DIA DAS MÃES

Mães torcedoras de Sport e Santa Cruz querem título como presente

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Publicado em 11/05/2012 às 17:28
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Ariane e o filho Caio em Santiago do Chile na partida entre Sport e Colo-Colo pela Copa Libertadores da América em 2009 // Foto: Divulgação

Ariane Carvalho e Norma Marinho guardam algumas semelhanças entre si. São duas mães apaixonadas por futebol, ou mais especificamente pelos seus times do coração. Transmitiram para seus filhos o mesmo sentimento. Começaram a ver os jogos das suas equipes somente aos 18 anos, pois os pais as proibiam de ir antes afirmando que não era coisa de mulher. Ambas já têm ingressos comprados para ver a final do Pernambucano 2012, na Ilha do Retiro, neste domingo, Dia das Mães. A diferença é que Ariane, 46 anos, grita 'Pelo Sport tudo', enquanto Norma, 57, canta ser 'Santa Cruz de corpo e alma'.

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Colar, brinco, relógio, vestido, sandália, pulseira, anel, avental e até calcinha do Santa Cruz. Norma revela ter tudo isso e mais de 45 camisas oficiais do 'Mais querido'. Mãe de Cristiane, 28, e Sheyla, 24, é assistente administrativa na Emlurb. Já foi tanto com o manto tricolor para o trabalho que ouviu uma provocação, prontamente respondida. 'Disseram para eu colocar a camisa para lavar, que tava suja. Eu disse: tenho uma para cada dia, e ainda sobra.'

Norma e as filhas Cristiane e Sheyla: família tricolor

Sócia do Tricolor, ela coleciona histórias sobre as andanças ao lado do time. Certa vez, após viagem para ver um jogo em Salgueiro, virou a noite e foi direto para o trabalho. Noutra ocasião, quase foi presa em Garanhuns, quando se irritou com uma policial revistando a sua bolsa de forma grosseira. 'Ela queria me prender por desacato, porque eu não gostei de ouvir dela que estava procurando por drogas e disse que,  se ela estava desconfiando de mim, eu podia desconfiar dela. O comandante que me liberou. E o Santa Cruz ganhou!', conta. Até a compra da casa própria foi influenciada pela sua paixão. Em 2002, comprou um apartamento no bairro do Arruda para poder ficar mais perto do Santa. Antes, morava no Engenho do Meio.

As filhas reforçam que a mãe respira o Santa Cruz.  'Ela fica nervosa às vezes. Quando ela se afasta de nós nos jogos, ficamos até preocupadas. O pessoal vai mantendo a gente informada se ela tá legal', comenta Cristiane, que, por sinal, é auxiliar administrativa no Santa Cruz. 'Ela não consegue olhar para o jogo na hora que o outro time está atacando', acrescenta Sheyla. 'Eu fico suando, naquela alegria ou na apreensão, doida para que o jogo termine com vitória do Santa', confirma Norma.

Já a psicóloga e empresária Ariane, sócia rubro-negras e com cadeira cativa na Ilha, se gaba de ter sido uma das primeiras mulheres a participar de uma torcida organizada em Pernambuco. Mas não no modelo atual. E sim nos anos 1980, quando tudo era apenas festa. A mãe de Caio, 24, fez parte da Sportmania, que já não existe com a proposta de antigamente. Ela lembra que as torcidas dos três clubes se juntavam para fazer eventos. Inclusive relembra a final da Copa do Brasil de 1989, contra o Grêmio, na qual recebeu torcedores da equipe gaúcha na Ilha do Retiro, numa confraternização sadia.

'Sou rubro-negra com pedigree. Meu pai remou no Sport. Passei a infância brincando debaixo da arquibancada do estádio. Tinha uma aranha, um avião, tinha muitas árvores e um balanço. Algumas coisas ainda continuam lá. Mas demorei a ir para os jogos. Meu pai era machista e não queria mulher no estádio. Quando eu fiz 18 anos, me rebelei, passei a ir com um tio meu, irmão de minha mãe, que era muito fã do Sport', conta Ariane.

Seu primeiro jogo foi a reinauguração da Ilha do Retiro, em 13 de maio de 1984, contra o São Paulo. Desde então não deixa de acompanhar o Rubro-negro. 'A partir daí, eu ia para o jogo na arquibancada central do lado da torcida do Sportmania. Eu cheguei, me entrosei num instante, fiquei bem envolvida, e até passei a liderar a torcida por um tempo', disse. Recentemente ela frequentava o 'Brava Ilha', acompanhando o filho, que integrava esse movimento de torcedores que se propõe a cantar durante os 90 minutos.

O filho Caio conta que já nasceu rubro-negro e gosta do costume de ver o jogo com a sua mãe no estádio. 'Ela vira uma tia e de mãe dos meus amigos dentro da torcida do Sport.' Houve um dia, porém, que a mãe deu preocupação ao filho. Na final do Campeonato Pernambucano em 2006, quando a decisão contra o Santa Cruz caminhou para os pênaltis, a mãezona desapareceu. 'Olhei para o lado, para o outro, e nada dela', disse. Ariane só apareceu depois de Lecheva perder o último pênalti, e a taça ficar com o Leão. 'Comecei a chorar copiosamente quando Neto fez o gol do Santa Cruz que levou para os pênaltis. Fui rezar para a santa [imagem que fica dentro da sede do clube], eu não tinha condições de ver. Acabamos campeões e então eu voltei', conta.

As duas adoram fazer viagens para ver os times do coração em campo. A rubro-negra foi para o Chile, na campanha da Libertadores em 2009. Viu in loco a vitóriasobre o Colo-Colo por 2 a 1. Lamentou bastante o fato de ter caído contra um brasileiro nas oitavas de final, o Palmeiras. Queria ir com o filho para Montevidéu, na fase seguinte, contra o Nacional-URU. Já a tricolor vive seguindo o Santa Cruz nas caravanas pelo Nordeste. Mas não deixou de ir ver o jogo contra o São Paulo, na Arena Barueri, pela Copa do Brasil, em 2011. Os corais haviam vencido no Arruda por 1 a 0, mas foram eliminados com um 2 a 0 na volta.

Sobre a grande decisão do Pernambucano neste domingo, as duas são pura confiança. Não poderia deixar de ser. 'O Sport deve ser campeão, primeiro pela vantagem no regulamento, segundo porque eu não acho que o Santa Cruz tem time para nos parar', dispara a mãe leonina. 'Com certeza vamos ser bicampeões. Seria o meu maior presente no Dia das Mães', afirma a mamãe coral.

Em se tratando de uma final, não vai valer aquele ditado de que 'coração de mãe não se engana'. Infelizmente, só uma vai comemorar. Mas na torcida as duas já são campeãs.

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