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Elza Soares "fecha", ganha selinho e é ovacionada no Teatro de Santa Isabel

Paulo Veras
Paulo Veras
Publicado em 17/01/2015 às 2:00
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No momento mais emocionante do show, Elza dispensou a banda, o microfone e cantou, no gogó, “O Meu Guri”, de Chico Buarque / Foto:  Ilka Nathália/Divulgação

No momento mais emocionante do show, Elza dispensou a banda, o microfone e cantou, no gogó, “O Meu Guri”, de Chico Buarque Foto: Ilka Nathália/Divulgação

“Esses moços, pobres moços. Ah, se soubessem do que eu sei”, canta Elza Soares, 76, para a plateia do Teatro de Santa Isabel; boa parte do público na casa dos vinte anos. “A senhora 'fecha'!”, grita de volta um dos jovens, arrancando uma gargalhada da artista. Nas duas horas em que se apresentou na noite dessa sexta-feira (16), Elza Soares foi ovacionada pelo público, que cantou junto e aplaudiu de pé. O show, que se repete neste sábado (17), marca o primeiro final de semana da 21ª edição do festival Janeiro de Grandes Espetáculos.

Boa parte do repertório é recheada com canções de Lupicínio Rodrigues, compositor da primeira música lançada por Elza, o samba “Se Acaso Você Chegasse”. Desde o ano passado, a cantora tem resgatado a obra de Lupicínio. “A gente tem cantado a música dele com arranjos mais modernos para tentar atrair a garotada. O Brasil não conhece o Brasil”, explica, no meio do show.

É do compositor a canção “Nervos de Aço”, cujo refrão Elza canta com elementos de rock em um dos pontos altos da noite. Seu maior trunfo, porém, é o suingue de jazz americano, que influenciou sua carreira, misturado com o samba brasileiro. Com 17 pinos colocados na coluna, ela canta apenas a primeira música de pé e as outas, sentada. Mesmo assim, nos momentos mais animados, balança o corpo no gingado do som.

Se por um lado a voz inconfundível de Elza Soares soa gasta pelos mais de 50 anos de carreira, o canto é compensado com a potência invejável que a artista continua exibindo. No momento mais emocionante, ela dispensa a banda, o microfone e canta, no gogó, “O Meu Guri”, de Chico Buarque, com a voz embargada, depois de lembrar a morte do filho Garrinchinha, que ela teve com o jogador Mané Garrincha.

Desde o ano passado, a cantora tem resgatado a obra de Lupicínio

Desde o ano passado, a cantora tem resgatado a obra de LupicínioFoto: Ilka Nathália/Divulgação

O repertório segue, com sucessos como “Volta por Cima”, “Malandro”, “A Carne”, e “Espumas ao Vento”, deixada estrategicamente para o final, quando a plateia inteira canta junto. Elza é tão aplaudida que volta, de novo em pé, para entoar os versos de “Lata d'água”, para delírio dos fãs. Nessa hora, o público, que havia se levantado começa a sambar em meio às cadeiras do Santa Isabel.

SELINHOS - Além da música, a personalidade bem humorada de Elza Soares se faz presente em toda a apresentação, nas várias vezes em que ela conversa com o público e relembra, por exemplo, a época em que morou no Recife. É nos diálogos cheios de brincadeiras que se descobre que a cantora comia galinha roubada dos vizinhos e cavava buracos no quintal para esconder as penas antes do estrelato.

Gritos de “gostosa”, “maravilhosa” e “diva” são ouvidos mais de uma vez durante o show. Em dois momentos, jovens sobem ao palco para levar flores para Elza e a artista acaba pedindo selinhos, que são dados ali  mesmo. “Eu tô carente. Quer matar a carência, não?”, brinca.

Entre uma canção e outra, ela ainda encontra espaço para um discurso feminista e em defesa da comunidade LGBT. “Existe muito preconceito. E muita homofobia. Nós queimamos os sutiãs e as mulheres, muitas vezes, ainda trabalham muito mais e ganham muito menos”, diz. “Viva a mulher brasileira! E viva a comunidade gay!”, emenda em meio a aplausos.

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