É ela, a resiliência, que nos faz florir mesmo nos períodos mais secos Foto: Free Images
Um ano atrás, descobri uma lesão na coluna que me impossibilitou de fazer tarefas no cotidiano que me proporcionavam muito prazer. Dormir causava incômodo, ficar em pé não adiantava e sentar era extremamente desconfortável. Apesar desse tripé desanimador, não havia contusão que me bloqueasse os movimentos ou que me impedisse de realizar o obrigatório do dia a dia. Quando questionava o médico, a resposta - apesar de vir em um tom terno e paternal de quem tenta consolar um filho - me assustava: entre cuidados paliativos, períodos de crise e momentos de tranquilidade, eu teria que aprender a conviver com aquilo.
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Olha que engraçado. Entre todas as fases, desde a revolta até a resignação, a gente acaba descobrindo uma palavra de ordem essencial para não desistir jamais. Ela que, me acompanhou em inúmeras consultas na fisioterapia. Que me fez acordar cedo para enfrentar dores incompreensíveis de técnicas que eu, sinceramente, nunca tinha ouvido falar. Que me fez engolir todos os xingamentos matinais ao ter que suportar várias sessões de pilates. Que esteve junto ao me fazer resistir e repetir de um até dez cada posição. Sem parar, em todo e qualquer movimento. Sobe, desce. Estica a coluna, enrola a coluna. Alongue direito, fique ereta, engula o choro.
A resiliência nos dá o entendimento necessário para saber que o importante não é ser forte, é conseguir ser flexível
Sem explicações, sem tempo para grandes questionamentos e profundas reflexões, ela é uma companheira que não te dá espaço para lamentar. Está ali, em cada minutinho do seu dia, no passar das semanas, ao longo dos anos. Soprando baixinho no seu ouvido que não há tempo para se perguntar o porquê de certas coisas terem acontecido.
É ela, que nos faz florir mesmo nos períodos mais secos. Que nos cerca de primavera para que esqueçamos as pedras que aparecem no meio do caminho. Que alivia os dias chuvosos com algumas boas ideias para não esquecer de seguir em frente. Que nos faz transformar as lágrimas em risada para, lá na frente, entender que enxergar o lado bom da vida é imprescindível para a alma. Ela, que nos dá paciência para suportar as intempéries do tempo, riscando no calendário os dias mais desgastantes. Resiliência, que nos acompanha mesmo quando não queremos companhia. Um colo nas horas da solidão. Um afago nos momentos de pressão. Uma palavra amiga quando tentam te colocar pra baixo. A decisão de ficar quando o que você quer mesmo é fugir.
Lá trás, escutei outros casos, absorvi experiências e agradeci todos os dias mesmo sem saber o porquê naquele período. Eis que foi ali, no meio de uma das maiores tempestades da minha vida, que descobri o essencial. Para muitos de nós, resiliência não é mais uma opção. Passa a ser necessidade e urgência. Para não desistir dos outros e, principalmente, de nós.