Sem investidores

Clubes do Brasil serão afetados por nova medida da Fifa

Wladmir Paulino
Wladmir Paulino
Publicado em 27/09/2014 às 16:40
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Prática de fatiar os direitos econômicos dos atletas começou na América do Sul e abrange não apenas jogadores profissionais, mas também jovens das categorias de base / Foto: AFP

Prática de fatiar os direitos econômicos dos atletas começou na América do Sul e abrange não apenas jogadores profissionais, mas também jovens das categorias de base Foto: AFP

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, anunciou nesta sexta-feira em Zurique, na Suíça, a proibição da participação de investidores nos direitos econômicos de jogadores de futebol. A medida deve provocar uma forte mudança no mercado de transferências. A entidade estima que os empresários movimentem US$ 360 milhões (R$ 874,9 milhões) por ano, o que representa quase 10% do montante relativo a transferências de atletas no mundo.

“Tomamos uma decisão firme de que a participação de terceiros deve ser banida, mas não pode ser banida imediatamente, haverá um período de transição”, disse Blatter. Segundo o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, o prazo para a medida ser implantada deve ficar entre três e quatro anos.

Para estabelecer as novas regras de participação de empresas e empresários nos direitos econômicos de atletas, foi montado um grupo de trabalho liderado por Geoff Thompson, presidente da Câmara de Resolução de Disputas da Fifa e membro do Comitê de Status de Jogadores. Caberá a ele elaborar o texto, que deverá ser votado na próxima reunião do Comitê Executivo da Fifa, em dezembro, antes de entrar em vigor.

O Brasil será um dos países mais afetados pela medida. Estudo feito pela KPMG, empresa de consultoria e auditoria, apontou que a prática de fatiar os direitos econômicos dos atletas começou na América do Sul e abrange não apenas jogadores profissionais, mas também jovens das categorias de base. De acordo com a KPMG, “quase 90% dos jogadores inscritos para competir na primeira divisão brasileira têm seus direitos econômicos compartilhados entre as diferentes partes interessadas (empresas, investidores privados, familiares, fundos de investimento, etc)”. A porcentagem de direitos econômicos que estão nas mãos de empresários varia entre 10% e 50%, dependendo do modelo de parceria adotado.

“Atualmente não há nenhum controle sobre as transações de direitos econômicos no Brasil. É um mercado livre, e livre até demais. Futuramente, quando o banimento entrar em total vigência serão proibidas quaisquer transações e fatalmente serão puníveis os clubes que desrespeitarem essa obrigação”, afirmou o advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito esportivo internacional.

Para Carlezzo, a mudança provavelmente terá impacto relevante nas contratações dos clubes brasileiros nos próximos anos. “Os clubes brasileiros estão fortemente endividados, embora tenham receitas altas, e alguns clubes da Série A, por exemplo, não têm condições de contratar jogadores sem o auxílio de investidores. Além disso, alguns investidores podem querer ao longo dos próximos anos acelerar a transferência de atletas para garantir sua remuneração”.

CLUBES - Os principais clubes de São Paulo encaram a determinação da Fifa de maneiras bem diferentes. No Palmeiras, por exemplo, o presidente Paulo Nobre, que chegou a investir mais de R$ 100 milhões do próprio bolso para ajudar o clube, considera a medida negativa. “Os investidores são um mal necessário. O ideal seria que os times estivessem saneados financeiramente e pudessem contratar atletas ou, por opção própria, dividir seus riscos com os investidores. No cenário atual, ficará muito difícil contratar sem apoio externo”.

Para o gerente de futebol do Corinthians, Edu Gaspar, a decisão da Fifa será ruim apenas em um primeiro momento. “Os clubes e o mercado vão ter de se adaptar. Mas a longo prazo será positivo para os clubes”. O dirigente comentou que em certas transferências de jogadores os times têm direito a apenas cerca de 20% dos direitos econômicos dos atletas, parcela considerada insignificante para os cofres do clube.

Já o gerente de futebol do São Paulo, Gustavo Vieira de Oliveira prevê que, sem investidores, o valor das negociações vai mudar. “Não vejo grandes complicadores. Os investidores injetam os recursos, mas inflacionam os valores. Acredito que no mercado nacional os valores serão reduzidos. O desafio vai ser com jogadores que têm mercado internacional”.

A diretoria do Santos também foi procurada pela reportagem para comentar a nova determinação da Fifa, mas não respondeu até o final desta sexta-feira.

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