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Crianças aprendem badminton em favela do Rio ao ritmo do samba

Karol Albuquerue
Karol Albuquerue
Publicado em 11/08/2016 às 15:46
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A favela é a maior fábrica de atletas de badminton do Brasil. / Foto: TASSO MARCELO / AFP

A favela é a maior fábrica de atletas de badminton do Brasil. Foto: TASSO MARCELO / AFP

Em uma favela no Rio, um professor ensina badminton para 200 crianças ao ritmo do samba, um método que ele inventou e patenteou para facilitar a aprendizagem: seu filho será o primeiro jogador de badminton brasileiro a participar dos Jogos Olímpicos.

A cada fim de tarde, raquete na mão, essas crianças e adolescentes sobem a rua íngreme que leva ao grande ginásio azul da favela da Chacrinha, na Praça Seca, bairro da zona oeste do Rio, onde seus 5 mil habitantes vivem atormentados pelo tráfico de drogas.

Foto: TASSO MARCELO / AFP

Durante duas horas, jogam badminton ao som de samba, ensaiando os passos como em uma pista de dança, fazendo girar seus corpos ao ritmo da música, em uma espécie de balé.

"Eles retêm mais facilmente os movimentos dançando e se chateiam menos. E o ritmo do samba, um, dois, três, é perfeito para o jogo de pés no badminton", explica à AFP Sebastião Dias de Oliveira, de 51 anos, que desenvolveu esta metodologia "Bamon" há quinze anos.

Fundador do projeto social Miratus 20 anos atrás, no qual investiu todas as suas economias, Sebastião descobriu na batucada do pandeiro um forte potencial para o desenvolvimento das técnicas de badminton.

Ritmo, concentração, coordenação

"As pessoas acham que todos os cariocas sabem sambar, mas não é verdade, a maioria das crianças que vêm aqui não sabem. Elas aprendem o ritmo, a concentração e a coordenação", diz ele.

O treinamento termina com partidas em que os alunos observam uns aos outros.

"Eu não posso explicar o que eu sinto, é só emoção, eu estou feliz, sinto-me importante", declara ao final da aula, com sorriso largo, Pedro Vinicius, de 10 anos, campeão brasileiro de sua categoria.

Este treinamento original parece estar funcionando. A Chacrinha é hoje a maior fábrica de campeões de badminton do Brasil. Quase 60% dos medalhistas juniores passaram por aqui.

Nos Jogos Olímpicos Rio 2016, Ygor Coelho, o filho de 19 anos de Sebastião, também poderia se apresentar como um campeão originário da favela, à imagem da judoca Rafaela Silva, 24 anos, primeira medalhista de ouro do Brasil, da favela Cidade de Deus.

"Eu não acho que o meu filho tem uma chance de medalha. Mas sair de um projeto social, de uma favela, isso já é uma vitória, uma medalha", afirma Sebastião.

Do lixo para a raquete

E ele sabe do que fala. Seu desejo de criar Miratus veio de sua história pessoal, o seu desejo de trabalhar para a "inclusão social".

Ele sabe que nem todos vão se tornar atletas, mas terão aprendido os valores do esporte. Outras atividades são realizadas no ginásio, como reforço escolar.

Sebastião conta que sua mãe, uma empregada doméstica, trabalhou para um ministro que não queria crianças em sua casa e que usou sua influência para interná-lo na FUNABEM, mesmo nunca tendo feito nada de errado. "Ele me excluiu", lamenta Sebastião.

Ele viveu na FUNABEM dos 7 aos 18 anos, tendo revisto sua mãe pela primeira vez após 12 anos. "Ela deixou o emprego e conseguiu alugar uma pequena barraca nos subúrbios".

"Para ajudar a minha mãe tive que trabalhar no lixão do bairro, coletava tudo o que podia ser vendido e até mesmo comida para comer", relembra.

"Eu poderia ter ido pra direção errada, caído no tráfico de drogas, mas um educador da FUNABEM me estendeu a mão quando eu tinha 16 anos e me ajudou a pegar o caminho certo. Eu quero fazer isso hoje", acrescenta.

Um dos instrutores, Aleksander Silva, de 32 anos, confessa que conseguiu escapar do tráfico de drogas por meio do badminton. "Isso foi o que me salvou, eu teria sido pego pelo tráfego e poderia até estar morto hoje", afirma.

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