Difusão

O material e o virtual

Por Marcelo Sampaio de Alencar
Por Marcelo Sampaio de Alencar
Publicado em 09/11/2018 às 15:51
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O celular hoje agrega outras funções, como máquina fotográfica / Foto: Pixabay

O celular hoje agrega outras funções, como máquina fotográfica Foto: Pixabay

Desde tempos imemoriais, o mundo da arte sempre entendeu e separou bem dois conceitos importantes: o material e o virtual, que representam o substrato e a criação.

Em música, por exemplo, um bom artista pode ser um virtuoso, mesmo tocando um instrumento, seu equipamento de trabalho, que valha apenas uma fração do preço de qualquer canção famosa que componha o programa de sua audição musical.

Em comunicações, bem no começo da telefonia, os equipamentos eram fundamentalmente hardware. O telefone fixo nada tinha de programação. Na verdade, nem sequer dispunha de memória para armazenar os números.

Todo o software necessário, incluindo o procedimento de discagem e a memória dos dígitos, estava na mente do usuário, ou da telefonista. Algumas telefonistas virtuosas, muito requisitadas, na época, chegavam a memorizar todos os números telefônicos de uma cidade, como o Rio de Janeiro.

O celular, quando foi lançado em 1979, era pouco mais que um transceptor, uma combinação de transmissor e receptor, com um teclado, além da circuitaria eletrônica, do microfone e do alto-falante. Dispunha de alguma memória para armazenar os números, e contava com um processador limitado, que rodava um sistema operacional básico.

Com o tempo, o celular foi agregando funções, uma máquina fotográfica foi incorporada, veio a filmadora, a agenda, a calculadora e a tela cresceu, até ocupar todo o aparelho. O processador já era um computador bem mais poderoso que qualquer mainframe de algumas décadas antes.

Novos aplicativos

O número de programas disponíveis, hoje em dia, é praticamente incontável, para qualquer tipo de aplicação, com novos aplicativos surgindo, literalmente, a toda hora.

As mudanças no hardware se tornaram tão frequentes, que suscitaram a criação do conceito de rádio definido por software, ou seja, até as funções básicas do aparelho, antes executadas em hardware, como modulação e processamento de áudio, passam a ser realizadas por programas, que rodam em plataformas padronizadas.

Esse processo, que se denomina virtualização, também atinge as estações radiobase, que controlam as ligações no canal de acesso ao sistema celular. E também já chegou às centrais telefônicas, responsáveis pela comutação e direcionamento das ligações, que, aliás, há algum tempo já se chamavam centrais de programa armazenado.

Por fim, a virtualização atinge a própria rede telefônica, formada pelos entroncamentos de fibras ópticas, pelos enlaces de rádio e pelo conjunto de satélites que orbitam o planeta.

Como a vida imita a arte, a engenharia de comunicações seguiu em busca do tempo perdido. Aos poucos, a camada física, o substrato material ou hardware, cede valor ao virtual, ao imaterial ou software.

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