O amor que guardei para mim

Ninguém muda ninguém

Por Malu Silveira
Por Malu Silveira
Publicado em 30/03/2017 às 8:30
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Você não precisa mudar ninguém e nem esperar desesperadamente que te amem  / Foto: Pixabay

Você não precisa mudar ninguém e nem esperar desesperadamente que te amem Foto: Pixabay

Esta não é uma história feliz, porém extremamente necessária. Para entendermos que muitas trilhas, apesar de infrutíferas, podem trazer alguns resultados. Conheça Maria, uma menina comum: qualidades diversas, inúmeros defeitos, uma cabeça cheia de sonhos e um coração preenchido com muitos desejos. Todo dia, Maria faz tudo sempre igual: trabalha, paga contas, pratica algum exercício, cultiva amizades e fortalece os laços. Maria acredita num mundo melhor com pessoas melhores... só não contava com um obstáculo.

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Se atente aos fatos: eis que Maria conhece João. Outro menino comum: qualidades diversas, uma cabeça cheia de sonhos e um coração preenchido com muitos desejos. Maria simplesmente se encantou com João. Sociável, inteligente, ambicioso, bom amigo e companheiro, esforçado e engraçado. Parece que o problema de João era um só: ele tinha muitos defeitos. No começo, tudo bem. Maria não precisava lidar diariamente com as fraquezas de João. De fora, todo mundo é perfeito.

Até que Maria chegou mais perto. João nem sempre era sociável - e muito menos engraçado. Ao menos com os mais íntimos. De vez em quando uns rompantes, umas mudanças bruscas de temperamento, umas explosões desnecessárias. Tudo bem, é aceitável. Até que piorou: João nem sempre era um bom amigo. A prestatividade de sempre, observou Maria, já não era rotineira. João nem sempre estava ali quando era preciso estar perto. Passou a ser desatento e desinteressado. Tudo bem, pensava Maria, é o estresse.

Mesmo assim, as qualidades de João falaram alto. E eles passaram a se aproximar cada vez mais. Mesmo com todas as desavenças. Isso mesmo, Maria fechava os olhos para os erros de João. Sempre encontrava uma desculpa para aceitar grande parte das falhas. É a convivência, pensava Maria. Essa danada... desgasta demais as relações. Por mais que Maria tentasse mostrar o quão interessante era para João, ele nunca queria mais. Não estou preparado, ele dizia. Não é você, ele acrescentava. Sou eu, ele fazia questão de reforçar.

Já meio receosa e muito desconfiada, Maria decidiu chegar mais perto. Custava nada. Até que João passou a ser tudo o que ela não aceitava. Quando Maria reclamava, a culpa era das expectativas. Essa peste... que inventa relações e maquia sentimentos. Era difícil demais dizer adeus a João. É que ela não conseguia abrir mão daquela relação: porque ia doer demais. E, por mais que pedisse inúmeras respostas ao universo, Maria não conseguia escutar o seu coração.

Quando Maria já estava com os dois pés dentro, mais perto impossível, descobriu que não adiantava João ter inúmeras qualidades que lhe agradavam se os seus defeitos estavam sempre em primeiro plano. Maria tentou uma, duas, três vezes. João esnobou da primeira, reclamou na segunda e ignorou na terceira. Talvez João não fosse uma pessoa ruim, só não era uma pessoa boa para Maria. O fato é que Maria, que sempre quis ajudar o outro a ser alguém melhor, terminou sem socorrer quem mais precisava: ela mesma.

Sabe a Maria lá do começo? Continua com qualidades diversas e inúmeros defeitos. Mas lembra da Maria cheia de sonhos? Parece que ela está tentando ser um pouco mais pé no chão. Lembra do coração preenchido de desejos? Anda um pouco mais reservado. Blindou alguns sentimentos depois que sacou qual era o grande obstáculo: ela acreditava na mudança de uns pelos outros. Confiava que o melhor de nós inspira o que há de mais bonito no próximo.

Parece que Maria entendeu que...

... nem tudo que se encaixa faz bem. Dizem até que a forçaram a cortar os relacionamentos destrutivos. Ensinaram àquela menina com o coração preenchido de sentimentos que ninguém muda ninguém. E Maria passou a aceitar que merecia ser amada por alguém que realmente quisesse amá-la, não alguém que ela esperava desesperadamente que a amasse.

Então ela percebeu que cada um, com seus defeitos e virtudes, tem o dever de realizar suas próprias mudanças. E o fato de não conseguirmos fazer com que os outros sejam mais legais conosco não nos faz menos bacanas. Maria pode ser eu, mas pode ser você também: uma pessoa comum mas muito, muito especial. ;) 

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