No momento mais emocionante do show, Elza dispensou a banda, o microfone e cantou, no gogó, “O Meu Guri”, de Chico Buarque Foto: Ilka Nathália/Divulgação
Boa parte do repertório é recheada com canções de Lupicínio Rodrigues, compositor da primeira música lançada por Elza, o samba “Se Acaso Você Chegasse”. Desde o ano passado, a cantora tem resgatado a obra de Lupicínio. “A gente tem cantado a música dele com arranjos mais modernos para tentar atrair a garotada. O Brasil não conhece o Brasil”, explica, no meio do show.
É do compositor a canção “Nervos de Aço”, cujo refrão Elza canta com elementos de rock em um dos pontos altos da noite. Seu maior trunfo, porém, é o suingue de jazz americano, que influenciou sua carreira, misturado com o samba brasileiro. Com 17 pinos colocados na coluna, ela canta apenas a primeira música de pé e as outas, sentada. Mesmo assim, nos momentos mais animados, balança o corpo no gingado do som.
Se por um lado a voz inconfundível de Elza Soares soa gasta pelos mais de 50 anos de carreira, o canto é compensado com a potência invejável que a artista continua exibindo. No momento mais emocionante, ela dispensa a banda, o microfone e canta, no gogó, “O Meu Guri”, de Chico Buarque, com a voz embargada, depois de lembrar a morte do filho Garrinchinha, que ela teve com o jogador Mané Garrincha.
Desde o ano passado, a cantora tem resgatado a obra de LupicínioFoto: Ilka Nathália/Divulgação
SELINHOS - Além da música, a personalidade bem humorada de Elza Soares se faz presente em toda a apresentação, nas várias vezes em que ela conversa com o público e relembra, por exemplo, a época em que morou no Recife. É nos diálogos cheios de brincadeiras que se descobre que a cantora comia galinha roubada dos vizinhos e cavava buracos no quintal para esconder as penas antes do estrelato.
Gritos de “gostosa”, “maravilhosa” e “diva” são ouvidos mais de uma vez durante o show. Em dois momentos, jovens sobem ao palco para levar flores para Elza e a artista acaba pedindo selinhos, que são dados ali mesmo. “Eu tô carente. Quer matar a carência, não?”, brinca.
Entre uma canção e outra, ela ainda encontra espaço para um discurso feminista e em defesa da comunidade LGBT. “Existe muito preconceito. E muita homofobia. Nós queimamos os sutiãs e as mulheres, muitas vezes, ainda trabalham muito mais e ganham muito menos”, diz. “Viva a mulher brasileira! E viva a comunidade gay!”, emenda em meio a aplausos.