Filme conta a história de Val, uma empregada doméstica que deixou sua cidade para trabalhar para uma família rica de São Paulo Foto: Divulgação
Um mal-estar provocado em um debate sobre o filme "Que horas ela volta?" realizado nesse sábado (29) no Cinema do Museu, na Fundação Joaquim Nabuco, no bairro de Casa Forte, fez com que a Fundaj se desculpasse aos que estavam presentes no evento. O debate começou por volta das 22h, após a exibição do filme, entre o curador do cinema, Luiz Joaquim, e a diretora, a paulistana Anna Muylaert.
De acordo com um relato publicado pela jornalista Carol Almeida no Facebook (confira a íntegra no final da matéria), os diretores de cinema do Recife Claudio Assis e Lírio Ferreira teriam chegado ao local do debate, na Zona Norte da capital pernambucana, acompanhando Anna Muylaert. Ambos os homens estariam "visivelmente bêbados" e teriam desrespeitado o evento.
Claudio teria chamado a protagonista, a atriz Regina Casé, de gorda. Para o JC, o cineasta e crítico de cinema Felipe André Silva disse que Assis chamou o maquiador do filme de "bichona". Lírio teria atrapalhado a realização do debate, interrompendo falas da diretora e do público, quando se dirigiam a Muylaert.
"O Cinema da Fundação Joaquim Nabuco pede desculpas aos frequentadores incomodados no debate ocorrido na noite de sábado (...). A situação desagradável e o constrangimento causados servirá (sic) de exemplo para novas medidas a serem tomadas pela Fundaj, instituição que não corrobora nenhuma expressão de preconceito. Ao contrário, vem trabalhando há mais de seis décadas para tornar a sociedade melhor", escreveu o cinema na fan page do Facebook.
O filme conta a história de Val, uma empregada doméstica que deixou sua cidade para trabalhar para uma família rica de São Paulo. A personagem cuida do jovem da casa, Fabinho (Michel Joelsas), como se fosse seu próprio filho. O rapaz acaba gostando mais da doméstica do que da própria mãe.
A diretora Anna Muylaert declarou, em entrevista ao JC, que o ocorrido serviu para abrir uma discussão maior sobre machismo e preconceito, mas que não tinha a intenção de "demonizar" dois amigos. "Agiram de maneira intantil e boba, numa atitude de egolatria comum aos homens. Quando viram uma mulher em evidência, precisaram atrapalhar o momento", falou.
"Não importa o quanto eles gostaram do filme, ou do quanto estariam lá porque era amigos dela. O fato é que: eles reproduziram exatamente o machismo do qual a própria Anna, sendo mulher e realizadora de cinema, certamente sempre sofreu (e, como se vê, ainda sofre)", criticou Carol Almeida.
"Que horas ela volta?" ganhou este ano o Prêmio Especial do Júri do Festival de Sundance (EUA) por suas duas protagonistas (Regina Casé e Camila Márdila), bem como dois prêmios na Berlinale (Alemanha) para Muylaert. Países como França e Itália também se renderam ao drama, que está em cartaz em mais de 280 cinemas ao redor do mundo.
Confira a íntegra do relato da jornalista no Facebook: