Foto: Lorena Barros / JC Trânsito
Morador do Prado, bairro vizinho às obras, Noé Constantino de Almeida, 68 anos, afirma que desde o começo da construção do Túnel da Abolição e do corredor Leste/Oeste o ato de sair de casa é um desafio, principalmente de carro. "Já gastei 40 minutos para atravessar um trecho de pouco mais de um quilômetro entre as obras e a Rua Pandiá Calógeras", conta Noé. Para ele, quando as obras estiverem prontas o problema do trânsito no local pode melhorar, mas, nas imediações de Afogados, onde todo o fluxo trazido pelo túnel deve “desaguar”, o congestionamento será ainda mais intenso do que atualmente, reflexo do mau planejamento das obras.
As reclamações não se restringem ao Túnel da Abolição. Constantemente, motoristas se queixam dos grandes congestionamentos causados na Avenida Caxangá. Nas redes sociais, críticas e pedidos de compreensão se mesclam quando o assunto é a faixa exclusiva dos BRTs (Bus Rapid Transit): diariamente, motoristas invadem a faixa de circulação única dos ônibus articulados, para fugir do congestionamento intenso nas duas faixas restantes. Alguns afirmam que, por conta dos grandes intervalos do novo sistema de transporte, a faixa é mal utilizada. Outros afirmam que assim que o período de transição dos ônibus for concluído a situação na via deve melhorar. Ainda assim, a imprudência na invasão da faixa pode causar danos não só aos motoristas como também a pedestres: recentemente, uma pessoa foi atropelada por um carro que estava na faixa do BRT, nas imediações da Estação Zumbi.
As obras causaram impacto não só no trânsito do local. Comerciantes afirmam que o barulho dos equipamentos de construção e a condição na qual as vias ao redor do futuro túnel ficaram durante as obras diminuíram consideravelmente o movimento na área.
O comerciante José Augusto Teixeira, 55 anos, mora há mais de 40 anos no mesmo local: Rua Real da Torre, nas proximidades do cruzamento com a Avenida Caxangá, um dos principais pontos de obra do túnel. Ele tem uma pequena sapataria e afirma que o movimento caiu drasticamente desde o começo das obras. Segundo ele, no ápice da construção, o trecho em frente ao seu comércio ficou completamente intransitável: “Nem bicicleta passava aqui na frente”, lembra.
O atraso nas obras também incomoda José, que não acredita na previsão mais recente - do final de outubro - dada pelo governador João Lyra Neto, em entrevista à rádio JC News. "Vocês podem apostar, qualquer problema com chuvas e tempo ruim prejudica as obras, esse túnel só fica pronto em janeiro”, acredita José.
A incredibilidade de moradores, motoristas, comerciantes e cidadãos recifenses em geral é justificada por todos os atrasos que as obras para facilitar a mobilidade da cidade vêm apresentando. A do começou em março de 2013 e a previsão inicial para conclusão era janeiro de 2014. Problemas com desapropriações e liberações técnicas empurraram o cronograma e a data de entrega para o meio de maio; fortes chuvas danificaram máquinas e adiaram mais uma vez o projeto, para junho, mês da Copa do Mundo. Na Copa, o túnel não foi finalizado.
TÚNEL DA ABOLIÇÃO- A obra faz parte do corredor de BRT Leste/Oeste, que vai de Camaragibe ao bairro do Derby, região central do Recife. O túnel está orçado em R$ 16 milhões. Com a conclusão do projeto, o fluxo de carros no trecho deve passar de 4.620 para 8.250 veículos por hora.