Pugilismo

Há 30 anos, Mike Tyson era o mais jovem campeão dos pesos-pesados

Wladmir Paulino
Wladmir Paulino
Publicado em 22/11/2016 às 7:31
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Mike Tyson destruiu Berbick em menos de dez minutos. / Foto: Reprodução.

Mike Tyson destruiu Berbick em menos de dez minutos. Foto: Reprodução.

Uma sequência incrível de cruzados de direita e esquerda em menos de dez minutos de combate foram suficientes para eternizar Michael Gerard Tyson no panteão do boxe mundial. Esses foram os golpes que levaram Trevor Berbick a lona na noite de 22 de novembro de 1986 e tornaram o ex-delinquente juvenil, com então 20 anos, no mais jovem campeão mundial dos pesos-pesados da história da nobre arte, superando o lendário Floyd Patterson, que conquistou o cinturão aos 21, em 1956. Curiosamente, aquela luta de 30 anos atrás marcava o início do reinado e, lado a lado, da decadência do jovem campeão. Alçado à fama e fortuna, Tyson não conseguiu segurar seu lado selvagem: caiu no álcool e drogas, foi preso acusado de estupro, viu seu dinheiro virar fumaça e sua vida privada afundar na lama, só conseguindo uma improvável recuperação perto dos 50 anos.

Mas vamos à luta, que é a aniversariante do dia. Ao desafiar Berbick, um jamaicano naturalizado canadense, Mike Tyson já vinha de um retrosecto assustador: 27 lutas e 27 vitórias, sendo 25 delas por nocaute, 15 no primeiro round. O último desses nocautes foi em cima de Marvis Frazier, filho do ex-campeão Joe Frazier em impressionantes 30 segundos. O então campeão defendia sua coroa pela primeira vez depois de tirá-la de Pinklon Thomas oito meses antes.

No primeiro round, Tervor partiu para cima, conseguindo equilibrar o combate por... pouco mais de um minuto. Embora tivesse dez centímetros a mais que seu oponente, não conseguiu controlar a distância, sendo alvo fácil dos curtos e violentos golpes de Mike. No final do round uma bomba de canhota do desafiante o fez cambalear e passar os 30 segundos finais rezando para soar o gongo. Quando o ouviu ainda zombou de Tyson. Mal sabia o que viria na sequência.

Soa o gongo, segundo round. Em menos de 15 segundos uma violenta sequência de cruzados. Berbick cai. Mas levanta rápido erguendo os braços para provar ao árbitro Mills Lane que tinha condições de seguir. Grogue, ele adotou a velha e manjada estratégia de agarrar para conseguir recobrar a consciência. Encurtava a distância e segurava o braço esquerdo de Mike. Numa dessas, um uppercut de direita passou zumbindo o queixo do campeão. Na sequência, o velho cruzado de esquerda na região que conhecemos como 'pé do ouvido'.

Trevor caiu. E o que se viu a partir daí terminou tornando-se cômico. Com a musculatura da face desfigurada, semelhante a uma careta, pela pancada na cabeça, tentou levantar-se. Caiu por cima dos fotógrafos. Tentou novamente e caiu sentado, irritado consigo mesmo por suas pernas não obedecerem ao comando da cabeça. Num esforço sobre humano levantou cambaleando e só não desabou novamente porque Lane o segurou e encerrou o combate. Os pesos pesados tinham um novo rei.

Reinado

Depois daquela luta, Tyson seguiu triturando adversários, mesmo na maioria delas não estando em sua melhor forma. Mas tanta falta de controle - muito dela pela ausência de seu técnico e mentor Cus D'Amato, que morrera pouco mais de um ano antes - cobrou seu preço. Em 1990, 'O Homem de Ferro' foi abatido por James Buster Douglas, dando o estopim para um período de trevas. Dois anos depois foi condenado por estupro a seis anos de prisão. Cumpriu metade da pena em reclusão e saiu por bom comportamento. Mas o mau comportamento continuou a persegui-lo. O vício em cocaína o levou a brigas, confusões, novas detenções e, principalmente, dívidas.

Paralelo a isso, sua carreira no boxe não chegou à sombra de outrora. Ainda reconquistou o título do Conselho Mundial de Boxe. Mas quando tentou o da associação, diante de Evander Holyfield. Perdeu, mas saiu reclamando das cabeçadas do rival. Pediu uma revanche e no meio da luta arrancou parte da orelha do oponente com uma mordida e terminou desclassificado. Nunca mais voltou aos bons momentos, alternando vitórias insípidas com derrotas para semi-desconhecidos. Abandonou definitivamente os ringues em 2005.

Mas os problemas continuaram e chegaram ao auge com a morte de sua filha Exodus, em 2009, num acidente doméstico. Mike finalmente declarou falência em 2003 e voltou aos holofotes no filme 'Se Beber, não case'. Passou a fazer palestras, livrou-se das drogas e os resquícios dos anos de loucura viram até motivo de piada em suas apresentações.

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