Minha sobrinha e afilhada Leticia completou seis anos este mês e fui levá-la à escola como presente de aniversário. Digo, o aniversário era dela, mas o presente era meu por poder acompanhá-la. A mãe de Leticia me contou que os aniversariantes do dia são saudados antes de entrarem na sala de aula e que ela adora esse ritual e eu não queria perder esse momento por nada.
Estava feliz de estar na escola, mas me dei conta de que, na comparação com os outros adultos, leia-se, pais e mães acostumados à tarefa diária de levarem os filhos à escola, eu não sabia nem onde colocar as mãos.
Quem chegasse à escola perceberia logo de cara que eu não era pai, nem mesmo de primeira viagem. A diferença entre mim, um "intruso", e os pais era nítida. Eu estudava cuidadosamente cada movimento, fosse para andar ou para levantar os braços para tirar uma foto de Leticia. Já os pais sabiam exatamente os códigos daquele ambiente e não notei ninguém, fora este que vos escreve, com medo de esbarrar em uma criança acidentalmente ou de levar uma bronca por ter, sei lá, pisado na faixa que separa o infantil A do infantil B.
O que me conforta é que se um dia eu for pai eu saberei esses códigos e poderei deixar a escola sem a preocupação de que dei algum vexame. A dúvida é se vou aprender na marra ou se uma espécie de manual invisível das boas práticas dos pais no ambiente escolar dos filhos vai vir junto com o material e o fardamento da criança. Isso facilitaria muito a vida.
Esse dia na escola de Leticia me lembrou minha primeira ida ao veterinário com Luke. Não sabia os códigos de uma petshop/clínica veterinária e o medo que tinha de cachorros (sim, adotei um cachorro mesmo tendo medo de cachorros) tornou tudo pior. Acho que nunca viram um dono de cachorro entrar tão assustado, acanhado e destreinado pela porta. Hoje, sem medo de cachorro (graças a Luke), domino todos os códigos que uma vida de pai de pet exige.
A escola de Leticia e o veterinário de Luke são apenas um microcosmo da vida, esse lugar em que muitas vezes a gente não se acha porque pensa que não sabe os códigos. Mas basta um pouquinho de paciência e persistência para que a gente adquira os macetes, aprenda os códigos e fique craque em qualquer tarefa e na principal delas: viver.
MAIS USINA DE HISTÓRIAS
Os meus, os seus, os nossos livros
A vida às vezes pode assustar, mas basta paciência e persistência para aprender os códigos dela e tirar de letra a tarefa de viver Foto: Reprodução/Internet