A mulher e a lei

Inaugurado Centro de Atenção à Mulher, novo aliado no combate à violência

Por Gleide Ângelo
Por Gleide Ângelo
Publicado em 18/07/2016 às 8:44
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O serviço é o único no País a oferecer à vítima de agressão uma linha completa de atendimento / Foto: Heudes Régis/JC Imagem

O serviço é o único no País a oferecer à vítima de agressão uma linha completa de atendimento Foto: Heudes Régis/JC Imagem

Caros leitores, 

Diariamente mulheres são vítimas de violência doméstica pelos mais diversos tipos de agressões, são espancadas por companheiros, familiares e precisam de atendimento médico. Quando chegam a uma Unidade de Atendimento, muitas têm vergonha de comunicar que sofreram violência doméstica, então tratam as lesões e voltam para casa. 

Isso ocorre pelo longo percurso que a mulher tem que fazer para denunciar o agressor. Primeiro ela vai a um Hospital tratar as lesões, depois tem que se dirigir a uma Delegacia de Polícia para registrar o boletim de ocorrência, em seguida vai ao IML fazer o Exame de corpo de delito (traumatológico, sexológico, etc). Tudo isso concorre para que a mulher fique fragilizada e perca a coragem de denunciar, ficando apenas no tratamento das lesões. 

Visando o fortalecimento e o resgate da autoestima das mulheres, foi aberto no dia 14/07/16, o Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência, no Hospital da Mulher do Recife (HMR), no Curado. O serviço é o único no País a oferecer à vítima de agressão uma linha completa de atendimento, que vai do médico até a perícia do IML. A mulher receberá toda a assistência de saúde, com acolhimento e preservação de sua identidade; mas também o registro policial e a perícia do legista. Todo o atendimento realizado no mesmo local por equipe de profissionais especializados fará com que a mulher se sinta mais segura e respeitada, além de fortalecê-la pra que denuncie o agressor. 

A FORMA E LOCAL DE FUNCIONAMENTO DO CENTRO

O Centro já está funcionando em um anexo ao Hospital da Mulher, justamente para manter a confidencialidade necessária nesses casos  e vai receber as usuárias 24 horas por dia durante todos os dias do ano, por demanda espontânea. Para ser atendida, a vítima precisa apenas ir até o serviço. 

Viabilizando o trabalho, foi feita uma parceria entre a Prefeitura do Recife e o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Defesa Social para transformar a prova do crime num laudo pericial. Alguns exames que só eram realizados se a mulher denunciasse e fosse ao IML também será realizado no Centro, que fará exame sexológico, amostra de DNA e demais coletas para provas periciais.

HUMANIZAÇÃO E ESTRUTURA FÍSICA DO CENTRO, ESSE É O DIFERENCIAL 

De acordo com o site da Prefeitura do Recife, o respeito e acolhimento à mulher vítima de violência foram pensados até mesmo na concepção do projeto do espaço onde funciona o Centro. A entrada foi construída numa lateral da casa, poupando a mulher de exposição e constrangimentos. Na parte interna, chama atenção pinturas e frases de coragem e fortalecimento, feitas voluntariamente pelo artista plástico Rafa Mattos. 

A estrutura física conta com dois consultórios, salas para atendimento psicológico, serviço social e sala de atividades, além de duas suítes para as pacientes, quarto de repouso para os profissionais, banheiros, porto de enfermagem e recepção. No setor vão atuar sete médicos, seis enfermeiros, seis assistentes sociais, seis psicólogos, além de perito do IML e recepcionista. 

O Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência recebe o nome de Sony Santos, numa homenagem a ela que era militante do movimento negro, mestra em Vigilância em Saúde pela UPE, pesquisadora e referência tanto em saúde da população negra, quanto em violência contra a mulher e DST/Aids. Sony Santos, que era a coordenadora da Política da Saúde da População Negra da Secretaria de Saúde do Recife, faleceu em 12 de março deste ano.

A secretária da Mulher do Recife, Elizabete Godinho ressalta,  “Essa integração entre os serviços vai possibilitar um atendimento de qualidade e a execução integral do Plano Municipal de Enfrentamento à Violência, que prevê, no eixo de proteção, essa esfera do serviço em rede, com qualidade para suprir as necessidades de mulheres que precisam do acolhimento", 

Esse serviço é mais uma conquista das mulheres no combate à violência doméstica/familiar. A Rede de Enfrentamento à violência esta se ampliando e dando condições às mulheres de ter segurança para denunciar os agressores. Quando uma mulher procura um serviço e é atendida com respeito e dignidade, ela sente segurança para seguir em frente e dar o primeiro passo, denunciando. Além do Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência no Hospital da Mulher, existem os Centros de Referência nos municípios, Delegacia da Mulher, disque 180, etc. 

É muito importante que as mulheres que sofrem violência observem que existe uma estrutura formada que busca protegê-las de todos os tipos de agressões.  Na maior parte dos casos, as mulheres sofrem de forma silenciosa, sem que ninguém tenha conhecimento da dor e do sofrimento. Há muitos casos que quando os familiares e a polícia toma conhecimento, é tarde demais, a mulher já foi morta, vítima de um feminicídio que poderia ter sido evitado com a denúncia.

Por isso que falo com você mulher, que está sendo agredida psicológica, moral, físicamente, etc. Procurem se fortalecer, fale de sua dor para que as pessoas possam te ajudar. Você já esta tendo o conhecimento de que existe uma rede de proteção para lhe ajudar e lhe tirar de todo esse sofrimento. Nos Centros de Referência há psicólogos, assistentes sociais, advogados, toda uma equipe especializada para lhe orientar sobre os seus direitos. Mas não esqueça, você tem o direito de ser feliz e só você pode buscar essa felicidade. Então supere as sua dor e dê o primeiro passo, fale, denuncie. 

“VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA”

- Centro de Referência Clarice Lispector: (81) 3355.3008 / 3009 / 3010
- Centro de Referência da Mulher Maristela Just: (81) 3468.2485
- Centro de Referência da Mulher Márcia Dangremon: 0800.281.2008
- Centro de Referência Maria Purcina Siqueira Souto de Atendimento à Mulher: (81) 3524.9107
- Centro de Referência Dona Amarina: (81) 3551.2505
- Central de Atendimento Cidadã Pernambucana: 0800.281.8187
- Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal: 180
- Polícia: 190 (se a violência estiver ocorrendo)

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