A decisão de cursar a faculdade no exterior proporciona vários sentimentos na família. Enquanto geralmente os pais ficam com a saudade e os gastos, o estudante pensa em viajar por quatro anos, fazendo amigos, conhecendo novas culturas e conquistando a independência. O problema é que o sonho pode virar pesadelo quando não há o planejamento adequado.
Indo para o quinto período de Design de Produto na faculdade York St. John, na Inglaterra, Thais Conceição é um exemplo do que os estudantes procuram na graduação feita no exterior. Para ela, as vantagens estão na menor duração do curso, de três anos em média; conhecer pessoas com culturas diferentes e aprender a viver longe dos pais. 'Eu fiz intercâmbio em Cambridge em 2009, conheci algumas pessoas fazendo cursos preparatórios para a universidade, fiquei interessada e resolvi fazer faculdade aqui', conta.
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Tudo pode começar pela análise da qualidade do curso no país de destino. 'Suíça e França são referência em gastronomia e a Itália, em design. Já os EUA e a Inglaterra, em diversas áreas', afirma a gerente de intercâmbio da Student Travel Bureau (STB), Marina Motta. Uma forma de fazer a pesquisa é através dos rankings internacionais, como o The Higher Education e o QS World University.
No QS World University, a classificação é: Universidade de Cambridge, Harvard, Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Yale, nos Estados Unidos; e Oxford, na Inglaterra. Confira a tabela com o ranking das universidades em três áreas, de acordo com o The Higher Education.
MELHORES UNIVERSIDADES | |
Humanas | Stanford, Harvard e Universidade de Chicago |
Engenharia e Tecnologia | Massachusetts Institute of Technology, California Institute of Technology e Universidade da California |
Saúde | University de Oxford |
Outra preocupação é com a língua falada no país de destino. 'Alguns estudantes dizem que querem ir para Harvard, mas, quando perguntamos se falam inglês, a resposta é negativa. Dessa forma, mesmo que passassem no processo seletivo, seria difícil até para acompanhar as aulas', avisa Marina Motta.
A fluência deve ser atestada por testes de proficiência. Em instituições norte-americanas e inglesas, por exemplo, são aceitos o Test of English as a Foreign Language (TOEFL) ou os da Universidade de Cambridge em nível acadêmico. Já nos países de fala hispânica, o Diploma de Español como Lengua Extranjera (DELE) é o mais conceituado.
As universidades no exterior não fazem o tradicional vestibular brasileiro. Os pré-requisitos são o histórico de notas e uma carta de recomendação. 'Se você vai estudar engenharia, o ideal é que seja muito bom em matemática. A comprovação é com as notas e a avaliação de um professor e do diretor da escola', diz a gerente de intercâmbio. Além do desempenho durante o ensino médio, uma atividade que conta a favor para a aprovação do estudante nas universidades internacionais é o trabalho voluntário em organizações não-governamentais, as ONGs.
Assista ao vídeo em que Marina Motta dá dicas para o ingresso em universidades fora do País:
Principalmente nos Estados Unidos, a prática de esportes também é bem vista. Por isso, há programas especiais para a concessão de bolsas de estudos para os atletas, como o da organização International Doorway to Education & Athetics (IDEA). Através dele, estudantes com habilidades em futebol, basquete, tênis e golfe podem conseguir descontos entre 50% e 100% na mensalidade. É preciso fazer a inscrição até o mês de junho e ir a um showcase na Flórida, onde serão avaliados por duas semanas.
Bruno Maia, 18, está nos Estados Unidos este mês para a conquista das bolsas. Jogando futebol, pretende conseguir bolsas para o curso de administração. O desejo inicial do estudante era fazer o ensino médio no país. Entretanto, sem dominar o idioma e acreditando não ter maturidade suficiente, decidiu esperar. Alguns anos depois, se prepara para começar a graduação. 'Às vezes, a mãe dele fica muito preocupada, mas ele tem determinação e sabe que é o que quer. Todos os intercâmbios são assim; cada um tem o seu momento e o seu programa', aponta Marina Motta.
EMPREGO - 'Não podemos supervalorizar o ensino fora do País, já que depende da área de estudo', alerta a gerente de intercâmbio. Segundo ela, às vezes a estrutura dos cursos podem ser melhores no Brasil. A orientadora fez duas faculdades no Recife: relações internacionais e administração. 'Investi em intercâmbios de línguas (francês, alemão, inglês, entre outras) e não me arrependo. Não é todo mundo que quer passar quatro anos fora ou que tem disponibilidade financeira para isso.'
Além disso, o reconhecimento internacional da universidade às vezes não é o ponto mais analisado pelas empresas. 'O que conta mais é o desenvolvimento da capacidade de adaptação durante a graduação. Hoje, o profissional tem que ser flexível', aponta a gerente de recursos humanos da Datamétrica no Recife, Paloma Almeida.
Para ela, uma das principais vantagens é a fluência em outro idioma. 'Eles têm uma visão de mundo diferente, que podem agregar no trabalho, e geralmente já têm as competências comportamentais buscadas, como capacidade de mudar', explica.
'Mas não acho que quem não faz a faculdade no exterior está fadado a uma carreira medíocre. É bom entender como um diferencial, não como funcional', completa. Segundo Paloma Almeida, a experiência profissional, obtida principalmente em estágios, tem sido muito importante na seleção das grandes empresas. Por isso, apenas cursar uma faculdade no exterior não é garantia de empregos na volta ao Brasil.
Quando concluir o curso de design na Inglaterra, Thais Conceição pretende voltar para o Brasil. 'Vou tentar trabalhar pelo menos um ano aqui, para ter experiência, depois eu volto. Aqui é bom, mas o Brasil é melhor', diz.
Na foto, Thais Conceição em um dos laboratórios na faculdade. Ela estuda design York St. John, na Inglaterra (Foto: Reprodução/Facebook)
DIPLOMA - De acordo com o artigo 48 da Lei 9.394/96, todas as universidade públicas autorizadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) podem revalidar diplomas. O Ministério da Educação (MEC) não possui o número exato de pedidos feitos por ano no País, já que o processo é descentralizado . Na Universidade Federal de Pernambuco, foram 79 solicitações este ano. O número dos anos anteriores não estão disponíveis devido à greve dos técnicos administrativos da instituição.
O crescimento da procura pelos cursos no exterior é recente. Segundo Marina Motta, a procura ainda é pequena, já que demanda um investimento muito alto e a disponibilidade pessoal de passar tantos anos longe da família. 'A decisão deve ser muito analisada. O estudante tem que saber que existem várias opções de intercâmbio mais curtos e baratos que a faculdade e deve conhecê-las', afirma.