Homenagem

Naná Vasconcelos era exemplo de humildade para integrantes de maracatus pernambucanos

Amanda Miranda
Amanda Miranda
Publicado em 10/03/2016 às 13:03
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Dezenas de batuqueiros fizeram os últimos toques para homenagear Naná / Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

Dezenas de batuqueiros fizeram os últimos toques para homenagear Naná Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

"Os jovens chegavam e viam Naná sentado no chão conversando com os pirralhos, então se perguntavam se era mesmo ele aquele homem que conheciam por tocar com nomes como Gilberto Gil." Esse era Naná Vasconcelos, percussionista reconhecido como símbolo de humildade por integrantes de diversas nações de macatu pernambucanas. Além do talento, a simplicidade segue, para os batuqueiros, como referência que deve ser mantida para levar adiante o legado desse músico reconhecido mundialmente, mas que fazia questão de demonstrar o amor pelo Estado.

O relato que inicia a matéria é do mestre Chacon Viana, do Nação Porto Rico. Para ele, ao mesmo tempo em que Naná era superior, fazia questão de demonstrar que ninguém era melhor do os outros. "Ele fazia questão de demonstrar que todo mundo tem uma luz que brilha", conta. Viana fez a loa 'Reis de Nagô' para Naná em 2013, quando ele foi um dos homenageados do Carnaval do Recife e cantou durante o sepultamento do músico nesta quinta-feira (10), no Cemitério de Santo Amaro, na área central do Recife; veja:



"Às vezes parecia que ele não tinha dimensão do enorme poder que tinha", concorda Anderson do Bleke, 35, percussionista desde os 7 anos e atualmente integrante do Nação de Lucinda. "É uma inspiração, uma referência para me tornar uma pessoa mais forte", diz, orgulhoso. "Mesmo doente, fez o Carnaval deste ano. Ele era reconhecido no mundo inteiro, não precisava disso, mas fez questão de estar com a gente", afirma ainda o mestre Chacon Viana.

Para a educadora Raquel Araújo, 42, a simplicidade e a força de Naná eram demonstradas principalmente na forma de ensinar. "A forma como ele explicava era muito especial. Os toques eram feitos primeiro com a boca, para que a gente pudesse sentir, e só depois na alfaia. Ele dizia: Não toque, amacie." Raquel foi a primeira mulher a assumir uma alfaia no Nação Sol Nascente, há 12 anos. O maracatu foi o responsável pelo cortejo da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) até o cemitério. Em Santo Amaro, o corpo de Naná foi recebido pelas nações de maracatu e por estandartes de ícones do Carnaval recifense, como o Galo da Madrugada.

Os integrantes das nações de maracatu reconhecem ainda a importância de Naná para unir as nações de maracatu, o que fez na Noite dos Tambores Silenciosos e reunindo centenas de batuqueiros na abertura do Carnaval há 15 anos. "Antes havia um conflito e ele fez com que as nações se abraçassem", lembra Anderson. "O único objetivo é de levar o maracatu para o mundo inteiro ouvir", acrescenta o mestre Chacon Viana. "Sei, hoje, que tem outros mestres esperando por ele e fazendo uma festa lá em cima. Aqui, fica o legado enorme que não vai se apagar", afirma a aluna Raquel. Salve Naná!

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