Escândalo

Preso sob suspeita de corrupção, José Maria Marin coleciona acusações: de roubo de medalha à delação de Vladimir Herzog

Marcella César de Albuquerque Falcão
Marcella César de Albuquerque Falcão
Publicado em 27/05/2015 às 12:35
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José Maria Marín comandou a CBF de março de 2012 até abril de 2015 / Foto: Internet

José Maria Marín comandou a CBF de março de 2012 até abril de 2015 Foto: Internet

Preso nesta quarta-feira (27) na Suíça sob suspeita de corrupção, José Maria Marín comandou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de março de 2012 até abril de 2015, após a renúncia de Ricardo Teixeiria. Com uma longa carreira no esporte e na política, que correm em paralelo desde os anos 1960, Marin também foi presidente do Cômite Organizador Local da Copa de 2014. Hoje, ele se mantém como membro do comitê da Fifa. Filho de imigrantes espanhóis, ele completou 83 anos no dia 6 de maio.

Escolhido como o sucessor de Ricardo Teixeira, presidente da CBF durante 23 anos, Marin iniciou sua gestão precisando dar explicações sobre a polêmica medalha roubada na premiação da Copa São Paulo de Juniores, três meses antes. Na ocasião, foi flagrado por câmeras de televisão colocando, no bolso, uma das medalhas destinadas aos jogadores do Corinthias, campeões do torneio. O episódio lhe rendeu o apelido de “Zé das Medalhas”, em referência ao personagem da novela “Roque Santeiro”, da TV Globo.

Durante a gestão na CBF, Marín ainda teve que lidar com as acusações de ser o delator do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto em outubro de 1975, no DOI-Codi, em São Paulo. Na época, Marin era deputado estadual, cargo que ocupou de 1971 a 1979. Áudios divulgados pelo GLOBO em abril de 2013 mostram discursos de Marin na Assembleia Legislativa de São Paulo cobrando providências sobre denúncias envolvendo o então diretor de Jornalismo da TV Cultura e elogiando o delegado Sergio Paranhos Fleury, que trabalhava no órgão de repressão. Ele não respondeu às acusações.

O início da carreira política de Marin remota a 1964, quando foi eleito vereador em São Paulo. Em 1971 foi eleito deputado estadual pela primeira vez e só deixou o mandato em 1979 para se tornar vice-governador do estado paulista na gestão de Paulo Maluf, pela Arena, partido ligado à ditadura militar. Quando Maluf renunciou, em 1982, Marin assumiu o governo interinamente, onde ficou até 1983.

Apesar de ter atuado como jogador pelo São Paulo em 20 partidas nos anos 1950, a carreira de dirigente esportivo só deu um salto nos anos 1980. Marin presidiu a Federação Paulista de Futebol entre 1982 e 1986, ano em que chefiou a delegação brasileira na Copa do México. A partir de então, passou a integrar os quadros da CBF, com o apoio de Marco Polo Del Nero, o atual presidente da entidade. Chegou à vice-presidência representando a região Sudeste até que, em 12 de março de 2012, assumiu o comando com a renúncia de Teixeira.

Sob sua gestão, a seleção brasileira viveu a maior derrota de sua história, a goleada de 7 a 1 aplicada pela Alemanha na semifinal da Copa no Brasil, e a equipe olímpica perdeu o ouro em Londres-2012 para o México. Nos três anos de seu comando, a seleção conquistou teve três treinadores e conquistou três títulos: a Copa das Confederações, em 2013, e o Superclássico das Américas, contra a Argentina, duas vezes, em 2012 e 2014. Antes de se despedir da entidade, Marin foi homenageado, em julho de 2014, emprestando seu nome à nova sede da CBF no Rio.

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