Pouco antes de deixar o Jornal do Commercio eu projetava uma rotina de sonhos para os dias que se seguiriam longe da rotina do jornal: praia, cinema, netflix, tempo livre de sobra para namorar e para passear e brincar com Luke e Letícia. Por conta da viagem e do mestrado que farei, sabia que havia uma série de pendências a resolver, mas ainda assim os meus planos envolviam mais sol e mar do qualquer outra coisa como se pudesse ser viável fazer de todo dia da semana uma sexta-feira, ou melhor, um sábado ensolarado.
Na primeira semana fora do jornal, consegui ir à praia em plena sexta-feira com dois amigos. Ali, com um caldinho de feijão na mão, uma brisa no rosto e o sol na medida certa eu tinha certeza de que a vida é uma delícia. E é mesmo, mas essa vida boa pouco se repetiu posteriormente.
[vão me desculpando ser monotemático nas últimas colunas - AQUI e AQUI]
Os dias sem trabalho - entenda-se sem trabalho jornalístico e formal, de carteira assinada e remunerado porque o que não falta é trabalho doméstico para dar conta - estão tomados por afazares e burocracias em quantidade suficiente para me deixar longe da quantidade de diversão que eu achava que merecia ter.
Fiz uma lista de filmes a que gostaria de assistir no cinema e só consegui ver um na semana passada [Bingo, o rei das manhãs].
A quantidade de vezes que fui correr na praia, um dos meus hobbies favoritos, não chega ao número de dedos de uma mão.
Sonhava acordado com duas horas de vagabundagem à tarde bem acompanhado de um chopp em um bar qualquer e não cheguei nem perto disso.
Aquela passadinha em Porto de Galinhas ou Carneiros também ficou apenas na cabeça.
Claro, nem tudo foi ou é dor de cabeça ou burocracia. A viagem se tornou um ótimo pretexto para encontrar amigos a título de despedida. Gente que dificilmente eu veria numa rotina normal abriu um espacinho na agenda para me dar um abraço.
Consegui terminar duas séries [Suits e Orange is the news black], comecei a terceira temporada de Narcos e me arrisquei a ver dois episódios de Designated Survivor.
A incumbência de receber gente em casa interessada em alugar o apartamento ou em comprar alguns dos itens que colocamos à venda me afastou da praia, do cinema e do barzinho, mas me deixou mais tempo com Luke.
Sobram alguns dias até a viagem e já sei que serão sem descanso porque é preciso pintar a casa, comprar malas, vender o carro, ir ao banco e ao cartório e mais 1.437 tarefas.
Vou fazer tudo isso de olho no pote de ouro no fim do arco-íris. Ou melhor: de olho no tempo lá fora porque se estiver um sol bonito hoje, só por hoje, acho que vai dar praia.
Não está na Constituição, mas deveria: todo mundo merece ser feliz na praia Foto: Acervo JC Imagem