A mulher e a lei

Três mulheres, três histórias de discriminação de gênero

Por Gleide Ângelo
Por Gleide Ângelo
Publicado em 16/05/2016 às 7:01
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Não existem profissão e cargo de homens e de mulheres. Existem profissões que podem ser ocupadas por quem tem competência para exercê-las, independente de sexo / Foto: Heudes Régis/JC Imagem

Não existem profissão e cargo de homens e de mulheres. Existem profissões que podem ser ocupadas por quem tem competência para exercê-las, independente de sexo Foto: Heudes Régis/JC Imagem

Caros leitores,   

No artigo de hoje falarei sobre a história de três mulheres fortes, determinadas, guerreiras, inteligentes que travam batalhas diárias contra a desigualdade de gênero, uma discriminação que julga a capacidade das pessoas pelo sexo. São três mulheres de histórias e realidades diferentes que sofrem do mesmo problema, o preconceito de gênero.

Conversamos com uma mulher com formação em Engenharia Elétrica, uma Torneira Mecânica e outra Mecânica Automotiva. Todas as três  tiveram formação em instituições de ensino reconhecidas pelo MEC, e com os devidos diplomas. Elas irão narrar o que sofrem no mercado de trabalho pelo fato de ter escolhido profissões historicamente ocupadas por homens. 

“A ENGENHEIRA ELÉTRICA VALÉRIA QUE NUNCA TEVE OPORTUNIDADE”

Engenheira Elétrica, que chamarei pelo nome fictício de VALÉRIA já está formada há 15 anos e trabalha em uma empresa multinacional. “trabalho na mesma empresa há 15 anos e nunca tive a oportunidade de ocupar cargos de chefia e direção. Sou a única mulher neste cargo, todos os outros cargos de engenheiros são ocupados por homens. Sempre que há curso de especialização custeado pela empresa, nunca fui convidada. Já existiram diversas ascensões funcionais no meu cargo, mas meu nome nunca foi citado. Sinto que por ser mulher, sou tratada de forma diferente, e não sou incluída nos maiores projetos da empresa. O sentimento que tenho é que não me acham com capacidade para projetos maiores, pelo fato de ser mulher. Quanto mais sofro discriminação, mais invisto em minha profissão. A impressão que eu tenho é que todos os dias tenho que provar que sou capaz de exercer a minha profissão, mas não vou me abater por isso, eu sou capaz ”.

“TORNEIRA MECÂNICA, JÚLIA TEVE MUITA DIFICULDADE DE CONQUISTAR O EMPREGO”

Com diversas especializações na área, chamarei pelo nome de JÚLIA a mulher que ousou a ingressar em uma área dominada por homens.  “A maior dificuldade em ingressar no mercado de trabalho já começava na seleção, a maior parte das empresas diziam claramente que as vagas de Torneiro Mecânico eram para o sexo masculino. Mesmo assim eu ia para as seleções de emprego e questionava. Ouvi muita gente dizer que por ser mulher, eu não tinha força física para exerce a profissão. Então eu via o tamanho da discriminação, pois para operar um torno, não precisa força física, precisa de técnica e conhecimento das regras de segurança, e isso eu tinha até demais, pois tinha especialização na área. Foi muito difícil conseguir uma oportunidade, até que um dia surgiu. Hoje trabalho em uma fábrica, onde sou a única mulher torneira mecânica. Muitos homens olham para mim e perguntam porque eu escolhi essa profissão. Infelizmente a discriminação ainda é muito grande, mas amo o que faço e não perco meu tempo com esses comentários”. JÚLIA encerra dizendo: “se tiver uma vaga para ascensão funcional, tenho certeza que o meu nome seria o último da lista, não por falta de competência, mas porque eles jamais colocariam uma mulher para chefiar os homens”. 

A MECÂNICA DE AUTOS, ELIZABETH NÃO CONSEGUIA CLIENTES, ELES SÓ QUERIAM SER ATENDIDOS POR HOMENS

Contrariando a vontade dos pais, que queria que ela fizesse o curso de Arquitetura, ELIZABETH disse que sempre gostou da área de mecânica, e sempre se interessou por motores de carros, por isso resolveu fazer o curso de mecânica de autos. “Conclui o curso e fiz diversas especializações na área. Eu tinha capacitação para consertar o motor de quase todos os tipos de carros. Mas sempre que abriam vagas em grandes concessionárias, o meu curriculum não era selecionado. Eu sabia que era pelo fato de eu ser mulher. Para não ficar sem trabalho, comecei a procurar emprego em pequenas oficinas, pois queria entrar no mercado de trabalho. Depois de muitas negativas, consegui ser contratada em uma oficina de médio porte. Depois que entrei nesse emprego é que tive a consciência da discriminação que a mulher sofre no mercado de trabalho. Muitos clientes diziam ao gerente que não queriam que eu consertasse o carro deles, que queriam apenas um mecânico do sexo masculino. Todos os dias minha competência era colocada em dúvida, por causa do meu sexo. Foi muito difícil eu conseguir conquistar meu espaço naquela oficina, pois eu tinha que provar que “apesar” de ser mulher, eu tinha competência. Mas, com o tempo e profissionalismo, fui superando esses obstáculos. Toda vez que conseguia um emprego melhor, tinha que começar de novo a provar que “apesar” de ser mulher eu tinha competência profissional. Vivemos em uma sociedade machista, onde a mulher não pode escolher a profissão que gosta”. 

Analisando o relato dessas três mulheres, observamos o quanto a sociedade brasileira ainda tem que evoluir em relação ao combate à discriminação de gênero. Não existem profissão e cargo de homens e de mulheres. Existem profissões que podem ser ocupadas por quem tem competência para exercê-las, independente de sexo. Há cada vez mais mulheres bem formadas, informadas e capacitadas. Há uma massa crítica competente saindo das universidades. O número é cada vez maior de mulheres no ensino superior. Precisamos, agora, que o mercado de trabalho esteja aberto e preparado para recebê-las em condições de igualdade em relação aos homens. Quando tivermos direitos iguais, teremos uma sociedade justa e igualitária.

NÃO DESISTA DOS SEUS SONHOS. VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA!

EM QUAIS ÓRGÃOS BUSCAR AJUDA:

Centro de Referência Clarice Lispector – (81)3355.3008/ 3009/ 3010

Centro de Referência da Mulher Maristela Just - (81) 3468-2485

Centro de Referência da Mulher Márcia Dangremon - 0800.281.2008

Centro de Referência Maria Purcina Siqueira Souto de Atendimento à Mulher – (81) 3524.9107

Central de atendimento Cidadã pernambucana 0800.281.8187

Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal - 180

Polícia - 190 (se a violência estiver ocorrendo)

 

 

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