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Na pandemia, crianças mais vulneráveis tiveram metade do aprendizado esperado

Tatiana Notaro
Tatiana Notaro
Publicado em 16/09/2022 às 9:32
Aulas remotas | Foto: Divulgação/ MCTIC
Aulas remotas | Foto: Divulgação/ MCTIC FOTO: Aulas remotas | Foto: Divulgação/ MCTIC

Com informações da Agência Brasil

Com o fechamento das escolas e a adoção de aulas remotas durante, as crianças na Educação Infantil aprenderam, em média, 65% do que geralmente aprendiam em aulas presenciais. Os resultados são de pesquisa inédita publicada nesta sexta (16) na revista Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação.

Esses 65% equivalem à perda de quatro meses de aula. Ainda segundo o levantamento, as crianças que vivem em situação maior de vulnerabilidade social foram as mais atingidas e alcançaram apenas 48% do esperado em aulas presenciais.

O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Durham University, na Inglaterra.

A pesquisa observou 671 crianças do segundo ano da pré-escola, com idades entre 5 e 6 anos, de 21 escolas da rede privada e conveniada na cidade do Rio de Janeiro. As conveniadas são escolas privadas parceiras da rede pública, que atendem alunos que não encontram vaga nessa rede.

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O estudo já estava em andamento quando a pandemia começou. A intenção, segundo o pesquisador e também autor da publicação Tiago Lisboa Bartholo, era medir os impactos de fatores de dentro e de fora da escola no desenvolvimento infantil. Para isso, eles avaliaram as crianças em 2019. Em 2020, com a pandemia, optaram por seguir a pesquisa e as avaliações, o que tornou possível comparar a aprendizagem de antes, com aulas presenciais, com a aprendizagem em aulas remotas.

O estudo tem mais dois relatórios já publicados, um deles sobre aprendizagem na educação infantil na pandemia em Sobral, no Ceará, e outro sobre o impacto da covid-19 no aprendizado e bem-estar das crianças.

Inédito no Brasil

Levantamentos que medem o impacto da pandemia no aprendizado dos estudantes foram realizados em outros países, mas esse é o primeiro feito no Brasil com foco na educação infantil.

Assim, os dados mostram quanto a interrupção das atividades presenciais nas escolas aumentou a desigualdade de aprendizagem durante o ano de 2020 e causou impacto sobretudo nas crianças de famílias com perfil socioeconômico mais baixo.

“A mensagem principal do estudo é que a educação infantil é importante, que é importante ter as crianças dentro da pré-escola. A pré-escola no Brasil é uma etapa obrigatória para crianças de 4 e 5 anos. Olha o que acontece quando a gente tira das crianças a possiblidade de frequentar presencialmente a etapa da educação infantil e como esse efeito é muito maior para quem é mais vulnerável”, diz a pesquisadora da UFRJ Mariane Campelo Koslinski, uma das autoras do estudo.

Mais recursos, menos perdas

Segundo a pesquisa, entre as crianças cujas famílias apresentavam perfil socioeconômico mais alto, as perdas de aprendizagem foram menores. Elas aprenderam, em média, 75% do esperado.

Noutras palavras, isso significa uma diferença média de três meses de aprendizado entre as crianças de maior e menor nível socioeconômico.

“É muito importante pensar em programas que vão lidar não só com a defasagem, mas com formas de promover mais equidade, já que a defasagem não foi igual”, ressalta Bartholo.

Impactos na alfabetização

As crianças participantes fizeram testes individuais em dois momentos: no início e no fim do ano letivo. Assim, foi possível medir o aprendizado delas ao longo dos respectivos anos letivos, 2019 e 2020, e compará-los. Os professores das escolas e os responsáveis pelas crianças também responderam a um questionário sobre o desenvolvimento infantil.

Os resultados mostram que as crianças que cursaram o segundo ano da pré-escola em 2020, a maior parte do tempo no formato remoto, aprenderam 66% em linguagem e 64% em matemática em comparação com o aprendizado em 2019.

Assim, a pré-escola é a etapa que antecede o ensino fundamental e os aprendizados ali influenciam o processo de alfabetização, que se iniciará na etapa seguinte. No teste feito pelos pesquisadores foi considerada, por exemplo, a identificação das letras e dos números.

“Crianças pequenas foram privadas de muitas coisas durante a pandemia, mas podem se recuperar. Para isso, precisamos de um bom diagnóstico de como as crianças estão retornando para a escola e de programas que sabemos que têm bons efeitos para recuperar a aprendizagem, como tutoria com grupos menores de crianças, principalmente aquelas que foram mais afetadas durante a pandemia”, diz Mariane.

A pesquisa, financiada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, ainda está em andamento. Por isso, os autores seguem coletando dados para estimar os impactos da pandemia em médio prazo, equivalente ao ano letivo de 2022.