Globalização

Especialistas promovem debate sobre educação bilíngue no Grande Recife

Marina Padilha
Marina Padilha
Publicado em 16/08/2016 às 1:41
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Virginia Garcia, gerente editorial da International School, abrirá rodada de palestras. / Foto: Divulgação

Virginia Garcia, gerente editorial da International School, abrirá rodada de palestras. Foto: Divulgação

A educação bilíngue e os processos para sua implementação no sistema educacional brasileiro é tema central do encontro "Diálogos sobre bilinguísmo", que começa nesta terça-feira (16) e segue até a quarta (17), no Sheraton Reserva do Paiva Hotel, no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife.

O evento é o primeiro organizado pelo International School, e tem como público-alvo educadores de todo o país. O objetivo é discutir a formação de estudantes e professores diante da crescente demanda do mercado por pessoas fluentes em uma segunda língua, principalmente o inglês.

"O idioma é o carro-chefe do bilinguísmo por ser a língua mais falada pelos não-nativos de inglês", esclarece a gerente editorial da International School, Virginia Garcia, que abrirá a rodada de palestras detalhando definições da educação bilíngue.

Em seguida, palestrarão a pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rita Ladeia, o mestre em English Language Training (ELT), Ricardo Sili e a diretora da Cambridge English Language Assessment no Brasil, Piri Szabó.

De acordo com Garcia, a capital pernambucana foi escolhida para sediar o evento tendo em vista a significativa adesão da Região Nordeste à educação bilíngue. "A recepção dos nordestinos é surpreendente, principalmente em Pernambuco, em grande parte pelo seu crescimento industrial, o que tornou o Estado principal polo de atuação da International School", pontua Garcia.

Segundo informações da International School, aproximadamente 3 mil alunos estudam através do International School Bilingual Program em Pernambuco.

Confira entrevista exclusiva cedida por Virginia Garcia ao Portal NE10:

NE10: Segundo alguns pesquisadores, há uma dificuldade em definir o que é uma escola bilíngue - ou o que é uma pessoa bilíngue. Já existem definições precisas, atualmente?

VIRGÍNIA GARCIA: Podemos definir como pessoa bilíngue, alguém que desde a sua mais tenra idade foi exposta a duas línguas, como por exemplo, filhos de uma mãe brasileira e um pai britânico.  Essa criança, desde muito cedo vai “funcionar” nas duas línguas de forma igual ou parecida, mas, certamente, equilibrada. Para ser bilíngue não é preciso dominar todas as habilidades:  fala, escrita e leitura. Existem diferentes graus de bilinguismo, ou seja, um bilíngue pode dominar todas as habilidades ou pode apenas ler e falar os idiomas em diferentes graus, mas mesmo assim será considerado bilíngue.

Quanto à educação bilíngue, o importante é que a instrução seja planejada e ministrada em pelo menos duas línguas, de forma simultânea ou consecutiva. No Programa Bilíngue, o aluno vai ter uma carga horaria estendida de inglês, mas o inglês não vai ser estudado como matéria em si mesmo com manipulação de formas gramaticais, por exemplo. O idioma será um meio de instrução através do qual o aluno vai aprender a conhecer outras áreas do conhecimento, como biologia através do inglês. Vai ser através do inglês que o aluno vai ampliar o conhecimento de aspectos inter curriculares.

NE10: Em matérias a respeito da educação bilíngue, o Recife é apontado como "polo bilíngue" no Brasil. Qual é o panorama da cidade e de Pernambuco, considerando a aplicação dessa metodologia nas escolas?

VG: O Nordeste é uma região que vem crescendo muito nos últimos anos, em particular Pernambuco que vem sendo citado como um polo de educação bilíngue. De fato, Pernambuco vem abraçando a educação bilíngue como uma ferramenta de desenvolvimento da educação como um todo. Temos acompanhado e cada vez mais escolas têm demonstrado receptividade a esse modelo de educação que vai além da educação tradicional.

NE10: Como o indivíduo bilíngue impacta no mercado de trabalho e no meio acadêmico?

VG: De acordo com pesquisas feitas no Brasil pelo Conselho Britânico, ficou demonstrado que 92% das posições de trabalho oferecidas por headhunters [recrutadores] exigem inglês avançado como pré-requisito. Contudo, a mesma pesquisa demonstra que apenas 5% dos brasileiros atualmente falam inglês com algum nível de proficiência. Daí podemos avaliar o enorme lapso que existe entre a necessidade do domínio de inglês existente no Brasil e a baixa proficiência real, o que nos deixa em desvantagem. Isso demonstra e reforça a importância da educação bilíngue para que as nossas crianças e adolescentes de hoje venham a preencher essas brechas no futuro. No meio acadêmico podemos dizer que a educação bilíngue abrirá mais e maiores oportunidades para promover a integração cultural e aumentar as chances do Brasil no mercado internacional.

NE10: A aplicação da educação bilíngue nas escolas vem ocorrendo com mais expressão no setor privado. Quais os caminhos que podem ser tomados para que essa metodologia ganhe abrangência na educação pública? Existem cases de sucesso nesse sentido no país e/ou no mundo?

VG: Em primeiro lugar precisaríamos que existisse uma regulamentação para a educação bilíngue estipulada pelo MEC, ainda não a temos. Outro aspecto que facilitaria a penetração da educação bilíngue seria o estabelecimento definitivo do Currículo Nacional que, esperamos, seja lançado em breve pelo MEC. Assim, poderia ser criada uma uniformidade no processo ensino-aprendizagem, tanto de áreas de conhecimento quanto na de idioma.

Existe algumas experiências bem sucedidas no Brasil, como uma iniciativa da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro que implementou algumas escolas públicas com educação bilíngue, uma delas inclusive na Comunidade do Alemão. A Educação bilíngue foi uma onda que se iniciou lá atrás na escola particular, mas estamos caminhando a passos fortes no sentido de oferecê-la mais amplamente. Não podemos roubar das nossas crianças esta oportunidade. Como diz Ofelia García, especialista norte-americana na área, “a educação bilíngue é uma medida de amor a ser tomada em prol de todas as crianças do Mundo que serão os homens e mulheres que irão construir o futuro”.

NE10: Além do upgrade no aspecto linguístico e cultural, que benefícios o ensino bilíngue traz quando aplicado desde o ensino básico?

VG: A educação bilíngue proporciona ao aluno maior discernimento de seus processos cognitivos e desenvolve um maior número de estratégias de aprendizagem. Fazendo uma analogia, é como se fosse uma ginástica mental, onde você amplifica seu cérebro, torna-o mais dinâmico e elástico. Os materiais da educação bilíngue oferecem o desafio de um pensar mais critico, atividades de solução de problemas, desenvolvem o trabalho em equipe e exercitam a reflexão visando uma conscientização  mais ampla. Com a globalização é preciso formar cidadãos inclusivos, promover a diversidade cultural, linguística, aceitar as diferenças. Estes são benefícios que se tem quando se proporciona a expansão do cérebro, tornando alunos em cidadãos íntegros.

SERVIÇO: 

Diálogos sobre bilinguísmo

Quando: 16 e 17 de agosto

Onde: Sheraton Reserva do Paiva Hotel, Cabo de Santo Agostinho

Palestras:

"Bilinguismo" (Virginia Garcia)

"As abordagens curriculares para a formação de bilíngues" (Rita Ladeia)

"Ensino de inglês - Um desafio a ser enfrentado" (Ricardo Sili)

"Certificação de proficiência como pilar de qualidade nas escolas bilíngue" (Piri Szabó)

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