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E fotos, muitas fotos. Como esta do beijo que lhe retribuí. Ele, mais uma vez, sorriu. Gargalhou até. Disse que eu beijava com o nariz. Não, Gabo, eu beijava com a alma. A alma de uma eterna (fã e) jornalista aprendiz.
Era 2007 e o fato de eu não saber falar espanhol me deixava mais apreensivo do que a possibilidade de conhecer Gabriel García Márquez. As angústias, no entanto, eram complementares. Naquela edição do Prêmio Nuevo Periodismo eu teria a missão de explicar para um público composto de jornalistas de toda a América Latina - no meu mais perfeito portunhol - o trabalho que teria me levado até ali. E Gabo estaria sentado à mesa.
Quase perdi o sono nas noites que antecederam a mesa redonda. O nervosismo foi tão grande que nem lembro do momento que comecei a falar. Recordei uma das palavras que havia decorado para ganhar simpatizantes na plateia - cachorro de chivo - e mostrei a foto de Inês carregando um filhote de bode. Gabo riu. Pedi permissão e segui em um português lento, apoiado por imagens, a apresentação. O tempo que antecedeu essa 'conversa' foi maior do que os eternos 20 ou 30 minutos que segui falando. Depois daquele momento foram mais três ou quatro encontros: a foto oficial com todos os participantes, uma noite de autógrafos e um jantar, quando fiz a foto que ilustra essa lembrança. Gabriel falou que não gostava do Brasil. Retruquei de algum jeito. Não sei o que falávamos exatamente nesse momento. Mas vou saber sempre que esse sorriso foi para mim.
Meu encontro com Gabo, como carinhosamente o chamamos, foi bem inusitado. Em 2008, no almoço com os jornalistas premiados, tive a honra de sentar ao seu lado. Não sabia o que falar. Na verdade, todos tentavam esconder o nervosismo, mas era impossível. Estávamos na mesa com Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura, escritor do romance mais lindo que já li, O amor nos tempos do cólera.
A certa altura, tive contato, depois de fazer umas perguntas sem sentido, com um Gabo irritado. Bateu a mão na mesa, tirou o aparelho do ouvido e disse: 'Pronto, não ouço e não falo mais'. Ele tinha licença poética para aquela impaciência diante de admiradores encabulados com ele à mesa. Ah, depois descobri que a dedicatória em meu livro 'Para a mais alta flor' era uma marca sua. A de Ju foi exatamente assim. Mas para mim é única. Para Gabriel García Márquez eu era uma flor. E ninguém pode dizer o contrário. Senão, bato na mesa.