derby havia uma hora

Luciana esperava um ônibus no Derby havia uma horaFoto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Apenas o BRT (Bus Rapid Transit) não circulou. Acostumada a pegar esse transporte todos os dias, a técnica de laboratório Luciana Barbosa, 33 anos, teve que optar pelos ônibus comuns nesta manhã de greve para ir de casa, em Olinda, para o trabalho, em Camaragibe, na RMR. "Eu não sabia que o BRT ia parar. Por causa dele, cortaram muitas linhas de Camaragibe e me deixaram sem é opção. Já estou há uma hora esperando o Cosme e Damião", reclamou. No Derby, na área central do Recife, Luciana já estava atrasada para o início do expediente.

A empregada doméstica Denise da Silva, que mora em Camaragibe e trabalha na Imbiribeira, precisa pegar dois ônibus para chegar ao emprego. Esperou duas horas pelo primeiro em Aldeia e já aguardava havia 40 minutos o segundo veículo, que faz a linha Aeroporto/Joana Bezerra, no Terminal Integrado de Joana Bezerra, na área central do Recife. "Peguei um ônibus superlotado de aldeia para cá, e agora já estou esperando há um bom tempo por esse e não chega. Estou muito atrasada e ja avisei a minha patroa que não sei se vou conseguir chegar", disse. No TI, havia vários ônibus, mas todos superlotados.

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Na Avenida Norte, rodam ônibus das empresas Globo e Pedrosa - Amanda Miranda/JCTrânsito
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No TI Macaxeira, usuários esperam mais tempo pelos ônibus - Amanda Miranda/JCTrânsito
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No Cais de Santa Rita, a reportagem só encontrou ônibus da empresa Borborema - Isabelle Figueirôa/NE10
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BRTs não estão rodando na Avenida Caxangá, corredor Leste-Oeste - Amanda Miranda/JCTrânsito
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Poucos ônibus chegam e saem do TI da Caxangá, que está tranquilo. Os que são expressos não passam. - Amanda Miranda/JCTrânsito
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Ônibus demoram a chegar nos terminais integrados - Amanda Miranda/JCTrânsito
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Intervalo entre ônibus aumentou no TI Macaxeira, na Zona Norte do Recife - Amanda Miranda/JCTrânsito
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Filas aumentam no TI Macaxeira, na Zona Norte do Recife - Amanda Miranda/JCTrânsito


Para a técnica de enfermagem Jurema Lima Gomes, 55, que esperava no Derby a linha Jardim São Paulo (Piracicaba) havia 15 minutos, a circulação estava praticamente normal. "A greve é válida porque eles (rodoviários) ganham muito pouco para a responsabilidade que têm para nos transportar", afirmou.

NEGOCIAÇÕES - A greve dos rodoviários começou à 0h desta terça, por tempo indeterminado. Após três rodadas de negociações, os rodoviários pedem reajuste de 12% nos salários. No início, a proposta inicial da categoria era de 30%. O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de Pernambuco (Urbana-PE) propôs aumento de 9,5%. Desta forma, o salário dos motoristas passaria de R$ 1.765 para R$ 1.933 e o do cobrador aumentaria de R$ 812 para R$ 889.

Ônibus que passavam no TI Joana Bezerra estavam lotados

Ônibus que passavam no TI Joana Bezerra estavam lotadosFoto: Marcela Falcão/Especial para o NE10

Mesmo insatisfeitos com o possível reajuste, a principal reivindicação dos rodoviários é em relação ao ticket alimentação. No início das negociações, a categoria pedia reajuste de 68%, o que aumentaria o valor de R$ 188 para R$ 320. O patronato ofereceu 27%, o que daria R$ 220 por mês. A categoria pede também que o valor seja pago nas férias.

Com a decisão de fazer a greve, a Urbana cancelou as propostas. Agora, cabe ao TRT definir o aumento da categoria. A expectativa é que o julgamento seja nesta quarta-feira (14).

BRIGA POLÍTICA - Contra a decisão do Sindicato dos Rodoviários, o grupo de oposição à atual presidência fez dois atos no Recife. O primeiro foi na Avenida Cruz Cabugá, na área central, onde alguns ônibus foram estacionados por uma hora esta manhã. Dois veículos foram depredados no protesto - um deles teve um pneu furado e outro, um vidro quebrado. Ao todo, foram depredados 11 veículos.
 
Menos de uma hora depois de liberarem a Cruz Cabugá, os rodoviários pararam na Avenida Agamenon Magalhães por cerca de vinte minutos. Foi o suficiente para complicar o trânsito na via por uma hora. Os próximos locais de piquetes não foram informados.

"Os trabalhadores foram às garagens, mas as empresas colocaram terceirizados para sair, o que é ilegal no período da greve. Isso só para desmobilizar a categoria", afirmou o ex-rodoviário Aldo Lima, à frente da paralisação. A entidade patronal negou a contratação de outros trabalhadores para atuar nesta terça-feira.

O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Benilson Custódio, afirmou que não é oficial a orientação para estacionar os ônibus nas ruas. Isso mostra o racha que existe na categoria e travou o Centro do Recife por três horas há duas semanas.

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