O amor que guardei para mim

Você não precisa ser estepe de ninguém

Por Malu Silveira
Por Malu Silveira
Publicado em 13/09/2018 às 19:29
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Se amar e acreditar que alguém possa vir a nos amar também é ser besta, só tem tonto neste mundo  / Foto: Pixabay

Se amar e acreditar que alguém possa vir a nos amar também é ser besta, só tem tonto neste mundo Foto: Pixabay

Parece piada, mas aquele poeminha antigo e sem graça tem toda razão. O amor é uma flor roxa. Que nasce no coração do trouxa. Isso mesmo. É com essa beleza de poema que inicio minha argumentação. Porque que maravilha parece ser os sentimentos românticos para alguns. Mas que bela desgraça de pesadelo parece ser o amor para um monte de pessoas. Eu vou me explicar.

Uma amiga, inconformada com o fato de descobrir que uma moça aleatória voltou a ter relações com seu ex-parceiro mesmo sabendo que o cidadão não nutria os mesmos sentimentos que nutriu pela ex-namorada, meteu o sarrafo na pobre coitada. Alegou sentir um misto de pena e raiva. Se defendeu, inclusive, afirmando que falta de aviso não era. E completou dizendo não entender como alguém podia ser tão besta a ponto de aceitar migalhas afetivas do outro.

Foi justamente nessa hora que me peguei pensando nas inúmeras vezes que nós, mulheres e, ok, homens também, assinamos contratos desumanos, aceitando, em vários momentos de bom grado, ser reservas emocionais de quem não nos ama, mas não quer ficar só.

Eu me prestei a esse papel. Minha amiga já se prestou. A fulana está, neste exato momento, se prestando. E você, aí do outro lado da tela, muito provavelmente também já se prestou. Não escapa um, meu filho. É a selva. Salve-se quem puder. Arrisco dizer que ninguém nesse planeta Terra se safou.

Se amar e acreditar que alguém possa vir a nos amar também é ser besta, só tem tonto neste mundo. Se amar e crer fielmente que nosso amado irá nos assumir em público é ser besta, só tem gente ingênua na minha vizinhança. Se amar e ficar cego a ponto de não perceber que merecemos muito mais é ser besta… é, realmente, não existe um esperto no campo do amor para contar vantagem.

E ali, enquanto refletíamos juntas sobre a furada em que a pobre moça estava acabando de se meter, me vi em tantos papéis. Como a mulher rejeitada, que sonha com o dia em que seu amor enxergasse nela o mesmo sentimento que nutrira por outras pessoas. Como a presa fácil que, por amar demais, aceita ser a segunda opção de alguém que necessita, urgentemente, suprir suas carências sexuais e afetivas. O famoso pneu de ‘estepe’, eu diria.

E ali, finalizando nossa construção de impressões amorosas, percebi que o rejeitado nunca admite, de primeira ou 100 por cento, estar nessa situação. Ao ser indagado, diz que já superou, que não vai mais dar bola, que nem gostava tanto assim. Aí quando o sol nasce outra vez, lá está ele se afundando na lama de novo.

Juntas percebemos como é difícil para o reserva se perceber ainda apaixonado, enquanto o outro já está muito bem, obrigada, em outra aventura amorosa, vivendo histórias que o estepe adoraria ter vivido com seu titular. Orgulho? Só se for fingindo entre aqueles que o cercam. Mas a verdade é que o estepe, mesmo sem querer, termina se despindo de todo o seu amor próprio na hora de dar o basta.

Mas é isso aí, não tem jeito fácil. Queria inventar uma mágica que me ajudasse a reprogramar a mente e o coração daqueles que caem nessas armadilhas. Para que assim nós conseguíssemos pular fora. E então, eu faria o mundo girar bem mais rápido. Para que assim encontrássemos alguém que verdadeiramente nos ame e que não estivesse sempre na iminência de partir por, simplesmente, não nos amar. E, para completar, como rancorosa que (ainda) sou, faria com que todos os irresponsáveis afetivamente pagassem suas dívidas. E com juros.

Por isso, desejo força para que você chute esse pneu reserva. E que pegue um impulso grande, viu? Quem sabe assim você foge para bem longe de quem não te ama. E que compreenda, sem culpa ou vergonha, que você não precisa ser estepe na vida de ninguém. Tem um mundo lindo aqui fora te esperando. Sozinho ou acompanhado. Não importa. O que vale é que ele é bem mais florido.

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